O Homem de Nazaré
Nazaré, cidade onde Jesus Cristo teria vivido com os pais da infância aos trinta anos, fica no Distrito Norte de Israel. Situa-se a c. 95 km ao Norte de Jerusalém, c. 25 km ao Sudoeste do Lago Tiberíades ou de Genesaré (onde Cristo teria convocado os Apóstolos) e a 9 km ao Sul do Monte Tabor (onde teria havido a Transfiguração, Mateus 17:1-6). A principal rota entre o Egito e o interior da Ásia passa por Nazaré.
Pai e Filho (detalhe), de Corbert Gauthier.
A Infância de Cristo (c.1620), de Gerrit Van Honthorst.
Nazaré (1905), de Maurice Denis.
Obs: As duas pinturas abaixo utilizam efeitos simbólicos para fazer alusão à morte de Cristo na Cruz:
Cristo na Casa dos Pais (1849-50), de John Everett Millais. O Menino Jesus fere a mão no trabalho de carpintaria e recebe uma carícia da mãe, enquanto o primo, o profeta João Batista (à direita), observa o fato como um mau vaticínio.
A Sombra da Morte (1870-73), de William Holman Hunt. Nota-se a sombra do jovem Cristo em pose de crucificação, para a admiração de Maria (que abre o baú, no qual estão guardados os antigos presentes dos Magos, dentre eles a mirra que deveria ser usada no embalsamento do corpo de Jesus).
Os principais locais visitados por cristãos são a Fonte de Santa Maria (que data da época de Cristo) e a Basílica da Anunciação, que fica em um sítio onde no séc. III o imperador romano Constantino I ergueu uma igreja (a pedido da mãe, Santa Helena) marcando o lugar onde um arcanjo anunciou à Maria sua gravidez divina. Acredita-se também que naquele sítio a Sagrada Família teria residido. Eusébio, bispo de Cesareia (c.275 - 339) afirmou que o nome “Nazaré” vem da palavra hebraica netser (broto de planta), que simboliza a vida no meio do deserto. Por isso também é chamada de "Jardim da Galileia".
O Stonehenge fica em Wiltshire, na Inglaterra, e foi construído entre 3000 a.C. e 2000 a.C., tendo sido modificado eventualmente ao longo dos últimos cinco mil anos.
Entre os antigos habitantes da Gália (território da Antiguidade que corresponde, em maior parte, à França de hoje), viviam os semnothées ou semnothei, nome que significa "os adoradores de Deus". Por seus conceitos monoteístas da Divindade como Poder Supremo, eles se distinguiam dos povos pagãos. São considerados os ancestrais dos druidas: classes de "pessoas sagradas" nas extintas tribos celtas, surgidas há c.1900 a.C., cujo deus único chamavam de Oiw (pronuncia-se oyune).
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O que mais admira, porém, naquelas tribos nômadas e desprotegidas, é a fortaleza espiritual que lhes nutria a fé nos mais arrojados e espinhosos caminhos.
Enquanto a civilização egípcia e os iniciados hindus criavam o politeísmo para satisfazer os imperativos da época, contemporizando com a versatilidade das multidões, o povo de Israel acreditava somente na existência do Deus Todo-Poderoso, por amor do qual aprendia a sofrer todas as injúrias e a tolerar todos os martírios.
Quarenta anos no deserto representaram para aquele povo como que um curso de consolidação da sua fé, contagiosa e ardente.
Seguiu-lhe Jesus [invisível, como Espírito, pois só encarnou séculos depois], todos os passos, assistindo-o nos mais delicados momentos de sua vida e foi ainda, sob o pálio da sua proteção, que se organizaram os reinos de Israel e de Judá, na Palestina.
Todas as raças da Terra devem aos judeus esse benefício sagrado, que consiste na revelação do Deus Único, Pai de todas as criaturas e Providência de todos os seres.
O grande legislador dos hebreus trouxera a determinação de Jesus, com respeito à simplificação das fórmulas iniciáticas, para compreensão geral do povo; a missão de Moisés foi tornar acessíveis ao sentimento popular as grandes lições que os demais iniciados eram compelidos a ocultar. E, de fato, no seio de todas as grandes figuras da antiguidade destaca-se o seu vulto como o primeiro a rasgar a cortina que pesa sobre os mais elevados conhecimentos, filtrando a luz da verdade religiosa para a alma simples e generosa do povo.
As festas pagãs do Dies Natalis Solis Invicti (Nascimento do Deus Sol Invencível) já eram celebradas em Roma em 336 a.C. Essas comemorações eram voltadas a diversos deuses solares, a exemplo de Elah-Gabal (da Síria) e Sol (deus do imperador Aureliano).
OBS: O papa anterior a Libério, Júlio I (280-352), já havia indicado a data do Natal para 25 de dezembro, que só foi confirmada com seu sucessor e apareceu no Calendário Philocalos no dito ano 354. Isso tudo ocorreu graças ao Édito de Milão, em 313, quando o imperador romano Constantino, o Grande, deu fim à perseguição aos cristãos e garantiu tolerância a todas as religiões.
Por isso que desde o nascimento de Jesus (no séc. I), o Natal demorou mais de três séculos para ser estabelecido e oficializado pela Igreja.
Antes da Era Cristã, diversas nações já promoviam comemorações durante o fim e início das estações.
No Hemisfério Norte, o inverno inicia-se por volta de 21 de dezembro. Nesse período, de dias com pouca luz, havia diversos festivais para "garantir que o sol não desaparecesse para sempre". Tais celebrações hibernais eram as mais populares nas sociedades pré-cristãs. Com o tempo, as divindades pagãs foram substituídas pelo Cristo, o Sol do Mundo e da Humanidade.
Em homenagem a Saturno (saturnais ou saturnálias), divindade ligada à agricultura e colheita, comemorada do dia 17 a 23 de dezembro.
Reproduções modernas de um banquete ou festim romano.
Em homenagem a Janus ou Jano (1º de janeiro):
*Os romanos chamavam o primeiro dia de cada mês de "calendas", daí proveio o nome "calendário". Em latim, “porta” se diz janua. Não é por acaso que o nome do mês da "entrada do ano", janeiro, faz referência a "Jano": o deus das passagens, entradas ou portas.
**Quanto a esse aspecto da divindade, os primeiros missionários cristãos em Roma podem ter ressaltado semelhança entre Jano e Jesus Cristo. A data natalícia de Cristo, próxima ao fim do ano, substituiu a de Jano.
O Dia das Legiões (25 de dezembro):
Alto relevos de legionários romanos.
Baixo relevo do Arco de Tito (82 d.C.), em Roma, mostrando soldados romanos carregando os espólios de guerra após o saque e destruição do Templo de Jerusalém, em 70 d.C.
O Dia das Legiões, em 25 de dezembro, foi uma data importante no calendário cívico da Roma antiga. Em homenagem aos soldados que fizeram a grandeza do Império, com o espólio das nações dominadas, organizavam-se banquetes, músicas e danças em festejos públicos. O legionário romano, que retornava das campanhas militares com sacos cheios de riquezas (que em muitas vezes eram produtos de saques) antecedeu a figura do Papai Noel e seus presentes. Quando o cristianismo tornou-se a religião oficial, a burocracia eclesiástica tentou apagar os vestígios da antiga festa pagã, mas, por causa da enorme popularidade, a saída foi substituí-la pela comemoração ao nascimento de Cristo.
O relato abaixo lembra-nos da essência da festividade do Natal:
[BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da mitologia: a idade da fábula. Trad. David Jardim Júnior. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, 26ª ed., p. 16, com sublinhado]
Antiga escultura do deus Saturno.
A Saturnália era um festival romano em honra ao deus Saturno que ocorria no mês de dezembro, no solstício de inverno (era celebrada no dia 17 de dezembro, mas ao longo dos tempos foi alargada à semana completa, terminando a 23 de dezembro). As Saturnálias tinham início com grandes banquetes e sacrifícios; os participantes tinham o hábito de saudar-se com io Saturnalia, acompanhado por doações simbólicas. Durante estes festejos subvertia-se a ordem social: os escravos se comportavam temporariamente como homens livres; elegia-se, à sorte, um "princeps" - uma espécie de caricatura da classe nobre - a quem se entregava todo o poder. Na verdade a conotação religiosa da festa prevalecia sobre aquela social e de "classe". O "princeps" vinha geralmente vestido com uma máscara engraçada e com cores chamativas, dentre as quais prevalecia o vermelho (a cor dos deuses e, muitos séculos depois, de Papai Noel).
Segundo Pierre Grimal, Saturno é um deus itálico e seu culto foi importado da Grécia para Roma, como ocorreu com diversos outros deuses. Ele teria sido expulso do monte Olimpo por Zeus e se instalado no Capitólio, onde fundou um povo chamado Saturnia. Acredita-se também que foi acolhido por Jano, igualmente oriundo da Grécia. Seu reinado na região do Lácio ficou conhecido como a "Idade do Ouro", pela paz e prosperidade alcançadas. Segundo os relatos lendários, nesse período Saturno teria continuado a obra civilizadora de Jano e ensinou à população a prática da agricultura.
O NATAL... DE MITRA
Mitra, semelhante a Cristo, representava a luz, e veio trazer a benevolência, sabedoria e solidariedade aos homens. O culto chegou à Europa no século IV a.C. trazido da Ásia, quando as hordas de Alexandre, o Grande, retornaram de suas campanhas no Oriente. Os romanos respeitavam profundamente Mitra, e comemoravam a data com festas e troca de presentes.
O estudioso americano Joseph Campbell (1904-1987) notou interessantes semelhanças entre Cristo e o culto aos Mistérios de Mitra.
Portanto, missionários cristãos podem ter utilizado essas semelhanças, ligadas a figura do Cristo, a fim de ganhar a simpatia de gentios adoradores dos deuses mencionados.
Anno Domini (1883), de Edwin Long.
No Egito, terra para onde a Sagrada Família teria fugido, a fim de escapar do massacre ordenado pelo Rei Herodes (ver Mateus 2:16-18), os festins do solstício de inverno eram dedicados à deusa Ísis. Tal culto pagão também era popular em demais territórios romanos.
A Teoria do Computo é outra versão que explica a escolha do dia 25 de dezembro como sendo a data do nascimento de Jesus Cristo. Os primeiros cristãos acreditavam que Jesus teria vivido um número inteiro (perfeito) de anos, pelo que se fazia coincidir a data da sua morte com a da sua concepção. Contando-se nove meses depois de ser concebido (de forma divina no ventre da Virgem) ter-se-ia o dia 25 de dezembro. A data em que, segundo a Igreja medieval, se acreditava que Jesus teria sido gerado (em c. 4 a.C.) e morrido na cruz (em c. 29 d.C.) era 25 de março.
Porém, até o séc. XVI (surgimento do atual calendário gregoriano no Ocidente), comemorava-se o nascimento de Cristo em 7 de janeiro, de acordo com o antigo calendário juliano (criado por Júlio César em 46 a.C.), ainda em vigor para os cristãos da Igreja Ortodoxa do Leste.
AFINAL, QUAL É A VERDADEIRA DATA DO NASCIMENTO DE JESUS?
É pouco provável que Jesus tenha nascido no mês de dezembro. As Escrituras afirmam que quando Cristo nasceu haviam pastores com rebanhos nos campos. Os meses mais propícios estão entre março e setembro.
Boa Nova, de Corbert Gauthier
Anjo e Pastores, pintura de Carl Bloch
A época também era muito fria para que uma mulher em gravidez avançada viajasse até Belém, e de lá para o Egito com um recém-nascido.
Foto do filme The Nativity Story (2006)
Madona e Menino, de Corbert Gauthier
Quem determinou o Ano Domini (Ano do Senhor) ou Ano I foi o monge Dionysius Exiguus ou Dionísio, o Pequeno (c.470-c.540), no séc. VI.
Natural da Cítia Menor (atuais territórios da Romênia e Bulgária), Dionísio transferiu-se à Roma por volta do ano 500. Tornou-se tradutor das principais obras da Igreja medieval (importantes bases ao direito canônico), além de ter colaborado com as datas da Páscoa.
O papa João I (c.470-c.526) pediu a Dionísio que elaborasse um calendário com o cálculo dos ciclos pascais. Aproveitando a encomenda, o monge também estabeleceu um novo calendário, em oposição ao sistema alexandrino, da era diocleciana, fixando a data do nascimento de Jesus para 25 de dezembro (de acordo com a determinação do papa Libério, como vimos anteriormente) de 753 A.U.C (Anno Urbis Conditae: Ano da Construção da Cidade, ou seja, ano contado a partir da fundação de Roma). Declarou também o dia 1° de janeiro de 754 A.U.C o início do primeiro ano da Era Cristã.
Posteriormente, descobriu-se que o monge medieval era um excelente tradutor, porém não tão bom em cálculos históricos e astronômicos, pois fixou o nascimento de Jesus três anos após a morte de Herodes.
Públio Sulpício Quirinio ou Cirino (c.51 a.C.–21 d.C.) foi o governador romano de parte da Palestina. Sob sua administração, foi realizado um censo em diversas cidades incluindo em Belém (Lucas 2:1-2).
O evento aconteceu no ano 748 do calendário romano da época, o qual corresponde ao ano 6 a.C. (e pode ter durado mais de um ano).
O reinado de Herodes durou de 37 a.C até sua morte. Ficou conhecido pela crueldade: assassinou vários parentes, inclusive os filhos, e ordenou o Massacre dos Inocentes (Mateus 2:16-18, confirmando a profecia de Jeremias, em 31:15, porém sem comprovação histórica), o que, segundo o evangelista, teria forçado a fuga da Sagrada Família para o Egito. Mas também promoveu importantes obras (como vários aquedutos e o Segundo Templo em Jerusalém).
Segundo informações do historiador judeu Flávio Josefo (em Antiguidades Judaicas, livro XVII, cap. 6, § 4, item 167), ocorreu um eclipse lunar pouco antes do falecimento do monarca. Assim, utilizando cálculos astronômicos precisos, obtemos o ano de 750 A.U.C, ou seja, entre março e abril de 4 a.C. (logo após o referido eclipse).
A DATAÇÃO ACADÊMICA*
O historiador e professor britânico de História Antiga do New College, de Oxford, Robin Lane Fox, no livro "Bíblia - verdade e ficção" (1993), confirmou que o tradicional cálculo do nascimento de Jesus está errado, após estudos sobre documentos da época do Cristo e fatos narrados pelos evangelistas.
O professor Charles Perrot, do Instituto Católico de Paris, em entrevista à revista francesa Le Point, segundo amplo consenso de exegetas (comentaristas e intérpretes) bíblicos e dados numismáticos (cunhados em antigas moedas), astronômicos e textuais, Jesus nasceu um pouco antes da morte de Herodes I, que morreu provavelmente em 11 de abril de 4 a.C. Portanto, para Perrot, o Cristo veio ao mundo entre 7 e 6 a.C.
O professor e padre John P. Meier, que leciona o Novo Testamento na Universidade Católica da América, em Washington, escreveu no New York Times (21/12/1986), que Jesus nasceu por volta de 6 a 4 a.C.
O astrônomo brasileiro Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, do Observatório Nacional, divulgou em artigo do Jornal do Brasil (04/01/1982), após pesquisas realizadas com cálculos astronômicos atuais sobre o antigo calendário romano e textos históricos e bíblicos, que Jesus Cristo nasceu no ano 749 da fundação de Roma, não em 754 como determinou Dionísio, o Pequeno.
Portanto, Jesus deve ter nascido antes de 4 a.C.
*MONTEIRO, Gerson Simões. Materializações de Chico Xavier e outras recordações. Rio de Janeiro: Novo Ser, 2012, 1a ed., pp.66 a 69.
A AJUDA DA REVELAÇÃO ESPÍRITA
A exata data do aniversário de Jesus Cristo ainda é uma incógnita. Entretanto, o ano de nascimento, pelo menos a alguns espíritas e simpatizantes, é conhecido.
A psicografia de Francisco Cândido Xavier deu-nos uma informação significativa. No livro Crônicas de Além-Túmulo, 1ª edição de 1937, de autoria do Espírito Humberto de Campos, há a descrição dum diálogo do apóstolo João com o próprio Cristo. João teria revelado que Jesus teria nascido no ano 749 A.U.C.
Ora, se o Anno Domini ou Ano I, corresponde a 754 A.U.C e tendo em vista que não há ano zero no antigo calendário romano, basta seguir a sequência emparelhada com o nosso calendário ocidental atual (gregoriano): 753 A.U.C = 1 a.C, então, 749 A.U.C. = 5 a.C.*
Assim sendo, podemos afirmar que Nosso Senhor Jesus Cristo veio ao mundo cinco anos antes da contagem oficial da Era Cristã.
*Como podemos perceber, Jesus escolheu um ano correspondente à organização DECIMAL que herdamos dos romanos (cinco é múltiplo de dez), como vemos nas décadas, séculos, milênios, lustros e jubileus.
Fonte: Artigo de Haroldo Dutra Dias em A Caridade, Congregação Espírita Francisco de Paula, Rio de Janeiro: dez. 2009, p. 03.
[...] Se é impraticável a um Espírito humano, inteligente e dotado de consciência, encarnar em corpo de irracional [...] muito menos poderia um Cristo encarnar em corpo humano terrícola.
Para apresentar-se visível e tangível na superfície da crosta terráquea, teve o Cristo Planetário de aceitar voluntariamente intraduzível tortura cósmica, indizível e imensa, ainda que quase de todo inabordável ao entendimento humano [...].
[...]
O Cristo-Jesus, Senhor da Verdade e da Inteireza, foi o único Espírito absolutamente completo, com todas as suas faculdades plenamente desenvolvidas e em perfeito funcionamento, que se materializou totalmente na Terra, assumindo por inteiro a biologia e a morfologia de um Homem, com tudo o que compõe um organismo humano, sem faltar absolutamente nada, personificando o modelo físico e espiritual, perfeito por excelência, do Homo sapiens, na futura e mais elevada conformação biomentofísica que atingirá quando chegar ao seu mais alto grau de evolução terrestre. Foi por essa razão que Jesus se intitulou, com a mais plena verdade e a mais inteira justiça, O FILHO DO HOMEM. Não o fez por mera força de expressão; disse uma soleníssima verdade, da mais extraordinária significação, pois como Homem Ideal, perfeito e íntegro, ninguém teve, como ele, neste mundo, todos os sentidos funcionando em grau máximo.
[SANT'ANNA, Hernani T (pelo Espírito Áureo). Universo e Vida. Rio de Janeiro: FEB, 4a ed., 1994, pp.110-6]
NAS VÉSPERAS DO SENHOR
As forças do invisível, porém, não descansaram. Muitas lágrimas foram vertidas, no Alto, em vista de tão nefastos acontecimentos.
O Cristo reúne as assembleias de seus emissários. A Terra não podia perder a sua posição espiritual, depois das conquistas da sabedoria ateniense e da família romana.
É então que se movimentam as entidades angélicas do sistema, nas proximidades da Terra, adotando providências de vasta e generosa importância. A lição do Salvador deveria, agora, resplandecer para os homens, controlando-lhes a liberdade com a exemplificação perfeita do amor. Todas as providências são levadas a efeito. Escolhem-se os instrutores, os precursores imediatos, os auxiliares divinos. Uma atividade única registra-se, então, nas esferas mais próximas do planeta, e, quando reinava Augusto, na sede do governo do mundo, viu-se uma noite cheia de luzes e de estrelas maravilhosas. Harmonias divinas cantavam um hino de sublimadas esperanças no coração dos homens e da Natureza. A manjedoura é o teatro de todas as glorificações da luz e da humildade, e, enquanto alvorecia uma nova era para o globo terrestre, nunca mais se esqueceria o Natal, a "noite silenciosa, noite santa".
[XAVIER, p. 104]
AS RAÍZES DAS BOAS FESTAS
No ano novo do Império Romano, havia o hábito de enfeitar as residências com folhagens (inclusive de pinheiros) e de presentear crianças, pobres e escravos. Como podemos ver, os cristãos ainda praticam certos hábitos das festas pagãs de final de ano.
O pintor francês Nicolas Poussin (séc. XVII) usou como cenário de suas "adorações dos pastores" (vide os dois quadros acima) ruínas de antigos templos romanos transformados em igrejas.
Uma outra fonte sobre o costume de entregar presentes no Natal é de origem cristã:
Os Três Reis Magos do Oriente.
Adoração dos Magos (1501-06), de Vasco Fernandes.
Note a presença de um índio das Américas, à maneira de um rei mago, em visita ao Menino Jesus. Isso simboliza que Cristo veio ao mundo para salvar todas as nações, o que estimularia a catequização dos missionários cristãos, a exemplo dos jesuítas, aos povos pagãos recém-descobertos.
Segundo o Evangelho, presentearam o Menino Jesus com três substâncias que simbolizam os três valores do Messias. O ouro, trazido por Melchior, representa a realeza; o incenso, trazido por Gaspar, representa a divindade; e a mirra, trazida por Baltazar, simboliza a humanidade.
Nada há de errado em Jesus ter recebido tais presentes na vida real, mas também parece-nos lógico que eles devem ser vistos mais como símbolos ou metáforas do que presentes materiais.
O "Natal" dos Bárbaros
Yule é um termo arcaico, mas ainda usado em diversas culturas para designar o Natal entre países de raízes ou influências germânica e escandinava (a exemplo de Alemanha, Noruega e Dinamarca), e anglo-saxãs (como o Reino Unido, Canadá, EUA e Austrália).
Nas regiões nórdicas, o inverno é extremamente rigoroso, e a 21 de dezembro, após o solstício, acendiam enormes fogueiras para, conforme alegavam, auxiliarem o sol em sua luta contra as trevas.
Os primeiros missionários cristãos para converter os gentios adaptaram símbolos e costumes do Yule para o culto cristão do Natal. Assim, até hoje temos enfeites natalinos feitos de abeto, pinheiro, azevinho e visco; o hábito de reunir pessoas para comer pernil na ceia; dar presentes; dentre outros costumes de origem pagã nórdica. A palavra Yule Log (cepo ou lenha que era queimada nas fogueiras cerimoniais) ainda está ligada a época natalina em diversas culturas.
Segundo pesquisas de astrônomos modernos, a Estrela de Belém, que teria guiado os Reis Magos do Oriente, ao local onde Jesus nasceu, não era na verdade uma estrela, mas muito provavelmente uma conjunção de astros.
Entretanto, um fenômeno espiritual ou mediúnico poderia ter ocorrido, visto que somente os magos do oriente e alguns pastores avistaram a dita "estrela" sobre a humilde estrebaria. Vejamos:
A cidade de Belém fica na Cisjordânia (na margem oeste do rio Jordão) a 10 km ao Sul de Jerusalém. Na época de Jesus, a cidade pertencia à Judeia, uma das províncias romanas da Palestina.
A Basílica da Natividade é a mais antiga igreja consagrada do mundo. Foi construída pelo imperador bizantino Justiniano, no séc. VI, sob as ruínas de uma igreja erigida anteriormente pelo imperador romano Constantino, em 325 d.C. Em sua Cripta Sagrada há uma estrela de prata que, acredita-se, marca o lugar exato onde Maria teria dado à luz a Jesus. Arqueólogos descobriram cavernas no subterrâneo da Basílica que poderiam ter sido usadas como depósitos e estábulos particulares.
Foto colorizada de Belém, na Cisjordânia, por volta de 1900.
A origem da palavra “presépio” é latina (praesepe) e significa "manjedoura" ou "estábulo".
O primeiro presépio que se tem notícia surgiu em 1223, idealizado por São Francisco de Assis (1182-1226) em uma gruta na aldeia de Greccio (Itália). Foi uma feliz intenção do santo para reavivar a cena do primeiro Natal para o povo, ressaltando a extrema humildade em que nasceu o Senhor.
O presépio teria sido preparado com a ajuda de Giovanni Velita, amigo de Francisco, que adaptou uma pedra bruta fazendo-a de manjedoura, forrada de palhas, e acompanhada de animais de verdade, como o jumento e o boi. Porém, em respeito ao Senhor, não colocou nela nenhuma imagem de criança.
Ao cair da noite de 24 de dezembro do mencionado ano, Francisco ajoelhou-se em oração aos pés da manjedoura, e milagrosamente o Menino Jesus tornou-se visível, estendendo-lhe os bracinhos. A notícia espalhou-se, e daí por diante o uso de se armar presépios generalizou-se.
Hoje a pedra da manjedoura está sob o altar da capela da gruta de Greccio, e os restos desse presépio estão na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma (Itália).
A árvore ou pinheiro de natal surgiu na época de São Bonifácio (c.672 - 755). Esse monge nasceu sob o nome de Winfrid ou Wynfryth, natural da Inglaterra (bonifacius, em latim, significa "afortunado"). Foi apelidado de Apóstolo dos Germânicos.
Ele e seus missionários, por volta de 723, procuravam substituir o culto pagão nórdico (do norte da Europa) ao Carvalho de Thor ou de Odin (Odin foi uma espécie de Zeus da mitologia nórdica; Thor, deus do trovão, era um dos seus filhos).
Diz a tradição que Bonifácio impediu que um jovem, amarrado ao tronco, fosse sacrificado ao deus pagão (como era o costume). Depois ordenou que o carvalho fosse derrubado para a construção de uma capela (outra versão da lenda diz que a árvore foi tombada por um raio, quando o santo invocou Deus, fato que favoreceu a imediata conversão de vários gentios).
Entretanto, como o culto estava muito arraigado na cultura nórdica, Bonifácio teria criado o pinheiro ornamentando os festejos do Natal de Jesus Cristo, pois (dizem) a forma piramidal dessa árvore lembrava o formato dos montes, nos quais o carvalho ficava no alto.
Em 22 de dezembro de 1882, surgiu a primeira árvore de natal enfeitada com luzes elétricas (uma invenção que surgiu três anos antes). Edward Hibberd Johnson (1846-1917) - inventor, amigo e sócio de Thomas Edison (na Edison Electric Light Company) - montou a árvore em sua residência em Nova Iorque (EUA). O fato se tornou um ótimo marketing para a companhia, pois a partir daquele ano todos passaram a querer enfeitar suas casas com luzes elétricas coloridas no Natal.
Meu vídeo da inauguração da árvore de natal da Lagoa Rodrigo de Freitas (Rio de Janeiro-RJ):
http://www.youtube.com/watch?v=6vQBDQdzj9k
http://www.youtube.com/watch?v=3YRQf-_Q2f8
Devido a influência européia e norte-americana em nossa cultura, alguns alimentos tradicionais das ceias de fim de ano dos brasileiros são originários do Hemisfério Norte. Muitos desses alimentos além de caros (por serem importados) são altamente calóricos e inadequados para o verão tropical do Brasil, que começa justamente em dezembro.
Tomemos o exemplo do peru (nome comum de aves nativas da América do Norte e Central, do gênero Meleagris).
O hábito de comer peru na ceia de natal é recente no Brasil. O costume veio sobretudo dos EUA, onde a ave é um prato típico do Thanksgiving Day (Dia de Ação de Graças), que acontece em fins de novembro (mesma época na qual os americanos começam a enfeitar o lar para o Natal). Em inglês, ele é chamado de "turkey" (turquia), pois os primeiros colonizadores da América compararam-no com a galinha-da-guiné (nome comum de diversas espécies de aves da família Numididae, a exemplo da galinha-d'angola), que vinham da África e Ásia à Europa, através da Turquia. Na época do descobrimento da América, também era chamado de galinha-da-índia, pois pensava-se que vinha das Índias.
Em nossa língua a ave é chamada de "peru", talvez porque no século XVI acreditava-se que era procedente daquele país andino (donde era exportada para Portugal). Além do mais, segundo relata o historiador português José Pedro Machado (1914-2005), a fama do Peru era tal (por suas minas de prata) que, metonimicamente, entre os portugueses, o nome também passou a designar toda a América espanhola.
A produção industrial brasileira do peru, e depois de outras aves típicas das Festas, só começou na década de 1960. Anteriormente não se costumava servir aves à ceia de fim de ano, pois se acreditava que trazia má-sorte, já que elas ciscam para trás.
No Brasil, o bacalhau é um alimento mais consumido em dois feriados religiosos: Semana Santa e Natal.
Os vikings (da Islândia e Noruega) e espanhóis são considerados os primeiros povos descobridores do bacalhau, que era farto nas águas em que navegavam. Eles apenas secavam o pescado ao ar livre até que perdesse 1/5 da parte do peso natural e endurecesse para ser consumido aos pedaços durante as longas viagens marítimas.
Mais tarde os bascos (da fronteira entre a França e Espanha atuais) iniciaram o comércio do bacalhau curado, salgado e seco.
Bacalhau do atlântico (Gadus morhua)
O peixe foi introduzido no Brasil pelos portugueses que o consumiam desde o século XV (costume herdado dos espanhóis), época das grandes navegações. O bacalhau se adequava às necessidades da época: um produto pouco perecível, que mantinha suas características gustativas após aguentar longas jornadas.
Uma espécie de bacalhau (gênero Gadus).
Em Portugal, esse alimento era acessível a uma parte da população que raramente podia comprar peixe fresco. O sabor é mais agradável do que o de outros pescados salgados. Diferente dos brasileiros, os portugueses o consomem durante todo o ano.
No início do séc. XX, o panetone começou a se difundir para outros lugares. Em 1919, Angelo Motta foi um dos precursores da produção do panetone industrializado atual. Por volta de 1925, Gioacchino Alemagna também foi um dos criadores do panetone moderno. Após a Segunda Guerra, imigrantes italianos levaram o pão natalino para países sul-americanos como Brasil, Argentina, Chile e Peru. Neste último, Antonio D’Onofrio (filho de italianos) foi um dos primeiros a criar uma marca própria fora da Itália.
A rabanada é um prato europeu e chegou ao Brasil através dos portugueses. Em outros países, esse alimento não é consumido apenas no Natal, a exemplo de Portugal (onde também é chamado de fatia-de-parida). Na América do Norte, Europa e Hong Kong, a rabanada (ou o similar dela, visto que há variadas receitas) é servida no café da manhã. O prato possui várias denominações pelo mundo: na Espanha é chamada de torrijas (torradas); na Itália, suppe dorate (fatias douradas); na Alemanha, armer ritter (cavaleiro ou nobre pobre); na França, pain perdu (pão desperdiçado) etc. Além do termo italiano, no Reino Unido há três nomes: poor knights of Windsor (pobre cavaleiro de Windsor), eggy bread (pão de ovo) e gypsy toast (torrada cigana). A rabanada chegou aos EUA pelas mãos dos franceses e se chama french toast
A canela é um dos ingredientes indispensáveis da rabanada, pois é o que dá o aroma e sabor característicos desse prato típico do Natal. A canela em pó provém da casca pulverizada da árvore Cinnamomum verum, nativa da Índia, Sri Lanka, Bangladesh e Nepal. O produto é comercializado entre povos há quatro mil anos. Os portugueses detiveram o monopólio da canela entre os séculos XVI e XVII. A principal colônia asiática de Portugal para tal produção era o Sri Lanka, que antes chamava-se Ceilão. Por isso, o nome científico da canela na Europa e América Latina é Cinnamomum zeylanicum.
O (NÃO TÃO) BOM VELHINHO
Na Idade Contemporânea (a partir da 1ª Revolução Industrial, no séc. XVIII), sobretudo no Natal do Ocidente, a figura cristã do Menino Jesus foi substituída pela comercial de Papai Noel.
A personalidade de São Nicolau Taumaturgo (c.270 - c.343) - Bispo da cidade de Mira, no Leste da atual Turquia - há séculos é venerada.
Nasceu provavelmente em Petara, no litoral sudoeste turco. Apesar da boa índole, Nicolau aparentemente foi um homem de personalidade forte. Sob o império de Diocleciano, esteve no cárcere por recursar-se a abjurar a fé ao Cristo.
Após a subida de Constantino I ao trono (o primeiro imperador cristão), Nicolau voltou a sofrer oposição, desta vez de setores do próprio clero cristão, que repudiavam a (suposta) intensão de Nicolau em doar os bens da Igreja aos pobres.
Dizem que, durante uma reunião de eclesiásticos, chegou a esbofetear um antagonista. O incidente gorou as chances de Nicolau em ser eleito papa. O santo, porém, continuou a auxiliar os mais necessitados até o fim da vida.
Há inúmeras estórias contando feitos que São Nicolau protagonizou quando vivo e até mesmo depois de morto (o termo “taumaturgo” designa “milagroso”), como resgatar uma criança perdida na floresta, salvar um barco dum naufrágio e distribuir pães aos pobres (por isso ele é santo protetor das crianças, marinheiros, padeiros e demais pessoas).
Um dos feitos que relacionam ele ao costume de dar presentes é a história que afirma que o santo salvou da prostituição as filhas de um mercador falido: jogou sacos com moedas de ouro na janela delas, que serviram de dote para o casamento.
A partir da 2ª Guerra Mundial (1939-1945), o Brasil passou a receber forte influência cultural dos EUA, inclusive quanto aos festejos natalinos:
Papai Noel é chamado na Inglaterra de Father Christmas. No Brasil, o nome veio de sua denominação francesa: Père Noël. Os portugueses traduziram ambos os termos e chamam-no de Pai Natal. Colonos holandeses e germânicos levaram a figura natalina de São Nicolau para a América do Norte, a partir do séc. XVII. E do nome holandês Sinterklaas e do germânico Nikolaus surgiu o americano Santa Claus.
Nas regiões germânicas ele também é chamado de Weihnachtsmann (Homem Natal) ou Kris Kringle.
Como podemos ver pelos trajes pesados e quentes de Noel, tal figura está mais adaptada ao Natal dos países da Europa e América do Norte (onde nessa época do ano há neve) do que aos países de clima bem mais quente igual ao nosso.
Papai Noel, para várias culturas, não é um "monopólio" quando o assunto é um personagem que entrega presentes no Natal.
Algumas características de Papai Noel são o resultado do sincretismo religioso entre crenças pagãs e cristãs iniciado séculos atrás. O historiador romano Tácito (c.56 – c.117) documentou em sua obra “Germânia” o culto à deusa da fertilidade Hertha ou Nerthus dos povos teutões (ancestrais dos alemães), a qual aparecia na lareira e trazia boa sorte aos lares. Daí veio a crença de Papai Noel descer pela chaminé das casas para deixar presentes ao pé da árvore de natal ou dentro das meias dependuradas na lareira.
Uma das origens do trenó de Papai Noel puxado por renas voadoras veio da mitologia das nações bárbaras do Norte da Europa (a exemplo dos vikings). Os povos daquela região associavam a chegada do inverno com a vinda da carruagem do deus Thor, que era puxada por duas renas chamadas Cracker e Gnasher.
O Bom Velhinho do Natal possui certas características mágicas de deuses pagãos nórdicos, como no caso de Odin Andarilho ou Viajante, que, durante o inverno rigoroso, entrava e saia de recintos fechados (como nos lares) sem ser percebido.
Outro folclore pagão que pode ter influenciado o mito das renas voadoras do Papai Noel é a lenda siberiana das Renas Celestes de Seis Patas. Conta-se que no início dos tempos um caçador conseguiu laçar uma delas. Porém, como ele usava esquis, foi arrastado pela rena que levantou vôo. Podemos ver eles no céu do Hemisfério Norte: a Estrela Polar é o caçador, a Constelação de Plêiades é a rena, e a Via Láctea é o rastro dos esquis.
O Papai Noel que conhecemos foi criado oficialmente nos EUA em 1823 pelo pastor e poeta Clement Clarke Moore (1779-1863), que descreveu suas vestes e trenó em um poema intitulado “A Visit from St. Nicholas” (Uma Visita de São Nicolau) publicado no periódico nova-iorquino “Troy Sentinel”.
A publicidade também ajudou a difundir a imagem do Papai Noel. O Velhinho e suas roupas vermelhas (que possuem grande atração visual) foram utilizados por uma famosa fábrica americana de refrigerantes: em 1930, uma propaganda divulgou pela primeira vez a figura de Noel bebendo o refrigerante na revista nova-iorquina Saturday Evening Post.
E assim Papai Noel se tornou um excelente garoto-propaganda para o capitalismo moderno no Natal. Ele ajuda a atrair, por exemplo, famílias (consumidores) para os shopping centers como se vê nas campanhas publicitárias.
A Igreja protestava contra a paganização do Natal e o crescente protagonismo de Santa Claus.
No Natal de 1951 comemorou-se o último auto de fé na Europa. A fogueira se acendeu em frente a catedral de Dijon, uma bela cidade do norte da França, apesar de a vítima não ser nem um herege nem uma bruxa, mas uma criatura que aos poucos ia se impondo no espírito do continente: Papai Noel. O grande antropólogo francês Claude Levi-Strauss escreveu um texto sobre aquela estranha cerimônia intitulado ‘O suplício de Papai Noel’
A ideia de queimar Santa Claus em público em 23 de dezembro de 1951 veio de uma estranha união entre as igrejas católica e luterana como “protesto pela crescente paganização das festas” ...
... o sucesso desse idoso bonachão se deve a que “nas sociedades os ritos de iniciação têm uma função prática”. Nesse caso, a chantagem a que são submetidas as crianças que receberam presentes em troca de seu bom comportamento durante o ano ...
... Não havia cartões de Natal na Inglaterra de 1843 [1ª pub. de A Christmas Carol, de Charles Dickens], não havia árvores de Natal nas residências reais, as empresas não fechavam por uma semana, nem se celebravam tantas missas à meia-noite. Para a igreja anglicana, todo o tema do Natal tinha um gosto distante de paganismo”, ...
... o pagão e o religioso, o sagrado e o profano, estão unidos nessas festas que nunca conseguiram se separar de sua origem mais remota, o sol invencível. Depois de meses de dias cada vez mais curtos e noites intermináveis, o solstício de inverno marca o princípio de um novo tempo. Nenhuma outra festa reflete uma mistura tão profunda e remota de costumes e ritos, aos quais vão se incorporando todo tipo de novos mitos.
Antonio Rodrigues
(Rio de Janeiro - RJ, 1918 - 1990)
O Papai Noel do Maracanâ
Carioca de Vila Isabel, Antonio Rodrigues foi entregador de marmita, afinador de pianos da Escola Nacional de Música e motorista de ônibus da linha Muda- Copacabana.
E foi ao volante da lotação, que Antonio decidiu a melhor maneira de ajudar as crianças: Se tornando o “bom velhinho”.
Em 1952, encontrou vaga de Papai Noel nas Lojas Americanas de Copacabana, com um salário de 150 cruzeiros. Ao vestir a roupa natalina, não resistiu a emoção e chorou. As lágrimas destruíram a maquiagem e ele começou na função uma hora depois do combinado.
Dez dias depois, sabendo que a Legião Brasileira de Assistência faria uma grande festa no Maracanã, procurou a primeira-dama, Darcy Vargas, e ofereceu-se para ser o Papai Noel.
Assim , em 22 de dezembro de 1952 , Papai Noel descia pela primeira vez de helicóptero no estádio cheio de crianças.
Homenagem:
Em 1958, o prefeito do Distrito Federal, José Joaquim de Sá Freire Alvim, lhe concedeu o título oficial da cidade;
Em 1959, o Presidente Juscelino Kubitschek concedeu-lhe o título de Papai Noel Oficial do Brasil;
Em 1963, ele ganhou a carteira de identidade número 505520 do Instituto Félix Pacheco, com o título incorporado ao nome.
Curiosidade: Foi recebido pelo Papa João XXIII, orou na Igreja de São Nicolau e jurou no túmulo do santo que inspirou a legenda do Papai Noel, que “Todos os anos plantaria a bandeira da inocência, amor e paz na terra”.
Foi casado por 53 anos com Dona Naílda, tendo uma única filha que morreu logo após o nascimento.
Morou por muitos anos na famosa casa amarela na rua Maxwell, 20-B, onde os Correios - que sabiam de cor esse endereço – entregavam todas as cartas destinadas ao Papai Noel.
Ao longo de 38 anos reuniu milhões de pessoas no Maracanã pra assistir à sua chegada.
Morreu em 20 de novembro de 1990, aos 72 anos, de câncer.
Fonte: Marcello Ferreira (Texto com referência no Blog Nossos Vizinhos Ilustres, de Gilda Boruchovitch e Elizabeth de Mattos Dias) e Revista Veja Edição n° 1158 – 1990 | Foto: Blog Nossos Vizinhos Ilustres, Jornal O Globo e Jornal Correio da Manhã, Edição 23506/1969
Patinete no Morro
(1954)
Papai Noel
Não sobe na favela
O morro também
Tem garotada
Eu botei o meu tamanco
Na janela, e de manhã
Não tinha nada
Patinete lá no morro
É um cabo de vassoura
E tampa de goiabada
E é assim
Que vai crescendo
O cidadão
Vendo morrer
Ilusão sobre ilusão
Você condena
Sem pedir perdão ao céu
É triste um garoto pobre
Crescer sem Papai Noel
Samba de Luís Antônio lançado na voz de Marlene:
http://www.youtube.com/watch?v=3W1UhUhcGJ0
Famosa charge de Henfil.
Devemos explicar aos poucos que Papai Noel é apenas uma personagem fantasiosa (como nos desenhos animados), pois quem entrega os presentes de natal são as pessoas que gostam uma das outras (inclusive a própria criança pode participar da entrega). Dizer que o Natal é a celebração dos cristãos (lembrar que existem outras crenças) pelo nascimento de Jesus e não a chegada de Papai Noel.
Se Jesus tivesse nascido hoje, vindo de uma família muito pobre, é provável que novamente passaria desapercebido em uma sociedade que dá mais valor aos bens materiais do que aos espirituais.
Além disso, explicar que o Natal não é APENAS dar e receber presentes comprados no comércio. Pois há outros presentes muito mais importantes como a amizade, solidariedade, caridade, perdão, concórdia, cooperação, carinho, enfim, o amor em várias vertentes que pode ser praticado por pessoas de qualquer religião.
O apelo ao consumismo é tão forte na época natalina, que esquecemos a prática da fraternidade cristã para qual a data foi criada.
Devemos falar de presentes que não se encontram nas lojas. Algo que pode ser produzido no interior das pessoas para depois ser materializado nos relacionamentos sociais.
A palavra “Natal” é originária do latim e significa natividade ou nascimento. Em inglês, Christmas surgiu de Christemasse ou Christ Mass (Missa de Cristo), que é o culto cristão promovido na noite da Véspera de Natal (entre 24 e 25 de dezembro). Em alemão é Weihnachten, "Noite Bendita".
Um verdadeiro Feliz Natal e um Ano-Novo cheio de realizações a vocês e seus entes queridos!