SANTO ANTÔNIO NUNCA FOI CASAMENTEIRO

A FALTA QUE ANTÔNIO NOS FAZ

O dia 13 de junho, do santo católico Antônio de Pádua, dá início ao período das Festas Juninas. Esse é um ótimo ensejo para falar sobre esse grande homem.


Sant'Antonio di Padova (nome em italiano), ou Santo Antônio de Lisboa, foi batizado como Fernando Martim de Bulhões. Nasceu em Lisboa, Portugal, em 15 agosto de 1195, e faleceu em Padova ou Pádua, Itália, em 13 junho 1231.

Antônio tornou-se conhecido como santo casamenteiro e suas imagens são vítimas das chantagens de moças casadoiras desesperadas. Só que nada de real na vida dele explica porque se tornou santo das mulheres "encalhadas". Nada, apenas lendas populares.


Uma imagem do Convento de Santo Antônio, Rio de Janeiro-RJ

Fotos da festa do santo patrono em 13 de junho de 2010.



O Convento de Santo Antônio, Rio de Janeiro-RJ, foi fundado em 1608.
A maior parte do Morro de Santo Antônio foi derrubada entre os anos 1940 e 60 para a abertura da avenida Chile. O terreno pertencente ao convento (bem menor do que era no passado) é o que restou da colina.

Aqui pode se ver e ler as transformações do convento e do local (região do Largo da Carioca e adjacências) ao longo da história: http://portalgeo.rio.rj.gov.br/EOUrbana/LargoDaCarioca_txt.htm

Antônio era um político bom e exemplar. Lutava contra a opressão. Pregava a mensagem do Cristo. Optou por viver em meio aos pobres para melhor amá-los. Condenava o luxo e hipocrisia do clero. Enfrentava inimigos poderosos. 


Santo Antônio de Pádua distribuindo Pão aos Pobres (c.1662), 
de Willem van Herp, o Velho.


Os Pãezinhos de Santo Antônio são distribuídos ou vendidos nas quermesses de 13 de junho. Segundo a crença popular, não devem ser consumidos, mas guardados ao longo do ano (num pote com a farinha, por exemplo) a fim de garantir fartura ou para que não falte comida no lar. 
Reza a lenda que os pães haviam acabado durante uma distribuição aos pobres. Ao ser notificado por um frade, Antônio ordenou que trouxessem-lhe o cesto quase vazio que estava no refeitório da ordem. Eis que, para a surpresa de todos, o cesto, milagrosamente, estava abarrotado de pães.

A situação atual não é muito diferente da época em que Antônio viveu, na Idade Média. Matanças, opressões, injustiças, miséria são bem conhecidas dos brasileiros. Precisaríamos de muitos antônios, que exemplificassem a virtude, o combate ao mal, o amor do Cristo.


VIDA e OBRAS

O menino Fernando surgiu no seio das famílias Bulhões e Taveira, fidalgos que vieram das terras castelhanas com o primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques ou Afonso I, quando Lisboa foi tomada dos mouros ou islâmicos em 1147.

Fernando desde pequeno manifestou propensão à vida espiritual. Até os 15 anos, estudou na Sé de Lisboa na qualidade de moço do coro. Em 1211, deixou a cidade natal e tornou-se noviço dos frades agostinhos do povoado de São Vicente de Fora.

No ano seguinte, em busca de maior tranquilidade, transferiu-se para um retiro: o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, onde estudou filosofia e teologia. Contudo, o luxo e a riqueza dos agostinhos incomodaram os seus ideais, pois admirava a vida do Poverello ou Pobrezinho, o inesquecível Francesco ou Francisco de Assis, contemporâneo seu.

Em 1217, a rainha, D. Urraca, fundou no logradouro de Olivais (Coimbra, Portugal), um convento que hospedou cinco frades franciscanos famosos pelo fervor na pregação cristã. Nesse mesmo local, em 1220, aos 25 anos, Fernando tomou o hábito franciscano sob o nome de Antônio, em homenagem ao santo padroeiro do eremitério de Olivais, o mesmo que, nos séculos III e IV, instituiu a vida monástica: Antão ou Antônio do Egito. 

Antônio de Pádua foi apenas médium, verdadeiro e incorruptível, como indica o nome que escolheu, formado do grego: Anti = contra, e onios = venal: Antônio, que não é venal.

[CASTRO, Almerindo Martins de. Antônio de Pádua: sua vida de milagres e prodígios. Rio de Janeiro: FEB, 1987, 7ª ed., p. 78]

Os cinco frades citados partiram em missão ao Marrocos, onde foram martirizados pelos islâmicos (morte causada mais pela imprudência e intolerância dos próprios religiosos cristãos, do que pela maldade dos mouros). Comovido pelo sacrifício dos irmãos, o recém-frade Antônio, depois de muita insistência, zarpou para o norte da África, mas adoeceu gravemente logo que desembarcou; parecia que esse não era o destino reservado a ele por Deus.


A execução dos franciscanos no Marrocos incentivou a partida de Antônio de Portugal para o Norte da África.

Quiseram enviá-lo à Espanha, para que pudesse restabelecer-se, porém, numa época em que ainda não havia bússolas, seu barco foi parar na Sicília (Itália). De lá, chegou à Messina, onde convalesceu por dois meses.

Sabendo que haveria um capítulo ou assembleia geral de religiosos em Porziuncola ou Porciúncula, sede dos frades menores ou franciscanos, Antônio implorou e conseguiu que o levassem à sagrada cidadezinha de Assisi ou Assis, pois, mesmo estando fraco, desejava ver o querido irmão Francisco.


Estátua de Santo Antônio em Lisboa. Ao fundo, fachada do santuário que leva o seu nome, erguido sobre o terreno da casa onde nasceu.



O complexo arquitetônico da Ordem Franciscana em Assis (Itália). Na Basílica de Santa Maria dos Anjos está a capela de Porciúncula, primeira sede dos franciscanos, erguida no início do século XIII.


Detalhe do afresco sobre Francisco de Assis (c.1182-1226) de c.1228 (ano da canonização), no Monastério do Sacro Speco, em Subiaco (Itália), talvez o retrato mais fiel devido a proximidade temporal.

Após a assembléia, onde mal foi notado, frei Graciano, seu protetor, o levou a uma ermida próxima à Rimini. Apesar do vasto conhecimento, o frade menor Antônio, agora radicado em terras italianas, preferia o silêncio enquanto trabalhava humildemente na ordem; auxiliava na cozinha, onde poucos notavam a presença dele.

Certo dia, na cidade de ForIi, franciscanos e dominicanos foram convidados para uma reunião. Estando todos no refeitório, foram convocados a falar. Ninguém aceitou a tarefa, até que o prelado intimou Antônio a fazer a palestra. Diz o que o Espírito Santo sugerir, aconselhou-lhe o superior. Foi a deixa para que o pequeno frade tornasse pública sua interação mediúnica com o Alto.


O jovem franciscano português revelou-se brilhante. Maravilhou a todos com seu conhecimento das Escrituras e o sentimento com que pregava a palavra do Cristo. Desde então ficou conhecido como grande orador, e espalhou a doutrina do divino Mestre por terras italianas e francesas, sobretudo após a partida, para a Pátria Celeste, do Poverello Francisco, em 1226, quando Antônio tinha 31 anos.


O santo de Pádua é conhecido pelos seus muitos prodígios, realizou fenômenos mediúnicos, pois foi um incrível médium de efeitos físicos, auxiliado por Espíritos benfeitores sob o comando de Jesus. Tais fatos são chamados de "milagres" pela Igreja Católica e por leigos da Ciência Espírita.

Antônio de Lisboa ou de Pádua foi médium dos maiores: médium de materialização, de efeitos físicos, vidente, de transporte, de transfiguração, de curar, inspirado, audiente, de transmissão de fluidos, profético.

[CASTRO, pp. 31-2]

Curou paralíticos (vide A Gênese, de Allan Kardec, cap. XIV, sobre fluidos magnéticos curadores. O maior de todos os médiuns de cura foi Jesus Cristo), afastou obsessores, converteu ladrões, pregou aos peixes. Quando falava às multidões - algumas vezes mais de 30 mil pessoas se reuniam para ouvi-lo -, assemelhava-se ao Cristo nos montes da Terra Santa: era escutado a distâncias impressionantes (em O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, encontramos esclarecimentos sobre a pneumatofonia, nos itens 150 e 151, que é um fenômeno mediúnico que envolve a produção de sons, inclusive vocais, através de médiuns de efeitos físicos e Espíritos desencarnados. Seguindo esse raciocínio, pesquisas espíritas falam sobre a produção de "laringes ectoplasmáticas" que poderiam funcionar como "alto-falantes invisíveis").


Pintura: "Santo Antônio pregando aos peixes" (c.1630), 
atribuído a Francisco de Herrera, O Velho.


Detalhe da pintura Santo Antônio pregando aos peixes (1892), de Arnold Böcklin.


Quando estava em Rimini (Itália), diz a lenda que Antônio foi ignorado pelos cidadãos incrédulos. Dirigindo-se às margens do Mar Adriático, e provavelmente inspirado nas palavras do Cristo: ... "pregai o Evangelho a toda criatura" (Marcos, 16:15), disse, então, preferir pregar aos peixes. Eis que, surpreendentemente, esses seres marinhos puseram as cabeças para fora d'água a fim de ouvi-lo. O milagre, pois, serviu para ganhar a fé dos homens.


Sobre referências no Espiritismo, dentre outras obras, vamos encontrar nas questões 536 a 540 de O Livro dos Espíritos, "a ação dos Espíritos sobre os fenômenos da Natureza", que podem ser aplicadas para explicar esse fenômeno relacionado aos animais. Analogia parecida pode ser feita ao caso em que Francisco de Assis amansou o lobo, que aterrorizava a aldeia de Gúbio, chamando-o de irmão.



Reza outra lenda que um tropeiro descrente recusava a aceitar que uma simples hóstia consagrada (material) representasse o Corpo de Cristo (espiritual). Antônio concordou em parte com o "infiel", mas explicou-lhe que aquele era um simbolismo que deveria ser respeitado, pois alimentava a fé do povo cristão. O tropeiro, então, propôs um desafio: respeitaria tal sacramento (a Eucaristia) caso sua mula se ajoelhasse diante da hóstia. Alguns dias após, o descrente trouxe o animal arredio, pois deixara-o sem comer a fim de dificultar que a mula obedecesse a alguém. No entanto, ao ver Antônio se aproximando com a hóstia, a mula acalmou e ajoelhou-se sem que alguém a forçasse. A partir daquele dia, o tropeiro e demais presentes tornaram-se cristãos fervorosos.

Certa vez o pai de Antônio estava sendo acusado injustamente de homicídio em Lisboa. O santo frade foi à sua cidade natal defendê-lo e conseguiu a absolvição, salvando o genitor da pena capital. No entanto, ele estava também, na mesma hora, celebrando uma missa em solo italiano (fenômeno da bicorporeidade ou homens duplos, ver O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, itens 119 a 121).

Houve um caso em que alguns adversários, em Rimini, tentaram envenenar-lhe a comida. Antônio percebendo a traição, perguntou a eles porque procediam daquele modo. Eles disseram ser um teste, já que nas Sagradas Escrituras estava escrito que nada de mal aconteceria aos "eleitos de Deus" (ver Marcos 16: 14-18). Para converter aqueles homens, Antônio abençoou o alimento envenenado e comeu tudo. Nada lhe aconteceu (fenômeno da modificação das propriedades da matériaver O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, itens 128 a 130; em particular, as perguntas 11, 12 e 13. Através de tais esclarecimentos, é possível fazer analogias, no mínimo parciais, a certos "milagres" promovidos por Cristo, como nas Bodas de Canaã e nas multiplicações dos pães e peixes).


O LOBO e O CORDEIRO


Ezzelino ou Ecelino III da Romano (1194-1259), senhor feudal, conquistador e regente tirano de cidades como Verona e Pádua, promoveu matanças, torturas e execuções, além de espoliar, sobretudo os pobres, com pesados tributos e saques em suas guerras. Nos idos de 1230, Ecelino, genro e partidário do Imperador Frederico II, portanto gibelino, havia ordenado novo massacre na guerra contra os guelfos, partidários do papa, em Verona.


Ezzelino III da Romano. Retrato da Galleria degli Ufizzi, Florença.

A população de Pádua recorreu ao franciscano que pregava na cidade, amando a todos e curando os doentes. O manso Antônio não se intimidou com o poder e a violência do sanguinário Ecelino. Foi ao palácio do tirano e censurou-lhe com firmeza, fazendo-o ouvir as verdades sobre suas atitudes arbitrárias e cruéis.


Os cortesões assombraram-se. Afinal, ninguém tinha coragem para falar semelhantes coisas a Ecelino, que, no entanto, ouvia tudo calado, como uma criança advertida por seu pai. Foi quando um prodígio ocorreu. O tirano confessou suas faltas e prometeu converter-se à causa do bem. Antônio saiu, com a consciência tranquila dos que cumprem seu dever. Dessa vez foi o cordeiro que fez estremecer o lobo.


Canal da praça do Prato della Valle, Pádua.

Perguntado sobre sua passividade, Ecelino afirmou que nada podia fazer, já que vira no rosto do franciscano uma luz intensa, como uma visão divina, ficando temeroso dos poderes do religioso. Mas, como ainda restava o homem (moralmente) velho em seu coração, mandou seus serviçais levarem ao franciscano um rico presente. Entretanto, caso fosse aceito, os emissários deveriam assassiná-lo. 


Os fâmulos foram ao convento e entregaram a prenda ao frade Antônio. Sentindo-se provocado, o humilde franciscano lhes ordenou energicamente: Ide-vos, e levai esse fruto de rapinas e perdições, ide-vos, para que esta casa não venha abaixo ou fique enodoada com a vossa presença. Os homens de Ecelino deixaram o religioso em paz e retornaram para seu senhor, que afirmou: É um homem de Deus. Deixai que diga, agora em diante, contra nós, quanto quiser.


O bom Antônio desencarnou pouco tempo depois, talvez por edemas agravados por sua vida dura, no macio leito dos homens justos, em Arcela (próximo de Pádua). Tinha apenas 36 anos quando encerrou seus abençoados sete lustros terrestres.




Diz a tradição que os frades, talvez prevendo as lutas que surgiram para o sepultamento, ocultaram a morte de Antônio; mas os Espíritos espalharam a notícia, de modo que as crianças, nas ruas de Pádua, à hora da desencarnação, começaram, por intuição, a gritar: "Morreu o frade santo! Morreu o santo Antônio!"

[CASTRO, p. 53]


Diz a tradição que o Menino Jesus teria aparecido na cela de Antônio de Pádua, em Camposampiero, pouco antes de sua morte. Por isso o santo, em muitas vezes, é retratado trazendo nos braços o Cristo Menino.

O teólogo Tomás Galo, abade de Vercelli, de quem Antônio era muito amigo, estava presente quando o corpo do santo estava sendo velado. Galo julgou que o amigo havia partido para Portugal, pois algumas horas antes recebeu a visita de Antônio, em Espírito nitidamente materializado, que lhe disse: Sr. abade, acabo de deixar o meu pobre corpo junto de Pádua e agora me dirijo rapidamente para a Pátria [espiritual] [CASTRO, p. 54, com adição].

Devido às inúmeras curas de fiéis conseguidas em seu nome, mesmo após a morte carnal, a canonização de Antônio foi lhe concedida em apenas 11 meses (a de Francisco de Assis levou cerca de dois anos). Para os espíritas, o estatuto de santo católico pouco importa, pois não se necessita ter o privilégio da santificação, porque a misericórdia de Deus, exercida pelos mensageiros da Caridade Divina, não olha os instrumentos de que se serve, quando chegada é a hora de realizá-la [CASTRO, p. 80].

Os restos mortais do santo de Pádua hoje se encontram na basílica da cidade, templo que leva o seu nome.



Basílica e a tumba de Santo Antônio, em Pádua.


Frades de Pádua diante da ossada de Santo Antônio, em uma urna de cristal, durante a restauração da cripta em 2010.

Tempos depois Pádua finalmente foi liberta das garras de Ecelino, como Antônio previu aos frades (fenômeno mediúnico da predição ou antevidência, ver explicações em A Gênese, cap. XVI, de Kardec).

Aliás, o déspota teve uma morte dolorosa. Ferido nas batalhas sucessivas contra os guelfos, sangrou até o fim, aos 65 anos. O poeta Dante Alighieri (c.1265-1321) teria visto o ex-tirano no Inferno (canto XII, 109), ardendo nas labaredas infernais do remorso.


Eis um bom site (de orientação católica) sobre a vida de Santo Antônio: http://www.angelfire.com/ar2/jcarthur/stoantonio2.htm


POR QUE SANTO CASAMENTEIRO?


Eu pedi numa oração / ao querido São João
Que me desse um Matrimônio
São João disse que não! / São João disse que não!
Isso é lá com Santo Antônio!
Eu pedi numa oração / ao querido São João 
Que me desse um Matrimônio / Matrimônio! Matrimônio!
Isto é lá com Santo Antônio!

Implorei a São João / Desse ao menos um cartão
Que eu levava a Santo Antônio / São João ficou zangado
São João só dá cartão / Com direito a batizado
Implorei a São João / Desse ao menos um cartão
Que eu levava a Santo Antônio / Matrimônio! Matrimônio!
Isto é lá com Santo Antônio!

São João não me atendendo / A São Pedro fui correndo
Nos portões do Paraíso / Disse o velho num sorriso:
Minha gente, eu sou chaveiro! / Nunca fui casamenteiro!
São João não me atendendo / A São Pedro fui correndo
Nos portões do Paraíso / Matrimônio! Matrimônio!
Isto é lá com Santo Antônio!

(Isto é lá com Santo Antônio, de Lamartine Babo, 1934, 
nas vozes de Carmen Miranda, Mário Reis e Diabos do Céu)

Apesar de não ter em seus sermões nada específico sobre casamentos, Antônio de Pádua ficou conhecido como o santo que ajuda mulheres a encontrarem um marido. A fama ganhou popularidade porque, em uma sociedade onde as mulheres eram, em geral, subestimadas ou inferiorizadas, Antônio, quando na Terra, pôde ter ajudado moças humildes a conseguirem dote e enxoval para poderem casar.

Com o tempo, após sua canonização, foram surgindo histórias de mulheres que conseguiram casamento através de preces dirigidas ao santo. E assim, tal concretização do matrimônio é considerada milagrosa. No Brasil, a devoção a Antônio de Pádua foi trazida pelos colonos portugueses.


O DIA dos NAMORADOS, de LUPERCO, VALENTIM e ANTÔNIO


 Um cartão americano do Dia de São Valentim (Saint Valentine's Day), de c.1910.

O cristão Valentinus ou Valentim de Roma, martirizado por volta 269, é considerado santo do amor e da amizade, porque, segundo a lenda, teria realizado em segredo o casamento de militares solteiros proibidos de casar, pois, o imperador romano Cláudio Gótico acreditava que soldados casados não eram bons combatentes.

Afirma o folclore que enquanto aguardava na prisão o cumprimento da sentença, o santo se apaixonou pela filha cega de um carcereiro, Astério, e, milagrosamente, devolveu-lhe a visão. Antes de partir, Valentim escreveu uma carta de amor para ela, na qual assinava como “Seu Namorado”: eis o início da tradição do envio de cartas ou cartões do Dia de São Valentim ou dos Namorados.

Os missionários cristãos também usaram a figura de Valentim para fazer frente às divindades pagãs romanas de fevereiro, como Baco, Momo e Luperco (ver http://jensoares.blogspot.com/p/o-carnaval-que-conta-historia.html), ou gregas, como Hera (Juno, para os romanos, que deu nome ao mês de junho e era protetora do casamento) e Himeneu (deus dos matrimônios).

Nos primórdios de Roma, dizem que lobos vagavam próximos às casas. Por isso que a divindade Luperco ou Lupercus (alusão à denominação latina lupus: lobo), era invocado para manter os lobos distantes. Por essa razão, oferecia-se um festival em honra ao deus pagão, no qual escreviam nomes de meninas romanas em pequenos papiros ou pedaços de cerâmica ou couro, que eram colocados em frascos. Cada rapaz escolhia um nome e a menina escolhida deveria ser sua namorada naquele ano todo (há alguma semelhança com simpatias dos festejos juninos e valentinos de hoje).

Himeneu travestido durante um sacrifício a Príapo (século XVII), de Nicolas Poussin.

Por volta de 1949, publicitários brasileiros, provavelmente encabeçados por João Dória, retornado recentemente de viagem ao exterior, adaptaram o Dia de São Valentim - comemorado em 14 de fevereiro em países como Inglaterra, EUA e México - para a véspera do Dia de Santo Antônio, em 12 de junho, com o nome de Dia dos Namorados.

O intuito era fomentar as vendas no período junino, já que fevereiro costuma ser "monopolizado" pelo carnaval brasileiro. Por encomenda das Lojas Clipper surgiu uma campanha para melhorar as vendas no mês de junho. Com o apoio da Confederação de Comércio de São Paulo criaram o slogan “Não é só de beijos que se prova o amor” (referindo-se aos presentes e cartões à pessoa amada). A data reforça a crença de Antônio de Pádua como santo casamenteiro.

***

Desde quando as bisavós de nossas bisavós eram solteiras, existem várias simpatias feitas durante o dia do santo. Além de pura crendice, há muito mau gosto, naquela em que a moça casadoira coloca uma pequena imagem de Santo Antônio de ponta cabeça dentro dum copo com água, só retirando-a quando o casamento estiver acertado (como se o pobre Antônio fosse o culpado pelo "encalhamento").

E tão multiformes foram as demonstrações, que a crendice popular, como sói acontecer, conseguiu introduzir na tradição maravilhosa do taumaturgo [milagroso] muitas abusões e disparates, da força da conhecida oração casamenteira, que permite às moças pedir lhes seja dado um marido velho e rico, que viva pouco tempo e lhes deixe a fortuna, a fim de que possam casar com outro - jovem do seu agrado.

[CASTRO, p. 54-5, com adição]

O livro O padre santo Antônio de Lisboa (1887), do católico português Manuel Bernardes Branco, contém uma prece dessa infeliz natureza; coincidentemente, ou não, esse autor morreu louco.


As simpatias amorosas das festas juninas são frutos do folclore luso-brasileiro, e em nada possuem em comum com palavras e atos de Antônio de Pádua.

Por que então ser relembrado como milagreiro das encalhadas?

resposta só pode ser uma. O exemplo de luta contra os tiranos e hipócritas é muito "perigoso". É preciso despolitizar esse político santo. Nada melhor que dá a ele uma função menos nobre. Imagine se ele fosse conhecido por seus reais méritos? Os que detêm o poder estariam inseguros, já que Antônio exemplificou o Cristo, amando a todos, até mesmo os opressores, mas nunca se calando ante as injustiças cometidas.

Por isso é preciso fazer de Antônio um santo casamenteiro, como fizeram de Jesus um deus, para afastar os homens das realizações que todos podem fazer se vivenciarem o amor de Deus.

As reverências a Santo Antônio são feitas (todos o sabem) em torno de fogueiras, por entre berreiros de cantigas, em gastronômicas comilanças, em torneios beberrões, a tiros de garrucha, estrugir de foguetório, excursões aos rios e cisternas - em romarias casamenteiras; tudo na mais triste das demonstrações materiais, sem a delicada doçura da espiritualidade recolhida, exercitada castamente no recesso dos corações religiosos.

Por isso, muitas vezes, do culto a esse meigo e misericordioso Antônio de Pádua, resultam conflitos, ferimentos mortais, gerados da embriaguez, dos fogos de artifício perigosos, e muitas crianças têm as mãos mutiladas pela explosão das bombas que incautamente lhes são permitidas, para festejar o santo.

Se, ao invés de toda a materialidade inexpressiva e inoperante para o Espírito, despendida pelos crentes, houvesse um culto verdadeiro, exercido pelas almas, na evocação dos primores que a vida e feitos de Antônio de Pádua oferecem à admiração e proveito espiritual de cada ser humano - verdadeiros tesouros espirituais seriam acaudalados nos lares, na polarização das energias (desconhecidas, mas poderosas) que os pensamentos conjugados na concentração captam do Espaço, transformando-as em realidades miraculosas, em verdadeiras bençãos de saúde, paz e prosperidade.

[CASTRO, pp. 131-2]

Por isso, no dia 13 de junho, que ninguém faça chantagens mesquinhas com Antônio. Não queremos acabar com a alegria dos festejos juninos. Porém, que se reflita sobre o exemplo daquele homem bom de Pádua. Para que ninguém esqueça a falta que o verdadeiro Antônio nos faz.



FONTE: 


MARTÍ, Rafael. Artigo do jornal alternativo Mandala. Rio de Janeiro: junho de 2007, pp. 16 e 17 (com modificações).


A RESPOSTA DE SANTO ANTÔNIO A UMA SOLTEIRONA
(uma reflexão espírita)

Não é erro, nem  insânia depositar esperança e fé no Espírito de um santo; mas é mister amá-lo em Espírito, sem culto material, sem o egoísmo das recompensas, dos interesses humaníssimos [através das promessas].

[CASTRO, p. 110, com adição]

A jovem era devota de Antônio de Pádua. Orava, genuflexa  diariamente, reiterando rogativas:

- Abençoa meus familiares, dá-lhes saúde e paz. Quanto a mim, santo querido, peço teus préstimos, ajudando-me a encontrar um companheiro, um bom rapaz que realize meus sonhos de um lar feliz, abençoado por muitos filhos...

A família até que ia bem, certamente amparada pelo santo, mas quanto ao casamento, nada feito. Parecia fazer ouvidos moucos.

Entrava ano, saía ano, e nada de aparecer o príncipe encantado.

Já quase conformada em ser "titia", viu-se, certa feita, em sonho, diante do santo casamenteiro.

Sem vacilar, cobrou-lhe resposta às reiteradas solicitações.

- Meu santo, tenho feito tudo para merecer suas graças, arranjando-me um companheiro, conforme sua especialidade. Guardo recato. Pouco saio, fugindo às tentações. Só vou à igreja... Comungo diariamente, acendo velas em sua homenagem, repito o rosário duzentas vezes, rogo ardentemente... O que está faltando?

O santo sorriu:

- Minha filha, tenho procurado ajudá-la, mas está um pouco difícil, porquanto depende de você. Não precisa ir tanto à igreja. Participe mais da vida social, frequente uma escola, integre-se em serviços comunitários, amplie seu círculo de relações... Dê uma chance ao amor!

Imagem de Santo Antônio, com o Menino Jesus, ofertando pão. 
Igreja de Santa Luzia, Rio de Janeiro (RJ).

[O Espírito] André Luiz tem uma observação muito interessante, numa de suas obras, psicografada por Chico Xavier: "Deus ajuda as criaturas por intermédio das criaturas".

Sempre há Espíritos dispostos a atender nossas rogativas, quando orientadas pelo coração, em empenho contrito de comunhão com a espiritualidade.

Podendo dirigi-las a Deus, a Jesus, aos santos, aos guias protetores, aos anjos, de acordo com nossas convicções religiosas.

Os santos autênticos, espíritos iluminados que passaram pela Terra, como Francisco de Assis, Antônio de Pádua, Tereza D'Ávila, Maria de Nazaré, Simão Pedro, não têm condições para atender, pessoalmente, as multidões que os procuram, em milhões de preces a eles dirigidas diariamente.

Para tanto, contam com enorme contingente de auxiliares, que em seu nome ajudam os fiéis.

O mesmo acontece na área espírita, com veneráveis entidades, como Bezerra de Menezes, Eurípedes Barsanulfo, Cairbar Shutel, Batuíra e, hoje, o nosso querido Chico Xavier.

Em nível mais modesto, há familiares, amigos e mentores desencarnados, que atendem às nossas rogativas, a partir de singelas iniciativas.

Jamais estaremos desamparados.

Contamos, invariavelmente, com a ajuda das criaturas de Deus que, em nome do Criador, empenham-se em iniciativas que visam o nosso bem-estar.

Ficaríamos surpreendidos se tivéssemos consciência do permanente empenho de nossos amigos espirituais, buscando ajudar-nos a aproveitar as oportunidades de edificação da jornada humana.

E o fazem por amor ao bem, como é próprio dos Espíritos que vivenciam em plenitude as leis divinas, conscientes de que a felicidade do Céu está em socorrer as necessidades da Terra.

(Artigo de Richard Simonetti no jornal Folha Espírita, setembro de 2003, com adições).

PRODÍGIOS DO MÉDIUM ANTÔNIO DE PÁDUA


Milagres são manifestações dos Espíritos que, sem as muralhas do corpo material, manejam forças desconhecidas dos homens, mas existentes no Universo [...].

[CASTRO, p. 72]

Excertos da já citada biografia, segundo a visão espírita (descortinada de crença e crendices), de Almerindo M. de Castro: Antônio de Pádua: sua vida de milagres e prodígios, 1ª edição de 1939, publicada pela Federação Espírita Brasileira, Rio de Janeiro-RJ (consulta feita à 7ª ed., de 1987).

Foram 53 os milagres que serviram de base para o processo de canonização do chamado Santo Antônio de Lisboa ou de Pádua.

Sem que importe ofensa à Igreja Católica Romana, não deixa de chamar atenção a circunstância de haverem esses milagres sido escolhidos exclusivamente entre aqueles operados depois da morte, salientando-se as curas de doenças, algumas atribuídas pelos crentes beneficiados às virtudes do túmulo, esqueleto, roupas e outras chamadas relíquias do santo, quando a vida de Santo Antônio foi toda pontuda de ações prodigiosas, ante as quais as curas em causa têm apoucada valia.

Assim agindo, parece, quis a Igreja afastar a ideia de que a simples invocação do Espírito de Antônio de Pádua era suficiente para operar esses milagres.

E, adotando tal critério, ficava implicitamente entendido e determinado ser necessário ir aos templos, colocar-se sob a proteção dessas relíquias (ossos e restos de panos) para obter os favores das curas e de outras coisas materiais.

A verdade, entretanto, é que não se faz preciso o contato ou a proximidade da sepultura do santo, nem tocar as relíquias (trapos da vestimenta) para que o Espírito aja, do Espaço, em favor da criatura cheia de fé.

Mas esse apelo feiticista dos crentes é difícil de desarraigar, porque os mentores, que deviam trabalhar para a espiritualização da fé, transigem com esse materialismo religioso, oferecendo aos crentes os elementos que mudam, do - Espírito imortal - para o corpo perecível, o poder, a força de realizar as maravilhas dos milagres cuja origem paira bem mais alto dos escassos metros de um altar.

[pp. 67-8]

Vejamos alguns desses milagres ou prodígios, desmistificados pela Ciência Espírita, que influenciaram na canonização de Antônio de Pádua.

TRANSPORTE e MATERIALIZAÇÃO



Antônio transportava-se facilmente de um para outro lugar, em Espírito.

[...]

Em uma quinta-feira santa, pregava ele na Igreja de S. Pedro Quadrívio, em Limoges, França, precisamente na mesma hora em que seus colegas cantavam as matinas solenes em seu convento [em Pádua].

Quando chegou o ponto em que o ausente devia entoar a sua parte, eis que Antônio, ficando imóvel no púlpito do templo, apareceu entre os frades, cantou a lição que lhe cabia e, desaparecendo, animou novamente o corpo na tribuna sacra e prosseguiu o sermão.

De outra vez, pregava numa festa solene, de grande pompa, na hoje igreja matriz de Montpelier, também na França, quando se lembrou de que tinha de cantar a - Aleluia - no ofício solene que, consagrado ao santo do dia, se estava celebrando em seu convento.

Curvando-se sobre o púlpito, interrompeu o sermão, e surgiu no meio dos frades, cantou a sua parte no coro e, feito isso, ergueu-se de novo na tribuna da igreja e terminou a prédica.

[p. 47, com adição]

O pai de Antônio, súdito com foros de nobre de Lisboa, tratara diversos assuntos del-rei e prestara de todos eles as devidas contas, inclusive de dinheiros que recebera, mas esqueceu a precaução de exigir as devidas ressalvas e recibos.

Poucos dias depois, vieram, da parte do monarca, pedir-lhe prestação de contas e, não tendo D. Martim como provar o que fizera, suspeitaram-no.

Aflito, pois os desonestos homens negaram os recebimentos, o pai de Antônio foi para casa verdadeiramente angustiado.

[...]

[...] chegando [à Câmara da Cidade], antes que pronunciasse qualquer palavra, surgiu Antônio - que estava na Itália, em Milão - e relatou àqueles homens de má-fé todos os detalhes do que fizera o pai, minuciando o local, hora e espécie da moeda em que lhes havia sido feita a entrega das quantias devidas.

[...]

Outro fato, verdadeiramente de - Materialização.

Um amigo e vizinho do pai de Antônio matou, por inimizade, certo moço de importante família e escondeu o cadáver no quintal da casa de Martim de Bulhões.

Feitas as pesquisas e achado o morto, foi o pai de Antônio envolvido no processo e condenado à morte, como sendo cúmplice, juntamente com os autores do crime.

Antônio pregava em Pádua, quando foi mediunicamente ciente do ocorrido, isto é, de que o pai ia ser decapitado.

Antônio cessou de falar. Seu corpo, arrimando-se no púlpito, imobilizou-se, dando a impressão de estar dormindo.

E apareceu em Lisboa, no adro da Sé, onde tivera sepultura o assassinado, e aú deteve o cortejo da Justiça.

E, chegando junto à cova do morto, materializou o Espírito da vítima, fazendo-o narrar toda a verdade do crime, sem omitir uma peripécia.

O espanto foi inenarrável, pois todos viram o defunto erguer-ser da tumba, e, finda a narrativa, cair "morto" outra vez!

[...] Antônio, quando continuou a prédica interrompida - em Pádua -, pediu desculpas pelo demorado intervalo, contando como fora e conseguira salvar o genitor.

[...]

[...] Os médiuns da estirpe de Antônio de Pádua podem atrair e provocar a materialização; mas, qualquer outro, possuindo os fluidos necessários à produção do fenômeno, dará lugar à materialização Espontânea.

[pp. 49 a 52, com adição]



Houve também o transporte de um objeto, uma carta; uma espécie de "correio espiritual":

Em 1231, quando de uma das vezes se recolheu a Pádua, exausto pelas fadigas de intenso labor, Santo Antônio resolveu escrever ao Provincial da Ordem, pedindo-lhe permissão para um repouso em local ermo.

Fechada a missiva, que ficou sobre a mesa da cela, saiu Santo Antônio em procura do necessário portador; mas, conseguido este, voltando em busca da carta, não mais encontrou, sendo infrutíferas todas as pesquisas feitas para achá-la.

Julgando que o desígnio de Deus fosse contrário ao seu, desistiu da resolução que tomara, e continuou o seu viver costumeiro.

Decorridos, porém, alguns dias, tantos quantos necessários para ir a carta ao seu destino e voltar a resposta, chegou ao Convento missiva do Provincial, concedendo a permissão do pedido - que não fora enviado.

Segundo a crônica de então, um Anjo (Espírito) levara a carta e trouxera a resposta.

[p. 83]

Um caso assustador de materialização desfavorável ao médium Antônio:

A verdade é que o médium luta, precisa lutar, porque o progresso do Espírito, encarnado ou fora do corpo, combate sempre, vencendo-se, melhorando-se, cumprindo as provas que escolheu, batalhando com aqueles desencarnados que muitas vezes o assediam e assaltam - exatamente para que tenha ensejo de vencer mais um degrau ascensional da escala que leva à Perfeição.

De tais lutas, nem mesmo os grandes médiuns, ou santos, estão isentos.

Certa noite do ano de 1228, Santo Antônio, em Pádua, durante o sono, foi assaltado por um Espírito que o agarrou fortemente pelo pescoço, tentando estrangulá-lo.

Invocando o auxílio do Céu, crente que era, sentiu-se logo liberto, e viu o aposento cheio de estranhas claridades, prova de que os Espíritos bons vieram em seu socorro, atendendo ao apelo.

Este caso foi, pela mentalidade da época, atribuído à ação do Diabo; mas, hoje, sabemos que, muitas vezes, são pobres Espíritos de inimigos adquiridos na vida terreal, ou agentes da Verdade que agem para abrir olhos a cegos, vencer a ignorância incrédula, ou acordar consciências adormecidas.

[p. 86]

O já citado caso do douto teólogo Tomás Galo, abade de Vercelli, é um testemunho não só de materialização, mas também de cura, que, aliás, ocorreu logo após o desencarne do médium santo:

... achando-se ele, abade, enfermo da garganta, o Espírito tocou a região doente e, desaparecendo [desmaterializando-se], deixou o abade instantânea e radicalmente curado.

[p. 102, com adição]

Antônio de Pádua foi (e continua sendo) um Espírito elevado o suficiente para poder, materializado, auxiliar pessoas séculos depois do desencarne; e ele não é o único.

Na vila de Serpa, em Portugal, havia uma certa Sara, devota sincera de S. Francisco de Assis e de Santo Antônio.

Malcasada, sofria torturas do marido, a tal ponto que se resolveu ao suicídio.

Certa noite em que o esposo permaneceria fora de casa, depois de recolhidos os da família, Sara preparou um laço de corda para enforcar-se; mas, ao enfiá-lo ao pescoço, ouviu bater com estrondo à porta, obrigando-a a atender aos visitantes, que eram dois, vestidos de franciscanos: S. Francisco de Assis e Santo Antônio, em Espírito, materializados.

Acolhidos com as atenções que mereciam (embora Sara não soubesse quem eram os dois desconhecidos), e sendo-lhes servida ceia, encaminharam a conversa para o temor de Deus, o caminho da virtude, o valor da paciência nas aflições da vida, falando de tal modo que Sara mudou inteiramente de ideias, chegando a sentir-se criminosa só pela intenção que tivera de suicidar-se.

Algumas horas depois, os dois Espíritos apareceram em sonho ao marido, dando-se a conhecer, admoestando-o severamente e fazendo compreender as terríveis responsabilidades que lhe adviriam perante Deus, se se tornasse culpado do suicídio da esposa.

E o malvado homem, indo ao lar, e verificando a realidade do sonho, sem mais dúvida de que tivera a visão de Francisco de Assis e Antônio de Pádua, transformou-se, tornando-se modelar marido, e fiel no agradecimento à esmola que recebera da misericórdia divina.

[p. 103-4]

PREDIÇÕES ou ANTEVIDÊNCIA



Além da profecia da libertação de Pádua das forças de Ecelino conta-se:

Havia em Puy [França] um notário, homem de péssimos costumes, escandaloso e colérico, a quem Antônio fazia grandes reverências, toda vez que o encontrava, curvando os joelhos e tirando o capelo.

Um dia, o homem, que se julgava alvo de escárnio e fugia de avistar-se com Antônio, não se conteve e disse: "Se não fora o temor de Deus, enfiava-te uma espada, para que deixasses de zombar, ajoelhando-te diante de mim."

Ao que Antônio contestou: "Não te escandalizes. Eu procurei ser um mártir da Fé e não o consegui, e Deus me revela que tu o serás, e glorioso. Pelo-te que, nesse momento, te lembres de mim."

O escrivão riu, a bom rir. Mas, pouco tempo depois, mudou de sentimentos, vendeu tudo quanto possuía, acompanhou uns missionários à Terra Santa e lá sofreu o martírio, nas mãos dos mouros.

[p. 32, com adição]

DESOBSESSÃO, PASSE e CURA



Um noviço, chamado Pedro, era vítima de Espírito obsessor, que o impulsionava terrivelmente para voltar à vida profana, acendendo-lhe desejos libidinosos e de intemperança, pelo que o pobre noviço sustentava verdadeiras lutas íntimas, torturado pelas tentações.

Antônio, informado mediunicamente dos sofrimentos do frade novel, deu-lhe Passes e depois, soprando-lhe na boca [fluidos espirituais], disse: "Recebe o Espírito Santo!"

Feito isto, o rapaz caiu em transe, durante o qual teve a visão dos Espíritos de Luz, e, ao voltar a si, erguido do chão por Antônio, sentiu-se transformado e foi daí em diante exemplo de virtude.

(A este frade, Antônio muito recomendou, conforme costumava, que não revelasse a pessoa alguma a visão do Espaço, isto é, o que tinha visto - talvez para poupar ao discípulo as suspeitas de ter "parte com o Demo".)

[pp. 32-3, com adição]

Antônio, através da transmissão de fluidos magnéticos, possibilitou que o noviço Pedro caísse em estado de sono profundo ou transe sonambúlico, a fim de permitir o temporário afastamento (do corpo carnal) do perispírito de Pedro para planos mais elevados no Além (provavelmente levado por Espíritos amigos). Aliás, muitos de nossos sonhos são lembranças vagas ou distorcidas de "passeios" desta natureza a lugares diversos.

Em Pádua, certa mulher, que tinha um filho paralítico das pernas e dos braços desde a nascença, ouvindo falar dos poderes de Antônio, foi procurá-lo e rogou, apresentando-lhe o menino, que o curasse.

Antônio, invocando Jesus-Cristo e impondo as mãos sobre o enfermo, traçou o sinal da cruz (que era o modo de Passe usado então) e o sarou imediatamente.

Em outra ocasião, voltava de pregar, quando encontrou em caminho um homem, de nome Pedro, que trazia ao colo uma filha aleijada, infeliz menina que só podia mover-se de rastos pelo chão e costumava ser obsediada por Espírito inferior, que, nela atuando, a fazia revolver-se, espumando pela boca, em contorções horríveis.

Antônio, depois de orar, deu-lhe demorado Passe, findo o que a menina ficou curada da atrofia das pernas e dos ataques obsessores.

[pp. 33-4]

Pregava em Limoges, quando no meio dos ouvintes surgiu um perturbado, tido por todos como sendo louco, interrompendo com imprudente vozear a atenção do auditório.

Antônio admoestou o Espírito perseguidor daquela criatura, intimando-o a que se calasse e se fosse, mas o obsessor resistiu e só aquiesceu em retirar-se diante da brandura de Antônio, que [...] agiu tal qual procedem hoje os médiuns quando afastam os Espíritos atrasados.

E dali mesmo o obsidiado saiu livre para sempre da pretensa loucura.

[p. 34]

Quando Antônio de Pádua fundou um modesto cenóbio [comunidade religiosa, mosteiro] em Varese, na Itália, ao mandar abrir uma cisterna deitou sua benção sobre as respectivas águas, que ficaram com a virtude de curar febres.

Espalhada a notícia desse milagre, os do convento de Vercelli rogaram que fossem também abençoadas as do poço ali existente, e foram satisfeitos, ficando as águas do tanque do mosteiro fluidificadas e com propriedades curativas.

Hoje, bem fraco é o conceito de tal prodígio, pois os médiuns os produzem diariamente, fluidificando a água com a qual muitas pessoas obtêm curar-se, sem necessidade de recorrer às imagens dos santos das igrejas.

[p. 79, com adição]

Um certo Leonardo di Padova, confessando-se a Santo Antônio, acusou, entre outros pecados, haver dado um pontapé em sua própria mãe, atirando-a ao chão.

Santo Antônio, aplicando ao caso o ensinamento evangélico do cap. V de Mateus, vers. 29 e 30, disse: "Um pé que insulta pai ou mãe deveria ser cortado desde logo."

E o penitente, indo para casa, e tomando ao vivo [interpretando literalmente] a admoestação, cortou o pé.

Vem, então, aflita e chorosa, a mãe do rapaz e suplica a Santo Antônio que lhe acuda o filho.

Santo Antônio vai, ora, dá passes sobre a parte amputada, unindo-a fortemente, e sara dentro em pouco o pé decepado.

[p. 96, com adição]

Ora, tal processo mediúnico de cura se aplica, pelo menos em parte, na passagem evangélica do Cristo (ver Mateus 26, Marcos 14, Lucas 22 e João 18), sarando a ferida da orelha decepada de Malco, assecla dos fariseus, atacado a golpe de espada ou punhal por Pedro, quando este (ainda ignorante) tentava defender o Mestre de ser preso no Jardim das Oliveiras.

CLAREVIDÊNCIA ou DUPLA VISTA



Em Brive, França, colegas, que haviam terminado as orações vespertinas, vieram dizer-lhe, certa ocasião, que o campo vizinho, de um devoto do convento, estava sendo danificado por vários vultos, que arrancavam as plantações.

Antônio, que orava em grande concentração, teve a vidência de que eram Espíritos zombeteiros que, aos olhos dos frades, pareciam homens [encarnados] a destruir a roça, e respondeu: "Não vos inquieteis, irmãos, e voltai às vossas orações; não farão dano algum."

[...]

E quando amanheceu o dia, verificaram, com espanto, que as plantações da véspera - aos seus olhos destruída - estavam intactas, sem o menor sinal de haverem sido tocadas.

[p. 48, com adições]

EFEITOS MECÂNICOS e PSICOFÔNICOS



Além do citado caso da tentativa de envenenamento, em Rimini, há outros exemplos de fenômenos mediúnicos físicos.

... os Espíritos irradiavam a voz do médium, tanto assim que uma senhora, estando proibida pelo esposo - incrédulo - de assistir a uma dessas pregações, e achando-se a chorar, debruçada à janela da casa, ouviu, entre assustada e cheia de júbilo pela revelação de forças estranhas, todas as palavras que Antônio proferia no púlpito, erguido a quase meia légua [c. 2 Km] de distância.

[p. 36, com adição]

Outro impressionante fenômeno mediúnico de psicofonia:

Estando em Ferrara, na Itália, em 1228, foi Santo Antônio solicitado por uma senhora, casada com eminente personagem, e que se achava em grande aflição, acusada de infiel pelo marido - que ia ao extremo de negar a sua paternidade a um filho recém-nascido.

Condoendo-se da pobre e inocente mãe, acudiu ao apelo, e, depois de ouvir a ambos, concentrou-se, tomou o menino nos braços, fez oração e disse: "Por virtude de Jesus-Cristo ordeno-te que me respondas terminantemente aqui, diante de todos os circunstantes, quem é teu legítimo pai."

Então, a criança, sem o natural titubeio da mais tenra infância, quando pronuncia as primeiras palavras, disse, em voz clara e distinta, voltando-se para o nobre senhor: Eis aqui quem é meu pai."

Este milagre está perpetuado em inscrição de mármore existente numa capela erguida ali em honra do grande médium.

Mas, um tal caso, será milagre mesmo? Não.

O milagre se transforma em fato espírita, porque a voz dos Espíritos, direta ou não, está exuberadamente manifestada em todos os tempos, desde a voz que falou a Samuel, quando menino ainda (conforme narra a Bíblia, no Velho Testamento, I Reis, cap. III) [...].

[pp. 93-4]

Um exemplo: antigas lendas afirmam que Sidarta Gautama, o Buda, falou quem era assim que nasceu (no século VI a.C.); tal estória pode ser perfeitamente verídica, se analisada sob esse ponto de vista espírita.

Quiçá o primeiro "milagre" documentado do santo de Pádua: um caso de manipulação da matéria densa feita por forças invisíveis:

Em 1209, aos 14 anos de idade, ainda aluno das aulas da Sé de Lisboa, onde iniciara seus estudos, passou certa vez pela frente da sua residência uma criada de servir, levando à cabeça um cântaro cheio de água. Bem defronte do palacete, a serviçal o pousou nos degraus de acesso, para descansar; mas, por desastre ou travessura de algum transeunte, o cântaro caiu e ficou em pedaços. A pobre fâmula desatou em lastimoso pranto, lembrando talvez o castigo que iria sofrer ao chegar em casa, sem a vasilha e sem a água. O quase menino, que ainda se chamava Fernando, tendo testemunhado a cena, condoeu-se profundamente da criada, e, aproximando-se, começou a juntar, um por um, os cacos da vasilha e a sobrepô-los, como se pretendesse recompor o vaso quebrado. Momentos depois, falando à serva, disse:

- Não chore; o seu cântaro está perfeito e cheio de água.

E era verdade, um milagre incrível, que a criada divulgou amplamente.

(Padre Carlos das Neves - Santo Antônio de Lisboa - vol. I, ed. 1895, pág. 34).

[pp. 78-9]

Um fenômeno psicomecânico, que poderia ter sido fatal a Antônio de Pádua, ou outra pessoa, se não houvesse a Providência Divina atuando através da mediunidade:

Pregava Santo Antônio em Limoges, na França, em 1226, na Praça de S. Juniano. Avisaram-no, mediunicamente, de que Espíritos perturbadores estavam cogitando de atingi-lo, derribando o improvisado púlpito que fora erguido no local.

Dirigindo-se ao auditório, preveniu-o: "Sei que inimigos nos preparam uma afronta neste sermão; porém não vos amedronteis, porque a malícia não ofenderá a nenhum de nós outros."

Dentre em pouco, efetivamente, desabava com estrondo o púlpito, sem entretanto produzir ferimento ou dano a quem quer que fosse.

Para os desconhecedores de minudências da Doutrina Espírita, parecerá que os Espíritos Protetores deviam ter evitado o acidente; mas, de acordo com as leis que dominam nesses eventos, tudo é necessário e ocorre segundo as circunstâncias do meio onde os Espíritos agem.

A derrubada do púlpito, anunciada previamente, serviu para mostrar que ia manifestar-se um poder invisível, para o qual deveriam voltar-se as atenções, a cogitação dos que desconhecem ou negam a ação dos Espíritos, de fora - para a Terra. Talvez tivesse mesmo endereço a algum dos assistentes, passível de converter-se ante esse fenômeno produzido pelas forças do Além.

Por outro lado, o aviso deveria ter provocado uma atitude de recolhimento, de oração, para que os efeitos poderosos e benéficos da Prece dominassem as forças perturbadoras dos Espíritos ainda mergulhados na treva da ignorância e do mal, Espíritos que carecem de orações e pensamentos de amor e perdão e que, na maioria dos casos, só recebem, infelizmente, xingações de "malditos de Satanás".

[p. 97-8]


A expulsão dos vendilhões do Templo (c.1675), de Luca Giordano.
Jesus Cristo foi o maior médium que já andou pela face da Terra, e prodigalizou diversos fenômenos mediúnicos de efeitos físicos. O também médium Francisco Cândido Xavier, com o auxílio dos Espíritos amigos, teve a oportunidade de esclarecer, sob a luz da Ciência Espírita, sobre a passagem do Novo Testamento descrita pela pintura acima (em João 2:14-16):

O fenômeno ocorrido foi de efeito físico, já presenciado por nós em outras circunstâncias. Jesus, ao verificar que aquelas criaturas haviam transformado o Templo numa casa de interesses materiais, vibra com indignação diante do mal que estavam fazendo, e dele projetam-se raios luminosos, que se condensam em listras, atingindo os vendilhões.

Teriam provocado dor? Sim, doeram um pouco pela descarga elétrica que passou pelo corpo, atingindo-lhes o espírito. A atuação dos raios deu-lhes a sensação de umas fracas lambadas de um açoite.

[GRISI, Romeu e SESTINI, Gerson. Inesquecível Chico. São Bernardo do Campo-SP: GEEM, 2008, p. 139]

INTUIÇÃO, PERSUASÃO e AÇÃO MORALIZANTE



Em todos os sermões e demais atividades Antônio era bem intuído e auxiliado, de diversas formas, pelos Espíritos tarefeiros do Bem. O mesmo ocorreu em seu primeiro discurso à assembléia de religiosos em Assis, e na repreensão ao tirano Ecelino. Eis outros casos dessa natureza mediúnica:

Certa vez, levados pela fama de Antônio, foram ouvi-lo 12 ladrões, que constituíam uma das perigosas quadrilhas de salteadores daqueles tempos.

Terminada a prédica, estavam conversos e arrependidos, e a Antônio foram confessar as culpas e pedir conforto espiritual para as suas desassossegadas almas.

[p. 36]

Antônio combatia moralmente, através de críticas severas, até mesmo seus superiores da hierarquia clerical, caso estivessem em erro grave.

Em um sínodo, convocado pelo arcebispo de Bourges [na França], Simão de Sully, em 1225, Antônio atacou fundo os vícios e descarnou, tão eloquentemente e à luz do Evangelho, as mazelas daquele prelado, que este chorou, e, finda a reunião, abriu a alma ao pregador que tão bem soubera ler no âmago da consciência culpada...

Outro, que não fosse médium, e muito assistido pelos Espíritos, não o teria feito impunemente.

Muitos fatos daquela época mostram que, falar contra os poderosos do clero, era buscar a perseguição e a morte...

[p. 38, com adição]

... Depois de morto Francisco de Assis, frei Elias, assumindo a direção geral da Ordem, interinamente, entendeu alterar os Estatutos da mesma, os quais, aliás, já vinha fraudando.

Ilustrado e erudito, entendia ser tolice, prejudicial ao prestígio da Ordem, o voto de pobreza.

E começou a angariar dinheiro, comer bem e beber melhor, a andar montado em ótimos animais.

Embora muitos frades fossem contrários a essas coisas, escandalosas ante o rigor do Regulamento, ninguém teve ânimo de falar contra elas, pois sabiam as consequências.

Ninguém, exceto Antônio (e outro frade, inglês de origem, frei Adão).

Não tardaram as perseguições e a celeuma, acusando os dois frades de lançar a discórdia no seio da comunidade.

Antônio apelou então para o papa, e diante de Gregório IX, protetor da Ordem, acusou o superior [...].

Convocado o Capítulo Geral para Roma, aí, face a face, Antônio falou, verberando o poderoso e protegido frei Elias, quanto à ganância, à riqueza, ao conforto, contrários à pobreza do Cristo e do fundador da Ordem.

E Gregório IX [...] cedeu, subjugado ao poder da palavra do médium - em que fosse destituído o geral interino da Ordem, revogando assim as suas próprias licenças, e elogiou Antônio [...], e o desligou das obrigações conventuais para que se ocupasse da salvação das almas!

[pp. 42-3]

Castro relata que o vol. XL da Enciclopédia Teológica, publicada pelo abade Migne, em 1850, revela que esse frei Elias de Cortone, receando empecilhos políticos, ordenou que Antônio e Adão de Mariscot fossem encarcerados perpetuamente em suas celas. O médium, porém, foi previamente alertado pelos Espíritos e fugiu com o irmão Adão para Roma, onde ocorreu o processo descrito acima (há vários casos semelhantes na Bíblia, a exemplo do sonho de José, pai terreno de Jesus, que motivou a fuga da Sagrada Família para o Egito, em Mateus 12: 13-23).

... a assistência dos Espíritos não perdiam ensejo de fazê-lo instrumento de corrigenda até de mentirosos.

Por donativos dos que ouviram suas pregações, em Gemona (província de Údine, Itália), foi construído ali um retiro para os franciscanos. Estando certo dia Santo Antônio dirigindo os trabalhos, necessitou de um carro, para conduzir tijolos, e pediu esse favor a um carreiro que passava com um veículo desocupado, dentro do qual ia um filho a dormir. O carroceiro, porém, por mau humor ocasional ou não querer prestar serviços gratuitos, respondeu capcioso:

- Agora é impossível, porque levo ali um defunto.

- Pois seja como dizeis - foi a contestação.

Continuando seu itinerário, a sorrir da mentira que pregara, o homem do carro desejou contar ao filho o logro impingido ao "monge dos pedreiros". Chamou e sacudiu inutilmente o adolescente: estava morto.

Ligando a desgraça à zombaria que usara e à resposta que ouvira, correu aflitíssimo a Santo Antônio, a quem, por entre lágrimas sinceras, implorou restituísse a vida ao jovem. O então frade Antônio condoeu-se do homem, foi ao local, e, traçando sobre o inerte corpo o sinal da cruz (que era a forma de passe usada à época), reanimou o filho do carreiro.

[pp. 77-8]

A lógica nos diz que, como no caso de Lázaro (ver João cap. 11), não houve uma ressurreição literal, pois o jovem, na realidade, não estava morto, apenas sofreu um quadro de catalepsia. Porém, nesta passagem de Antônio, o estado cataléptico foi provocado, através da emanação de fluidos magnéticos do médium, ou dos Espíritos presentes, não para fins vingativos ou levianos, mas educadores e moralizantes ao carroceiro.


São Francisco de Paula ressuscitando uma criança (1733), de Sebastiano Ricci.
Como podemos ver na pintura, o santo nascido c.200 anos após Antônio, em Paola ou Paula (Itália), também era um grande médium de cura (dentre outras potencialidades mediúnicas).

Por vezes Antônio, uma figura ímpar na História da Humanidade, não precisava dizer uma palavra para moralizar as pessoas.

Certa vez, Santo Antônio convidou um dos seus companheiros para pregarem em determinado templo; mas, regressando ao convento, sem que houvesse pronunciado sermão algum, nem propiciado ao companheiro oportunidade de fazer-se ouvir no templo onde haviam estado, o frade interpelou Antônio:

- Por que não pregaste, meu irmão?

- Crede-me - respondeu Antônio -, nós dois pregamos, pela modéstia de nossos olhares e pela gravidade de nossas atitudes.

[pp. 130-1]




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