quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A HISTÓRIA POR TRÁS DO NATAL


Foto do filme The Nativity Story (2006)

Escrevo à noite. Vem na aragem noturna um cheiro de estrelas. E, súbito, eu descubro que estou fazendo a vigília dos pastores. Aí está o grande mistério. A vida do homem é essa vigília e nós somos eternamente os pastores. Não importa que o mundo esteja adormecido. O sonho faz quarto ao sono. E esse diáfano velório é toda a nossa vida. O homem vive e sobrevive porque espera o Messias. Neste momento, por toda parte, onde quer que exista uma noite, lá estarão os pastores - na vigília docemente infinita. Uma noite, Ele virá. Com suas sandálias de silêncio entrará no quarto da nossa agonia. Entenderá nossa última lágrima de vida.

[Nelson Rodrigues, Vigília dos Pastores: crônica de natal ao jornal O Globo, dezembro de 1980]

Então é Natal?

Muitos festejam o Natal e não sabem ou se esquecem da real finalidade da festa. A prova está no consumismo desenfreado que se vê nessa época do ano. Consumismo esse divulgado pelos meios de comunicação. O presente texto tem a finalidade de incentivar a reflexão sobre o Natal com o intuito de ajudar a modificar o posicionamento das pessoas diante da época das festas de fim de ano.

Façamos isso analisando as origens e principais signos da celebração.


Jesus foi um carpinteiro judeu da humilde Nazaré da Galileia, que não quis fundar religião alguma, muito menos gerar uma cisão no judaísmo. E é provável também que não aceitasse festejos pomposos pelo seu nascimento.

Ele apenas queria dar o bom exemplo: amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo com a si mesmo.

As profecias do Velho Testamento e os Evangelhos dão validade à figura crística do inesquecível mestre nazareno.


Tudo Nasceu com Ele...

Tudo começou com a própria figura grandiosa de Jesus. Seu nome em hebraico-aramaico é Yĕhōšuă‘, que significa "Deus salva".

"Jesus" era um nome relativamente comum entre os judeus da Antiguidade. Na Bíblia, encontramos três homônimos:

1º- Jesus, filho de Josedec: sumo sacerdote dos judeus após o cativeiro na Babilônia (Esdras 3:8 e Zacarias 6:11);
2º- Jesus, filho de Sirac: autor do livro Eclesiástico;
3º- Jesus, o Justo: um dos primeiros cristãos (ex-judeu) que auxiliava na evangelização. Citado por Paulo de Tarso (Colossenses 4:11).

A Sagrada Família

Os evangelistas Mateus e Lucas elaboraram genealogias que ligam Jesus a Adão (passando por importantes nomes bíblicos como Abraão e Davi), a fim de confirmar as profecias de Gêneses (Cap. 4 ao 49), Rute (4:12-17), 2 Samuel (7:12 e 16), 1 Crônicas (5:2 e 17:11-12), Salmos (89:29, 35 e 36 e 132:11 e 17), Isaías (7:13-14 e 11:10), Jeremias (23:5 e 33:14-15), Ezequiel (17:22-24 e 34:23-24), Ageu (2:23) e Zacarias (3:8).

Segundo o evangelista Lucas (3:23), o avô paterno de Jesus se chamava Heli. Porém, Mateus (1:16) afirma que o pai do mestre carpinteiro José (do hebreu Yosef) tinha outro nome: Jacó (em hebreu: Ya'akov).


Joaquim (versão cristã do nome hebreu Yəhôyāqîm) casado com Ana (Hannah), era pai biológico de Miriam (em hebraico-aramaico, Maryām) ou Maria (mãe de Jesus). Teólogos protestantes, porém, chamam-no de Heli.
Provavelmente Joaquim adotou José, quando Jacó faleceu. Ainda é comum na região o casamento entre aparentados. Foi o caso de José e Maria.


Pessoas mais próximas a Jesus (a exemplo dos Apóstolos, Maria, José de Arimateia, Maria de Magdala ou Madalena, Marta, Joana de Cusa e Matias) formaram os primeiros núcleos de judeus convertidos em cristãos no Século I.

Paulo de Tarso, ex-fariseu perseguidor dos cristãos, foi o principal divulgador das palavras de Jesus entre os gentios.

As primeiras comunidades não estavam voltadas apenas à pregação, mas também a todo tipo de auxílio aos mais necessitados, como o Mestre fazia.

Para evitar que formassem uma dinastia de reis divinos, os nomes dos parentes terrenos de Jesus  foram apagados da História. Pois, como Ele mesmo disse: ...qualquer um que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, e irmã e mãe (Mateus 12:48).

Pelo que concerne a seus irmãos, sabe-se que não o estimavam. Espíritos pouco adiantados, não lhe compreendiam a missão: tinham por excêntrico o seu proceder e seus ensinamentos não os tocavam, tanto que nenhum deles o seguiu como discípulo. Dir-se-ia mesmo que partilhavam, até certo ponto, das prevenções de seus inimigos. O que é fato, em suma, é que o acolhiam mais como um estranho do que como um irmão, quando aparecia à família. João diz, positivamente (7:5), “que eles não lhe davam crédito”.

Quanto à sua mãe, ninguém ousaria contestar a ternura que lhe dedicava. Deve-se, entretanto, convir igualmente em que também ela não fazia ideia muito exata da missão do filho, pois não se vê que lhe tenha seguido os ensinos, nem dado testemunho dele, como fez João Batista. O que nela predominava era a solicitude maternal.

[KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. Rio de Janeiro: FEB, Cap. XIV, §7]



O Homem de Nazaré


Nazaré, cidade onde Jesus Cristo teria vivido com os pais da infância aos trinta anos, fica no Distrito Norte de Israel. Situa-se a c. 95 km ao Norte de Jerusalém, c. 25 km ao Sudoeste do Lago Tiberíades ou de Genesaré (onde Cristo teria convocado os Apóstolos) e a 9 km ao Sul do Monte Tabor (onde teria havido a Transfiguração, Mateus 17:1-6). A principal rota entre o Egito e o interior da Ásia passa por Nazaré.

Hoje a maior parte da população de Nazaré é formada por muçulmanos, por isso a cidade é mais conhecida pelo seu nome em árabe: En Nasirah.

Nazaré, como toda a Palestina, na época de Jesus foi dominada pelos romanos, que sucederam os generais do macedônio Alexandre, o Grande. Roma permaneceu na região até o século III.

Vestígios arqueológicos indicam que Nazaré, no século I, foi uma aldeota habitada por cerca de 200 pessoas apenas; a maioria composta por agricultores, pastores e artesãos. Não foi mencionada na lista de assentamentos da tribo de Zebulon (Josué 19, 10-16), que menciona doze cidades e seis aldeias entre as 45 habitações galileias enumeradas pelo judeu Flávio Josefo, historiador da corte romana de Domiciano. Não está também entre as 63 cidades mencionadas no Talmude. É desnecessário dizer que a maioria das pessoas da Judeia nunca tinha ouvido falar em Nazaré. Para indicar onde ficava a aldeia, diziam que ela ficava perto de Gat-Hyefer.

As casas das cidades da Palestina e, em particular as de Nazaré, eram construídas no prolongamento de grutas naturais.

O Antigo Testamento não fala da aldeia de Nazaré. É nos textos dos Evangelhos que ela é mencionada "pela primeira vez". Foi nesse burgo escondido, no meio das montanhas rochosas e verdejantes, casa de um dos ramos degradados da linhagem real de David, em especial de José, que Jesus de Nazaré foi criado.

(Fonte: Folha Paroquial da Igreja da Santíssima Trindade, Flamengo, Rio de Janeiro, nº 179, jul. 2012, p. 12)



Pai e Filho (detalhe), de Corbert Gauthier.


A Infância de Cristo (c.1620), de Gerrit Van Honthorst.


Nazaré (1905), de Maurice Denis.


Obs: As duas pinturas abaixo utilizam efeitos simbólicos para fazer alusão à morte de Cristo na Cruz:

Cristo na Casa dos Pais (1849-50), de John Everett Millais. O Menino Jesus fere a mão no trabalho de carpintaria e recebe uma carícia da mãe, enquanto o primo, o profeta João Batista (à direita), observa o fato como um mau vaticínio.


A Sombra da Morte (1870-73), de William Holman Hunt. Nota-se a sombra do jovem Cristo em pose de crucificação, para a admiração de Maria (que abre o baú, no qual estão guardados os antigos presentes dos Magos, dentre eles a mirra que deveria ser usada no embalsamento do corpo de Jesus).


Os principais locais visitados por cristãos são a Fonte de Santa Maria (que data da época de Cristo) e a Basílica da Anunciação, que fica em um sítio onde no séc. III o imperador romano Constantino I ergueu uma igreja (a pedido da mãe, Santa Helena) marcando o lugar onde um arcanjo anunciou à Maria sua gravidez divina. Acredita-se também que naquele sítio a Sagrada Família teria residido. Eusébio, bispo de Cesareia (c.275 - 339) afirmou que o nome “Nazaré” vem da palavra hebraica netser (broto de planta), que simboliza a vida no meio do deserto. Por isso também é chamada de "Jardim da Galileia".

Para alguns historiadores modernos, parece mais lógico que Jesus tenha, na verdade, nascido em Nazaré e não em Belém.


Messias, Cristo e Jesus

A palavra “Messias”, de origem hebraica (Messiah), tem o mesmo significado da palavra “Cristo”, de origem grega (Khristós): O Ungido (com óleo sagrado), ou seja, O Abençoado.

O profeta Isaías, do Antigo Testamento, previu o nascimento do Messias de uma Virgem (7:14 e também em Jeremias 31:22) - ratificando as palavras da Gêneses (3:15) - e a visita dos Reis Magos do Oriente (cap. 60) e dos anjos (Deuteronômio 32:43) há mais de 700 anos antes.


Miquéias (5:2), que teria vivido por volta de 735-700 a.C., profetizou o nascimento do Messias em Belém.

Porém, devemos lembrar que a maioria dos judeus ainda espera a chegada do messias deles.


Antes da conversão dos gentios, os primeiros cristãos - judeus convertidos - tinham que convencer membros das comunidades judaicas de que Jesus de Nazaré era o Messias tão aguardado pelo Povo Escolhido. Além fazer alusões às antigas profecias, os Evangelistas atribuíram certa semelhança, ao início da vida do Cristo, com outro messias reconhecido muitos séculos antes pelos judeus: Moisés.

Segundo o Êxodo (cap. 1 e 2), um faraó ordenou a morte de todos os meninos hebreus recém-nascidos. Moisés escapou de um "massacre dos inocentes", como Jesus.

Ilustração mostrando Moisés sendo resgatado do Nilo (ver Êxodo 2: 5-6).

A fim de escapar do massacre ordenado pelo Rei Herodes (ver Mateus 2:16-18), a Sagrada Família partiu em segredo para o Egito (país que também faz alusão à história de Moisés). Ao narrar o caso, o evangelista Mateus citou a profecia de Jeremias (31:15).


Nascimento de Jesus, de Corbert Gauthier

O Jesus das Igrejas

A partir do terceiro e quatro séculos após a crucificação de Cristo, as classes eclesiásticas romanas transformaram as primeiras e simples comunidades cristãs em grandes e complexas instituições religiosas intermediárias da fé entre os homens e Deus.

A palavra "igreja" veio de ekklesia, que em latim significa "assembleia" (o mesmo significado para “sinagoga”, do grego synagogē, lembrando que os primeiros cristãos surgiram no judaísmo) referindo-se às reuniões dos primeiros fiéis do cristianismo, que primeiramente nortearam os costumes da religião do Novo Testamento.

As discussões entre Pedro e Paulo (eleitos postumamente santos pela Igreja Romana) sobre a admissão de gentios convertidos na sociedade cristã (antes destinada apenas a ex-judeus), como vemos em Gálatas e Atos dos Apóstolos, gerou os concílios ou sínodos: assembleias de eclesiásticos, que, dentre outras decisões, taxou de hereges diversas ideias discordantes da linha de pensamento canônico.



Missa do Galo possui esse nome porque o galo é a ave que "anuncia" o nascer do sol com seu canto. Como Cristo é considerado o Sol do Mundo, o dia do nascimento de Jesus é metaforicamente anunciado pelo galo com a chegada da alvorada do Natal. A sede da Igreja romana, não aleatoriamente, foi erigida na colina Vaticano, onde no passado concentravam-se os festins a Mitra.



O Stonehenge fica em Wiltshire, na Inglaterra, e foi construído entre 3000 a.C. e 2000 a.C., tendo sido modificado eventualmente ao longo dos últimos cinco mil anos.
Entre os antigos habitantes da Gália (território da Antiguidade que corresponde, em maior parte, à França de hoje), viviam os semnothées ou semnothei, nome que significa "os adoradores de Deus". Por seus conceitos monoteístas da Divindade como Poder Supremo, eles se distinguiam dos povos pagãos. São considerados os ancestrais dos druidas: classes de "pessoas sagradas" nas extintas tribos celtas, surgidas há c.1900 a.C., cujo deus único chamavam de Oiw (pronuncia-se oyune).

***
O MONOTEÍSMO

O que mais admira, porém, naquelas tribos nômadas e desprotegidas, é a fortaleza espiritual que lhes nutria a fé nos mais arrojados e espinhosos caminhos.

Enquanto a civilização egípcia e os iniciados hindus criavam o politeísmo para satisfazer os imperativos da época, contemporizando com a versatilidade das multidões, o povo de Israel acreditava somente na existência do Deus Todo-Poderoso, por amor do qual aprendia a sofrer todas as injúrias e a tolerar todos os martírios.

Quarenta anos no deserto representaram para aquele povo como que um curso de consolidação da sua fé, contagiosa e ardente.

Seguiu-lhe Jesus [invisível, como Espírito, pois só encarnou séculos depois], todos os passos, assistindo-o nos mais delicados momentos de sua vida e foi ainda, sob o pálio da sua proteção, que se organizaram os reinos de Israel e de Judá, na Palestina.

Todas as raças da Terra devem aos judeus esse benefício sagrado, que consiste na revelação do Deus Único, Pai de todas as criaturas e Providência de todos os seres.

O grande legislador dos hebreus trouxera a determinação de Jesus, com respeito à simplificação das fórmulas iniciáticas, para compreensão geral do povo; a missão de Moisés foi tornar acessíveis ao sentimento popular as grandes lições que os demais iniciados eram compelidos a ocultar. E, de fato, no seio de todas as grandes figuras da antiguidade  destaca-se o seu vulto como o primeiro a rasgar a cortina que pesa sobre os mais elevados conhecimentos, filtrando a luz da verdade religiosa para a alma simples e generosa do povo.

[XAVIER, Francisco Cândido (pelo Espírito Emmanuel). A caminho da luz. Rio de Janeiro: FEB, cap. VII (O povo de Israel), 22ª ed., 1996, pp. 68-9, com adição].




A MANJEDOURA

A manjedoura assinalava o ponto inicial da lição salvadora do Cristo, como a dizer que a humildade representa a chave de todas as virtudes.

Começava a era definitiva da maioridade espiritual da Humanidade terrestre, de vez que Jesus, com a sua exemplificação divina, entregaria o código da fraternidade e do amor a todos os corações.

Debalde os escritores materialistas de todos os tempos vulgarizaram o grande acontecimento, ironizando os altos fenômenos mediúnicos que o precederam. As figuras de Simeão, Ana, Isabel, João Batista, José, bem como a personalidade sublimada de Maria, têm sido muitas vezes objeto de observações injustas e maliciosas; mas a realidade é que somente com o concurso daqueles mensageiros da Boa Nova, portadores da contribuição de fervor, crença e vida, poderia Jesus lançar na Terra os fundamentos da verdade inabalável.

[XAVIER, cap. XII (A vinda de Jesus), pp. 105-6]

A INVENÇÃO DO NATAL

As festas pagãs do Dies Natalis Solis Invicti (Nascimento do Deus Sol Invencível) já eram celebradas em Roma em 336 a.C. Essas comemorações eram voltadas a diversos deuses solares, a exemplo de Elah-Gabal (da Síria) e Sol (deus do imperador Aureliano).

A celebração cristã do Natal foi oficialmente instituída pelo papa Libério (? - 366) em 25 de dezembro de 354, para contrapor a tais festins. Tanto as festas pagãs quanto o Natal coincidem com o início (ou solstício) de inverno no Hemisfério Norte.

OBS: O papa anterior a Libério, Júlio I (280-352), já havia indicado a data do Natal para 25 de dezembro, que só foi confirmada com seu sucessor e apareceu no Calendário Philocalos no dito ano 354. Isso tudo ocorreu graças ao Édito de Milão, em 313, quando o imperador romano Constantino, o Grande, deu fim à perseguição aos cristãos e garantiu tolerância a todas as religiões.



Porém, antes, em 245, o teólogo cristão Orígenes (c.185 - 253) repudiava a ideia de se festejar o nascimento de Cristo "como se fosse um faraó".


Por isso que desde o nascimento de Jesus (no séc. I), o Natal demorou mais de três séculos para ser estabelecido e oficializado pela Igreja.


Antes da Era Cristã, diversas nações já promoviam comemorações durante o fim e início das estações.

No Hemisfério Norte, o inverno inicia-se por volta de 21 de dezembro. Nesse período, de dias com pouca luz, havia diversos festivais para "garantir que o sol não desaparecesse para sempre". Tais celebrações hibernais eram as mais populares nas sociedades pré-cristãs. Com o tempo, as divindades pagãs foram substituídas pelo Cristo, o Sol do Mundo e da Humanidade.
Os primeiros cristãos tiraram o hábito de dar presentes no Natal de festividades pagãs romanas. As principais foram:

Em homenagem a Saturno (saturnais ou saturnálias), divindade ligada à agricultura e colheita, comemorada do dia 17 a 23 de dezembro.





Reproduções modernas de um banquete ou festim romano.


Em homenagem a Janus ou Jano (1º de janeiro):




... a doação de presentes é muito mais antiga, já acontecendo nas sociedades pré-cristãs. Os romanos, por exemplo, tinham por hábito dar e receber presentes, na maioria das vezes em forma de alimento: uvas secas, pêssegos, maças, bolos de mel, vinho etc. Isso acontecia no dia de Ano-Novo, primeiro de janeiro*. A festa, nessas ocasiões, era feita em honra a Janus, filho de Apolo e da ninfa Creusa. Ao contrário da maioria dos deuses pagãos, Janus era pacífico e venerado como um deus da paz**. No seu templo havia doze portas, cada qual representando um mês do ano. Assim, no dia primeiro de janeiro, encerrava-se uma parte do ano e começava-se outra. Como ainda acontece em nossos dias, a festa de Janus era o momento para se desejar aos parentes e amigos um ano feliz e cheio de prosperidade.

*Os romanos chamavam o primeiro dia de cada mês de "calendas", daí proveio o nome "calendário". Em latim, “porta” se diz janua. Não é por acaso que o nome do mês da "entrada do ano", janeiro, faz referência a "Jano": o deus das passagens, entradas ou portas.

**Quanto a esse aspecto da divindade, os primeiros missionários cristãos em Roma podem ter ressaltado semelhança entre Jano e Jesus Cristo. A data natalícia de Cristo, próxima ao fim do ano, substituiu a de Jano. 


[LEAL, José Carlos. O Natal de Jesus: lendas, mitos e realidade. Rio de Janeiro: F.V.Lorenz, 2009, pp.69-70]
Janus possuía duas faces, uma virada para frente e outra para trás. Por vezes era representado com uma face mais velha e a outra mais nova, pois era o deus das transições: passado e futuro. 

O Dia das Legiões (25 de dezembro):


Alto relevos de legionários romanos.


Baixo relevo do Arco de Tito (82 d.C.), em Roma, mostrando soldados romanos carregando os espólios de guerra após o saque e destruição do Templo de Jerusalém, em 70 d.C.

O Dia das Legiões, em 25 de dezembro, foi uma data importante no calendário cívico da Roma antiga. Em homenagem aos soldados que fizeram a grandeza do Império, com o espólio das nações dominadas, organizavam-se banquetes, músicas e danças em festejos públicos. O legionário romano, que retornava das campanhas militares com sacos cheios de riquezas (que em muitas vezes eram produtos de saques) antecedeu a figura do Papai Noel e seus presentes. Quando o cristianismo tornou-se a religião oficial, a burocracia eclesiástica tentou apagar os vestígios da antiga festa pagã, mas, por causa da enorme popularidade, a saída foi substituí-la pela comemoração ao nascimento de Cristo.

O relato abaixo lembra-nos da essência da festividade do Natal:


Saturno era um antigo deus italiano. Tentou-se identificá-lo com o deus grego Cronos, imaginando-se que, depois de destronado por Júpiter, ele teria fugido para a Itália, onde reinou durante a chamada Idade de Ouro. Em memória desse reinado benéfico, realizavam-se todos os anos, durante o inverno, as festividades denominadas saturnais. Todos os negócios públicos eram, então, suspensos, as declarações de guerra e as execuções de criminosos adiadas, os amigos trocavam presentes e os escravos adquiriam liberdades momentâneas: era-lhes oferecida uma festa, na qual eles se sentavam à mesa, servidos por seus senhores. Isso destinava-se a mostrar que, perante a natureza, todos os homens são iguais e que, no reinado de Saturno, os bens da terra eram comuns a todos.

[BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da mitologia: a idade da fábula. Trad. David Jardim Júnior. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, 26ª ed., p. 16, com sublinhado]



Antiga escultura do deus Saturno.
A Saturnália era um festival romano em honra ao deus Saturno que ocorria no mês de dezembro, no solstício de inverno (era celebrada no dia 17 de dezembro, mas ao longo dos tempos foi alargada à semana completa, terminando a 23 de dezembro). As Saturnálias tinham início com grandes banquetes e sacrifícios; os participantes tinham o hábito de saudar-se com io Saturnalia, acompanhado por doações simbólicas. Durante estes festejos subvertia-se a ordem social: os escravos se comportavam temporariamente como homens livres; elegia-se, à sorte, um "princeps" - uma espécie de caricatura da classe nobre - a quem se entregava todo o poder. Na verdade a conotação religiosa da festa prevalecia sobre aquela social e de "classe". O "princeps" vinha geralmente vestido com uma máscara engraçada e com cores chamativas, dentre as quais prevalecia o vermelho (a cor dos deuses e, muitos séculos depois, de Papai Noel).

Segundo Pierre Grimal, Saturno é um deus itálico e seu culto foi importado da Grécia para Roma, como ocorreu com diversos outros deuses. Ele teria sido expulso do monte Olimpo por Zeus e se instalado no Capitólio, onde fundou um povo chamado Saturnia. Acredita-se também que foi acolhido por Jano, igualmente oriundo da Grécia. Seu reinado na região do Lácio ficou conhecido como a "Idade do Ouro", pela paz e prosperidade alcançadas. Segundo os relatos lendários, nesse período Saturno teria continuado a obra civilizadora de Jano e ensinou à população a prática da agricultura.

O NATAL... DE MITRA

Um outro motivo que levou os primeiros cristãos à escolha do dia 25 de dezembro para celebrar o nascimento de Cristo é o fato de que nessa mesma data (do séc. I ao IV) se festejava o nascimento de Mitra (culto surgido na Ásia em 1200 a.C.), uma divindade pagã (dentro das festividades do Sol Invencível) muito popular no Império Romano e na Pérsia. O Natal, portanto, surgiu para contrapor a tal celebração a esse deus.


Mitra, semelhante a Cristo, representava a luz, e veio trazer a benevolência, sabedoria e solidariedade aos homens. O culto chegou à Europa no século IV a.C. trazido da Ásia, quando as hordas de Alexandre, o Grande, retornaram de suas campanhas no Oriente. Os romanos respeitavam profundamente Mitra, e comemoravam a data com festas e troca de presentes.

O estudioso americano Joseph Campbell (1904-1987) notou interessantes semelhanças entre Cristo e o culto aos Mistérios de Mitra.


Portanto, missionários cristãos podem ter utilizado essas semelhanças, ligadas a figura do Cristo, a fim de ganhar a simpatia de gentios adoradores dos deuses mencionados.  





Anno Domini (1883), de Edwin Long.
No Egito, terra para onde a Sagrada Família teria fugido, a fim de escapar do massacre ordenado pelo Rei Herodes (ver Mateus 2:16-18), os festins do solstício de inverno eram dedicados à deusa Ísis. Tal culto pagão também era popular em demais territórios romanos.


Teoria do Computo é outra versão que explica a escolha do dia 25 de dezembro como sendo a data do nascimento de Jesus Cristo. Os primeiros cristãos acreditavam que Jesus teria vivido um número inteiro (perfeito) de anos, pelo que se fazia coincidir a data da sua morte com a da sua concepção. Contando-se nove meses depois de ser concebido (de forma divina no ventre da Virgem) ter-se-ia o dia 25 de dezembro. A data em que, segundo a Igreja medieval, se acreditava que Jesus teria sido gerado (em c. 4 a.C.) e morrido na cruz (em c. 29 d.C.) era 25 de março.

Porém, até o séc. XVI (surgimento do atual calendário gregoriano no Ocidente), comemorava-se o nascimento de Cristo em 7 de janeiro, de acordo com o antigo calendário juliano (criado por Júlio César em 46 a.C.), ainda em vigor para os cristãos da Igreja Ortodoxa do Leste.




AFINAL, QUAL É A VERDADEIRA DATA DO NASCIMENTO DE JESUS?


É pouco provável que Jesus tenha nascido no mês de dezembro. As Escrituras afirmam que quando Cristo nasceu haviam pastores com rebanhos nos campos. Os meses mais propícios estão entre março e setembro.



Boa Nova, de Corbert Gauthier


Anjo e Pastores, pintura de Carl Bloch


A época também era muito fria para que uma mulher em gravidez avançada viajasse até Belém, e de lá para o Egito com um recém-nascido.


Foto do filme The Nativity Story (2006)


Madona e Menino, de Corbert Gauthier



Apresentação de Jesus Menino ao Templo


Quem determinou o Ano Domini (Ano do Senhor) ou Ano I foi o monge Dionysius Exiguus ou Dionísio, o Pequeno (c.470-c.540), no séc. VI.


Natural da Cítia Menor (atuais territórios da Romênia e Bulgária), Dionísio transferiu-se à Roma por volta do ano 500. Tornou-se tradutor das principais obras da Igreja medieval (importantes bases ao direito canônico), além de ter colaborado com as datas da Páscoa.


O papa João I (c.470-c.526) pediu a Dionísio que elaborasse um calendário com o cálculo dos ciclos pascais. Aproveitando a encomenda, o monge também estabeleceu um novo calendário, em oposição ao sistema alexandrino, da era diocleciana, fixando a data do nascimento de Jesus para 25 de dezembro (de acordo com a determinação do papa Libério, como vimos anteriormente) de 753 A.U.C (Anno Urbis Conditae: Ano da Construção da Cidade, ou seja, ano contado a partir da fundação de Roma). Declarou também o dia 1° de janeiro de 754 A.U.C o início do primeiro ano da Era Cristã.


Posteriormente, descobriu-se que o monge medieval era um excelente tradutor, porém não tão bom em cálculos históricos e astronômicos, pois fixou o nascimento de Jesus três anos após a morte de Herodes.




O imperador romano à época do nascimento de Jesus foi Caio Júlio César Otaviano (ou Otávio) Augusto (63 a.C. - 14 d.C.), que promoveu um longo período de estabilidade político-econômica no Império.




Públio Sulpício Quirinio ou Cirino (c.51 a.C.–21 d.C.) foi o governador romano de parte da Palestina. Sob sua administração, foi realizado um censo em diversas cidades incluindo em Belém (Lucas 2:1-2). 


O evento aconteceu no ano 748 do calendário romano da época, o qual corresponde ao ano 6 a.C. (e pode ter durado mais de um ano).



Jesus nasceu antes da morte de Herodes I ou O Grande (c.73 a.C. - c.4 a.C.): rei da Judeia, Galileia e Samaria (colônias do Império Romano) na época do nascimento de Jesus. 


O reinado de Herodes durou de 37 a.C até sua morte. Ficou conhecido pela crueldade: assassinou vários parentes, inclusive os filhos, e ordenou o Massacre dos Inocentes (Mateus 2:16-18, confirmando a profecia de Jeremias, em 31:15, porém sem comprovação histórica), o que, segundo o evangelista, teria forçado a fuga da Sagrada Família para o Egito. Mas também promoveu importantes obras (como vários aquedutos e o Segundo Templo em Jerusalém).


Segundo informações do historiador judeu Flávio Josefo (em Antiguidades Judaicas, livro XVII, cap. 6, § 4, item 167), ocorreu um eclipse lunar pouco antes do falecimento do monarca. Assim, utilizando cálculos astronômicos precisos, obtemos o ano de 750 A.U.C, ou seja, entre março e abril de 4 a.C. (logo após o referido eclipse).


A DATAÇÃO ACADÊMICA*

O historiador e professor britânico de História Antiga do New College, de Oxford, Robin Lane Fox, no livro "Bíblia - verdade e ficção" (1993), confirmou que o tradicional cálculo do nascimento de Jesus está errado, após estudos sobre documentos da época do Cristo e fatos narrados pelos evangelistas.


O professor Charles Perrot, do Instituto Católico de Paris, em entrevista à revista francesa Le Point, segundo amplo consenso de exegetas (comentaristas e intérpretes) bíblicos e dados numismáticos (cunhados em antigas moedas), astronômicos e textuais, Jesus nasceu um pouco antes da morte de Herodes I, que morreu provavelmente em 11 de abril de 4 a.C. Portanto, para Perrot, o Cristo veio ao mundo entre 7 e 6 a.C.


O professor e padre John P. Meier, que leciona o Novo Testamento na Universidade Católica da América, em Washington, escreveu no New York Times (21/12/1986), que Jesus nasceu por volta de 6 a 4 a.C.


O astrônomo brasileiro Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, do Observatório Nacional, divulgou em artigo do Jornal do Brasil (04/01/1982), após pesquisas realizadas com cálculos astronômicos atuais sobre o antigo calendário romano e textos históricos e bíblicos, que Jesus Cristo nasceu no ano 749 da fundação de Roma, não em 754 como determinou Dionísio, o Pequeno.

Portanto, Jesus deve ter nascido antes de 4 a.C.


*
MONTEIRO, Gerson Simões. Materializações de Chico Xavier e outras recordações. Rio de Janeiro: Novo Ser, 2012, 1a ed., pp.66 a 69.



A AJUDA DA REVELAÇÃO ESPÍRITA


A exata data do aniversário de Jesus Cristo ainda é uma incógnita. Entretanto, o ano de nascimento, pelo menos a alguns espíritas e simpatizantes, é conhecido.


A psicografia de Francisco Cândido Xavier deu-nos uma informação significativa. No livro Crônicas de Além-Túmulo, 1ª edição de 1937, de autoria do Espírito Humberto de Campos, há a descrição dum diálogo do apóstolo João com o próprio Cristo. João teria revelado que Jesus teria nascido no ano 749 A.U.C. 


Ora, se o Anno Domini ou Ano I, corresponde a 754 A.U.C e tendo em vista que não há ano zero no antigo calendário romano, basta seguir a sequência emparelhada com o nosso calendário ocidental atual (gregoriano): 753 A.U.C = 1 a.C, então, 749 A.U.C. = 5 a.C.*


Assim sendo, podemos afirmar que Nosso Senhor Jesus Cristo veio ao mundo cinco anos antes da contagem oficial da Era Cristã.

*Como podemos perceber, Jesus escolheu um ano correspondente à organização DECIMAL que herdamos dos romanos (cinco é múltiplo de dez), como vemos nas décadas, séculos, milênios, lustros e jubileus.

Fonte: Artigo de Haroldo Dutra Dias em A Caridade, Congregação Espírita Francisco de Paula, Rio de Janeiro: dez. 2009, p. 03.


Vejamos outras elucidações sobre o tema à luz do Espiritismo:


VII - O Filho do Homem

... Os Cristos, Espíritos Puríssimos, não encarnam. Não têm mais nenhuma afinidade essencial com qualquer tipo de matéria, que é o mais baixo estágio da energia universal [...].

[...] Se é impraticável a um Espírito humano, inteligente e dotado de consciência, encarnar em corpo de irracional [...]  muito menos poderia um Cristo encarnar em corpo humano terrícola.


Para apresentar-se visível e tangível na superfície da crosta terráquea, teve o Cristo Planetário de aceitar voluntariamente intraduzível tortura cósmica, indizível e imensa, ainda que quase de todo inabordável ao entendimento humano [...].


[...]


O Cristo-Jesus, Senhor da Verdade e da Inteireza, foi o único Espírito absolutamente completo, com todas as suas faculdades plenamente desenvolvidas e em perfeito funcionamento, que se materializou totalmente na Terra, assumindo por inteiro a biologia e a morfologia de um Homem, com tudo o que compõe um organismo humano, sem faltar absolutamente nada, personificando o modelo físico e espiritual, perfeito por excelência, do Homo sapiens, na futura e mais elevada conformação biomentofísica que atingirá quando chegar ao seu mais alto grau de evolução terrestre. Foi por essa razão que Jesus se intitulou, com a mais plena verdade e a mais inteira justiça, O FILHO DO HOMEM. Não o fez por mera força de expressão; disse uma soleníssima verdade, da mais extraordinária significação, pois como Homem Ideal, perfeito e íntegro, ninguém teve, como ele, neste mundo, todos os sentidos funcionando em grau máximo.


[SANT'ANNA, Hernani T (pelo Espírito Áureo). Universo e Vida. Rio de Janeiro: FEB, 4a ed., 1994, pp.110-6]




NAS VÉSPERAS DO SENHOR

As forças do invisível, porém, não descansaram. Muitas lágrimas foram vertidas, no Alto, em vista de tão nefastos acontecimentos.

O Cristo reúne as assembleias de seus emissários. A Terra não podia perder a sua posição espiritual, depois das conquistas da sabedoria ateniense e da família romana.

É então que se movimentam as entidades angélicas do sistema, nas proximidades da Terra, adotando providências de vasta e generosa importância. A lição do Salvador deveria, agora, resplandecer para os homens, controlando-lhes a liberdade com a exemplificação perfeita do amor. Todas as providências são levadas a efeito. Escolhem-se os instrutores, os precursores imediatos, os auxiliares divinos. Uma atividade única registra-se, então, nas esferas mais próximas do planeta, e, quando reinava Augusto, na sede do governo do mundo, viu-se uma noite cheia de luzes e de estrelas maravilhosas. Harmonias divinas cantavam um hino de sublimadas esperanças no coração dos homens e da Natureza. A manjedoura é o teatro de todas as glorificações da luz e da humildade, e, enquanto alvorecia uma nova era para o globo terrestre, nunca mais se esqueceria o Natal, a "noite silenciosa, noite santa".

[XAVIER, p. 104]


Um site que polemiza (com algumas opiniões que este blog NÃO comunga) expondo diferenças entre o Jesus mitológico e o histórico: http://www.terra.com.br/noticias/ciencia/infograficos/jesus-mitologico-jesus-historico/


AS RAÍZES DAS BOAS FESTAS


No ano novo do Império Romano, havia o hábito de enfeitar as residências com folhagens (inclusive de pinheiros) e de presentear crianças, pobres e escravos. Como podemos ver, os cristãos ainda praticam certos hábitos das festas pagãs de final de ano.


A palavra “guirlanda” é de origem francesa (guirlande). Há séculos, tanto na Roma antiga quanto em outras regiões européias, pagãos confeccionavam coroas ou utilizavam algumas ramagens como ornamento em festividades relacionadas ao final do ano. Os cristãos também passaram a usar certas plantas nas decorações natalinas, a exemplo da Ilex aquifolium, nome científico do arbusto, que em inglês se chama "holly", de cuja madeira é empregada em diversos fins, além de ter propriedades medicinais.



Entre os antigos druidas, a cerimônia mais importante era a colhida do visco do carvalho, árvore sagrada. Por ser raro de ser encontrado na natureza e estar sempre verde, o visco simbolizava a imortalidade. Além disso, por brotar entre cogumelos que crescem em carvalhos velhos, uma espécie de agárico (Agaricus subrufescens), o qual é medicinal (reforça o sistema imunológico ao ponto de tratar casos de câncer), o visco era considerado "sobrenatural".

Gravura sobre o corte ou colheita do visco sagrado durante o ano novo druídico. Era feito pelo arquidruida que manejava uma foice de ouro.

O evento situava-se entre o fim e início do calendário druídico, de 31 de outubro a 2 de novembro, no sexto dia após a primeira lua do ano druídico. Este festival, cercado de mistérios, era denominado Samain ou Samhuinn (dele surgiu o Halloween ou Dia das Bruxas). Os solstícios de inverno (Alban Arthuan) e verão (Alban Heruin) simbolizavam a "morte" e o "renascimento" do sol e dos homens (os druidas acreditavam na reencarnação), e justificava o corte do visco sagrado, pelo arquidruida (sumo sacerdote), no inverno.

A planta, depois de colhida, era repartida e dada como presente de ano novo entre os participantes da cerimônia. O cristianismo adaptou esses elementos para as atuais festividades do fim de ano, e o visco, antes sagrado, passou a ser um mero enfeite nesse período anual.

O visco branco ou europeu frutificando.


Após o Edito de Milão, em 323, cessaram-se as perseguições aos cristãos ao instituir-se a liberdade de crença em todo o Império Romano. O cristianismo passou a ser a religião oficial de Roma, a partir de 380, época em que a tolerância religiosa terminou, pois as autoridades cristãs romanas agora passaram a perseguir violentamente os gentios e demais pessoas consideradas hereges.

O paganismo foi suprimido com a oficialização do cristianismo no Império Romano. Em todas as cidades do Império, ídolos pagãos foram destruídos e seus templos, senão demolidos, transformados em igrejas cristãs.




O pintor francês Nicolas Poussin (séc. XVII) usou como cenário de suas "adorações dos pastores" (vide os dois quadros acima) ruínas de antigos templos romanos transformados em igrejas.


Uma outra fonte sobre o costume de entregar presentes no Natal é de origem cristã:
Os Três Reis Magos do Oriente.

A Bíblia não descreve os nomes, a quantidade e nem mesmo afirma que os Magos do Oriente eram reis (Mateus 2:1). Historiadores acreditam que eles eram sábios adeptos do zoroastrismo (antiga religião que se utilizava da astrologia) e que vieram da Pérsia.



Alguns afirmam que o monge inglês São Beda (672 - 735) foi o primeiro a citar os nomes e a descrever os Três Reis Magos que conhecemos hoje. Segundo Beda, cada um veio de um continente (Europa, África e Ásia) e assim representaram todas as raças do mundo em visita a Cristo.

Visita dos Sábios, pintura de Corbert Gauthier



Adoração dos Magos (1501-06), de Vasco Fernandes.
Note a presença de um índio das Américas, à maneira de um rei mago, em visita ao Menino Jesus. Isso simboliza que Cristo veio ao mundo para salvar todas as nações, o que estimularia a catequização dos missionários cristãos, a exemplo dos jesuítas, aos povos pagãos recém-descobertos.

Segundo o Evangelho, presentearam o Menino Jesus com três substâncias que simbolizam os três valores do Messias. O ouro, trazido por Melchior, representa a realeza; o incenso, trazido por Gaspar, representa a divindade; e a mirra, trazida por Baltazar, simboliza a humanidade.


Giuseppe Messina (1893-1951), estudioso italiano da cultura iraniana medieval e moderna, afirmou em sua dissertação de doutorado, em alemão, no final dos anos de 1920, Der Ursprung der Magier und die zarathustrische Religion (A origem do mago e da religião zoroastriana), que a palavra "mago" parece derivar do persa "maga": dom ou revelação do Sábio do Senhor (Magda), anunciado primeiro a Zoroastro. Então, mago ou mogu é o participante de um dom, discípulo de Zoroastro, o fundador do mazdeísmo ou zoroastrismo.

Os magos apareceram como membros de uma casta sacerdotal da Média Pérsia voltada ao estudo da sabedoria. O geógrafo grego Strabon ou Estrabão (c.64 a.C. - c.24 d.C.) afirmou que os magos eram zelosos observadores da Justiça e da Virtude. O orador romano Cícero (106 a.C. - 43 a.C.) ensinou que eram sábios e doutores da Pérsia. É possível que os magos tenham entrado em contato com as profecias hebraicas sobre a vinda do Messias ou Libertador, durante o cativeiro dos judeus na Babilônia (entre 609 a.C e 515 a.C.), quando os persas conquistaram o Império Neobabilônico e os libertaram.

Ocupavam-se concretamente de Ciências Naturais, Medicina, Astrologia e Adivinhação. Em razão de seu duplo caráter a um tempo sacerdotes e sábios, esses homens gozavam de um grande respeito na corte a ponto de tomarem parte nos conselhos do reino. Com o passar do tempo, depois da conquista da Babilônia, a classe dos magos degenerou-se tornando-os necromantes [adivinhadores por meio da evocação dos mortos ou espíritos] e astrólogos em sentido pejorativo. Assim, eles se fizeram exploradores das crendices populares. São Jerônimo, comentando o Livro de Daniel diz claramente: o costume e a linguagem popular toma os magos por gente maléfica. Os magos que aparecem no Evangelho de Mateus aparecem como personagens sérias e importantes, homens que se dedicam ao estudo, principalmente de Astrologia.


[LEAL, José Carlos. O Natal de Jesus: lendas, mitos e realidade. Rio de Janeiro: F.V.Lorenz, 2009, p.82, com adição]



O evangelista não registrou que os magos que visitaram o Menino Jesus eram reis (até o século VI ninguém que afirmou que eram soberanos). Tal ideia surgiu sob interpretação do Salmo 72:10, sobre o Messianismo Universal: "os reis de Tarso (ou Társi) e das ilhas ofereciam presentes ao Messias". O primeiro que afirmou que os magos eram reis foi o eclesiástico francês São Cesário de Arles (c.468-542) em um sermão atribuído falsamente a Santo Agostinho. A partir do século VIII artistas representava-os com vestes reais. Porém, antes, do século II ao IV, já existiam obras artísticas sobre os magos como nobres persas, como vemos nas Catacumbas de Santa Priscila, em Roma.

Quanto ao trio de magos, tanto nos afrescos das catacumbas quanto nas esculturas dos primeiros cristãos, eles são representados apenas em dupla. No século III, as igrejas de São Pedro e São Marcelino mostram os magos em quatro. Nas Catacumbas de Santa Domitila, século IV, eles estão em seis. Em representações sírias e armênias os magos, à semelhança dos Apóstolos, são doze. O teólogo Orígenes, no século III, fixou o trio de magos com base nos três presentes. O número três foi usado também para simbolizar as três raças restantes depois do Dilúvio: os semitas (filhos de Sem), os camitas (descendentes de Cam) e os jafetistas (da genealogia de Jafé). Desde o século XII, Melchior é visto como jafetista ou europeu (pele cinza e barba negra), Gaspar é semita ou asiático (jovem e loiro) e Baltazar é camita ou africano (pele escura).


Os nomes dos magos também não são bíblicos e surgiram no século VII, através de um manuscrito encontrado na Biblioteca de Paris (que alguns atribuem ao Venerável Beda). Originalmente chamavam-se Bhitisarea, Melchior e Gathaspa. No século IX, o historiador Agnelo de Ravena (c.805-846) latinizou esses nomes que geraram as formas portuguesas que conhecemos. Outros nomes surgiram depois mas os três prevaleceram no tempo.



Nada há de errado em Jesus ter recebido tais presentes na vida real, mas também parece-nos lógico que eles devem ser vistos mais como símbolos ou metáforas do que presentes materiais.



O "Natal" dos Bárbaros


Yule é um termo arcaico, mas ainda usado em diversas culturas para designar o Natal entre países de raízes ou influências germânica e escandinava (a exemplo de Alemanha, Noruega e Dinamarca), e anglo-saxãs (como o Reino Unido, Canadá, EUA e Austrália).

Antes do cristianismo, o Yule era a celebração pagã do solstício de inverno no Hemisfério Norte. Nessa estação, os dias são mais curtos, pois o sol permanece mais próximo ao horizonte. Portanto, os rituais bárbaros procuravam trazer de volta o sol das estações mais quentes. 


Nas regiões nórdicas, o inverno é extremamente rigoroso, e a 21 de dezembro, após o solstício, acendiam enormes fogueiras para, conforme alegavam, auxiliarem  o sol em sua luta contra as trevas.


Os primeiros missionários cristãos para converter os gentios adaptaram símbolos e costumes do Yule para o culto cristão do Natal. Assim, até hoje temos enfeites natalinos feitos de abeto, pinheiro, azevinho e visco; o hábito de reunir pessoas para comer pernil na ceia; dar presentes; dentre outros costumes de origem pagã nórdica. A palavra Yule Log (cepo ou lenha que era queimada nas fogueiras cerimoniais) ainda está ligada a época natalina em diversas culturas.






Segundo pesquisas de astrônomos modernos, a Estrela de Belém, que teria guiado os Reis Magos do Oriente, ao local onde Jesus nasceu, não era na verdade uma estrela, mas muito provavelmente uma conjunção de astros.

Algumas das teorias:
- Entre os anos 3 e 2 a.C., houve uma série de sete conjunções de astros, incluindo três entre Júpiter (o rei dos planetas) e Regulus (a rainha das estrelas, no Hemisfério Norte), que poderiam ter indicado, aos Magos, o nascimento do Rei dos Reis;
- Em 17 de junho de 2 a.C., ocorreu um raro alinhamento entre Júpiter e Vênus;
- Em 12 de março de 6 a.C., ocorreu um eclipse lunar relatado por Flávio Josefo, historiador do povo hebreu;
- Em 17 de abril de 6 a.C., houve um eclipse de Júpiter pela Lua (no lado Leste desta);

Para alguns estudiosos, as duas últimas são as datas mais prováveis do nascimento do Cristo.
***
Em dezembro de 2020, os planetas Júpiter e Saturno puderam ser observados bem próximos um ao outro do ponto de vista daqui da Terra . Tal fenômeno que ocorreu da última vez há 800 anos (século XIII), e que só voltará a ocorrer em 2080, é um exemplo de conjunção que poderia explicar a tal Estrela de Belém.



A ESTRELA VISTA PELO ESPIRITISMO


Não é possível que uma estrela de verdade tenha se aproximado da Terra, para apontar o local do nascimento de Cristo. Os fenômenos astronômicos descritos acima, de acordo com as leis da perspectiva espacial e óptica, também não poderiam indicar o exato local onde nasceu Cristo. 


Entretanto, um fenômeno espiritual ou mediúnico poderia ter ocorrido, visto que somente os magos do oriente e alguns pastores avistaram a dita "estrela" sobre a humilde estrebaria. Vejamos:


O que se pode afirmar é que, nessa circunstância, a luz não podia ser uma estrela. (...) .

Um Espírito pode aparecer sob forma luminosa, ou transformar parte do seu fluído perispiritual em ponto luminoso. Diversos fatos desse gênero, recentes e perfeitamente autênticos, não têm outra causa, e essa causa nada encerra de sobrenatural.

(Trecho de A Gênese, por Allan Kardec, Opus, Cap. XV-n° 4 )


(...) Cultores da mediunidade que para eles (os magos) não tinha segredos, são avisados pelos seus mentores espirituais, logo que Jesus se encarna. E comparando o aviso recebido com as profecias que possuíam, não duvidaram em ir prestar suas homenagens ao Messias, há tanto tempo esperado e desejado. A estrela que os guiava era um espírito que se lhes apresentava em forma luminosa.

(Trecho, com adição, de O Evangelho dos HumildesEd. Pensamento, de Eliseu Rigonatti)


Estrela de Belém (1891), de Sir Edward Coley Burne-Jones  


A luz que, sob a forma de estrela, cintilava aos olhos dos magos nada tinha de comum com os astros que povoam a imensidade. Não pode o anjo da guarda mostrar-se ao homem sob a forma luminosa que julgue conveniente?

(...) Vós espíritas deveis compreender que o perispírito, sobretudo de um Espírito superior, pode tornar-se luminoso para olhos humanos, mediante uma agregação, uma condensação de fluidos e uma modificação que lhes dê forma estrelar. O que os magos viram não era uma estrela. (...) uma estrela (...) não se afastaria do centro de gravitação que lhe fora imposto, para vagabundear pelo espaço, como lanterna em mãos de um guia.
(Trecho de Os Quatro Evangelhos – vol. 1, FEB, de J. B. Roustaing - Mateus, Cap. II, v. 1-12 , n.º 43 )


Jornada dos Magos com a Estrela (c.1894), de James Tissot [pintura alterada].



A cidade de Belém fica na Cisjordânia (na margem oeste do rio Jordão) a 10 km ao Sul de Jerusalém. Na época de Jesus, a cidade pertencia à Judeia, uma das províncias romanas da Palestina.


A Basílica da Natividade é a mais antiga igreja consagrada do mundo. Foi construída pelo imperador bizantino Justiniano, no séc. VI, sob as ruínas de uma igreja erigida anteriormente pelo imperador romano Constantino, em 325 d.C. Em sua Cripta Sagrada há uma estrela de prata que, acredita-se, marca o lugar exato onde Maria teria dado à luz a Jesus. Arqueólogos descobriram cavernas no subterrâneo da Basílica que poderiam ter sido usadas como depósitos e estábulos particulares.


Foto colorizada de Belém, na Cisjordânia, por volta de 1900.


Belém fica nas colinas verdejantes da Cisjordânia, 777m acima do nível do mar e 1267m acima do Mar Morto. Seu nome em árabe é Bayt Lahm (Casa da Carne), e em hebraico é Bet Lahem (Casa do Pão). Os primeiros assentamentos foram feitos pelos caldeus em 3000 a.C., onde foi erguido um templo ao deus da fertilidade daquele povo, Laham (dele veio o segundo nome da cidade que designa um alimento).

As colinas, que retém a água da chuva e da umidade do ar (incluindo a irrigação promovida pelo homem), sempre favoreceram a agricultura e o pastoreio, o que reforçou a denominação "terra da carne ou do pão". Jesus Cristo talvez tenha feito uma ligação entre si e à cidade natal, quando afirmou Eu sou o pão da vida (João 6:22).

O local é sagrado para judeus, cristãos e muçulmanos. No final do segundo milênio a.C., a população de Belém pertencia à tribo de Judá. A tradição judaica considera a cidade como a dos antepassados daquela comunidade, além de ser berço e local de coroação do rei Davi. Acredita-se que a tumba da matriarca Raquel se encontra na entrada de Belém.

De acordo com Mateus (2:1-15) e Lucas (2:1-20), Cristo nasceu na cidade, porque José, descendente de Davi, teve que ir para lá, com Maria grávida, para participar do censo fiscal romano (feito na cidade natal dos ancestrais de cada família judia, ou seja, no local de origem de cada antiga tribo). Por isso, a Sagrada Família teria se deslocado cerca de 120 Km de Nazaré à Belém. Os dois evangelistas, assim, chamaram atenção para o cumprimento da profecia de Miquéias, sobre o nascimento do Messias na "Casa do Pão".

Os Elementos Natalinos


A origem da palavra “presépio” é latina (praesepe) e significa "manjedoura" ou "estábulo". 


O primeiro presépio que se tem notícia surgiu em 1223, idealizado por São Francisco de Assis (1182-1226) em uma gruta na aldeia de Greccio (Itália). Foi uma feliz intenção do santo para reavivar a cena do primeiro Natal para o povo, ressaltando a extrema humildade em que nasceu o Senhor.


O presépio teria sido preparado com a ajuda de Giovanni Velita, amigo de Francisco, que adaptou uma pedra bruta fazendo-a de manjedoura, forrada de palhas, e acompanhada de animais de verdade, como o jumento e o boi. Porém, em respeito ao Senhor, não colocou nela nenhuma imagem de criança.


Ao cair da noite de 24 de dezembro do mencionado ano, Francisco ajoelhou-se em oração aos pés da manjedoura, e milagrosamente o Menino Jesus tornou-se visível, estendendo-lhe os bracinhos. A notícia espalhou-se, e daí por diante o uso de se armar presépios generalizou-se.

Hoje a pedra da manjedoura está sob o altar da capela da gruta de Greccio, e os restos desse presépio estão na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma (Itália).

Segundo alguns historiadores, é provável que o primeiro presépio introduzido nos festejos natalinos brasileiros tenha sido montado no séc. XVII pelo frei franciscano Gaspar de Santo Agostinho, em Olinda (PE).



A árvore ou pinheiro de natal surgiu na época de São Bonifácio (c.672 - 755). Esse monge nasceu sob o nome de Winfrid ou Wynfryth, natural da Inglaterra (bonifacius, em latim, significa "afortunado"). Foi apelidado de Apóstolo dos Germânicos. 


Ele e seus missionários, por volta de 723, procuravam substituir o culto pagão nórdico (do norte da Europa) ao Carvalho de Thor ou de Odin (Odin foi uma espécie de Zeus da mitologia nórdica; Thor, deus do trovão, era um dos seus filhos).


Diz a tradição que Bonifácio impediu que um jovem, amarrado ao tronco, fosse sacrificado ao deus pagão (como era o costume). Depois ordenou que o carvalho fosse derrubado para a construção de uma capela (outra versão da lenda diz que a árvore foi tombada por um raio, quando o santo invocou Deus, fato que favoreceu a imediata conversão de vários gentios).


Entretanto, como o culto estava muito arraigado na cultura nórdica, Bonifácio teria criado o pinheiro ornamentando os festejos do Natal de Jesus Cristo, pois (dizem) a forma piramidal dessa árvore lembrava o formato dos montes, nos quais o carvalho ficava no alto.

O hábito de decorar abetos ou pinheiros natalinos com maçãs, velas e pequenas hóstias brancas só ganhou força por volta do século XVI. Um dos que incentivaram tal tradição cristã foi Martinho Lutero (1483-1546): fundador da Reforma Protestante.





Em 22 de dezembro de 1882, surgiu a primeira árvore de natal enfeitada com luzes elétricas (uma invenção que surgiu três anos antes). Edward Hibberd Johnson (1846-1917) - inventor, amigo e sócio de Thomas Edison (na Edison Electric Light Company) - montou a árvore em sua residência em Nova Iorque (EUA). O fato se tornou um ótimo marketing para a companhia, pois a partir daquele ano todos passaram a querer enfeitar suas casas com luzes elétricas coloridas no Natal.



Meu vídeo da inauguração da árvore de natal da Lagoa Rodrigo de Freitas (Rio de Janeiro-RJ):
http://www.youtube.com/watch?v=6vQBDQdzj9k
http://www.youtube.com/watch?v=3YRQf-_Q2f8


Devido a influência européia e norte-americana em nossa cultura, alguns alimentos tradicionais das ceias de fim de ano dos brasileiros são originários do Hemisfério Norte. Muitos desses alimentos além de caros (por serem importados) são altamente calóricos e inadequados para o verão tropical do Brasil, que começa justamente em dezembro.



Tomemos o exemplo do peru (nome comum de aves nativas da América do Norte e Central, do gênero Meleagris). 


O hábito de comer peru na ceia de natal é recente no Brasil. O costume veio sobretudo dos EUA, onde a ave é um prato típico do Thanksgiving Day (Dia de Ação de Graças), que acontece em fins de novembro (mesma época na qual os americanos começam a enfeitar o lar para o Natal). Em inglês, ele é chamado de "turkey" (turquia), pois os primeiros colonizadores da América compararam-no com a galinha-da-guiné (nome comum de diversas espécies de aves da família Numididae, a exemplo da galinha-d'angola), que vinham da África e Ásia à Europa, através da Turquia. Na época do descobrimento da América, também era chamado de galinha-da-índia, pois pensava-se que vinha das Índias.




Em nossa língua a ave é chamada de "peru", talvez porque no século XVI acreditava-se que era procedente daquele país andino (donde era exportada para Portugal). Além do mais, segundo relata o historiador português José Pedro Machado (1914-2005), a fama do Peru era tal (por suas minas de prata) que, metonimicamente, entre os portugueses, o nome também passou a designar toda a América espanhola.


A produção industrial brasileira do peru, e depois de outras aves típicas das Festas, só começou na década de 1960. Anteriormente não se costumava servir aves à ceia de fim de ano, pois se acreditava que trazia má-sorte, já que elas ciscam para trás.




No Brasil, o bacalhau é um alimento mais consumido em dois feriados religiosos: Semana Santa e Natal.

Os vikings (da Islândia e Noruega) e espanhóis são considerados os primeiros povos descobridores do bacalhau, que era farto nas águas em que navegavam. Eles apenas secavam o pescado ao ar livre até que perdesse 1/5 da parte do peso natural e endurecesse para ser consumido aos pedaços durante as longas viagens marítimas.

Mais tarde os bascos (da fronteira entre a França e Espanha atuais) iniciaram o comércio do bacalhau curado, salgado e seco.


Bacalhau do atlântico (Gadus morhua)

O peixe foi introduzido no Brasil pelos portugueses que o consumiam desde o século XV (costume herdado dos espanhóis), época das grandes navegações. O bacalhau se adequava às necessidades da época: um produto pouco perecível, que mantinha suas características gustativas após aguentar longas jornadas.


Uma espécie de bacalhau (gênero Gadus).

Em Portugal, esse alimento era acessível a uma parte da população que raramente podia comprar peixe fresco. O sabor é mais agradável do que o de outros pescados salgados. Diferente dos brasileiros, os portugueses o consomem durante todo o ano.

O bacalhau é natural do Hemisfério Norte e só habita águas frias. Em verdade, “bacalhau” (do latim baccalaureu, em espanhol bacalao, em inglês cod ou codfish) é o nome comum usado em diversas espécies do gênero Gadus e alguns dos gêneros PollachiusMolva, Brosmius dentre outros. Hoje muitas dessas espécies estão ameaçadas de extinção devido a pesca comercial intensa.



Como era a ceia de Natal dos portugueses há mais de 100 anos:




O nome “panetone” ou “panettone” (pão grande ou pão em forma de cone) veio do milanês panetùn. Na Itália, as origens desse pão doce são bem antigas. Os romanos já faziam pães com mel antes mesmo de formar o império. Bartolomeo Scappi (cozinheiro de papas e imperadores) escrevia receitas sobre tais pães. As primeiras associações do panetone com o Natal datam do séc. XVIII, quando o escritor Pietro Verri se referiu a eles como pane di tono (pão grande).

No início do séc. XX, o panetone começou a se difundir para outros lugares. Em 1919, Angelo Motta foi um dos precursores da produção do panetone industrializado atual. Por volta de 1925, Gioacchino Alemagna também foi um dos criadores do panetone moderno. Após a Segunda Guerra, imigrantes italianos levaram o pão natalino para países sul-americanos como Brasil, Argentina, Chile e Peru. Neste último, Antonio D’Onofrio (filho de italianos) foi um dos primeiros a criar uma marca própria fora da Itália.




A rabanada é um prato europeu e chegou ao Brasil através dos portugueses. Em outros países, esse alimento não é consumido apenas no Natal, a exemplo de Portugal (onde também é chamado de fatia-de-parida). Na América do Norte, Europa e Hong Kong, a rabanada (ou o similar dela, visto que há variadas receitas) é servida no café da manhã. O prato possui várias denominações pelo mundo: na Espanha é chamada de torrijas (torradas); na Itália, suppe dorate (fatias douradas); na Alemanha, armer ritter (cavaleiro ou nobre pobre); na França, pain perdu (pão desperdiçado) etc. Além do termo italiano, no Reino Unido há três nomes: poor knights of Windsor (pobre cavaleiro de Windsor), eggy bread (pão de ovo) e gypsy toast (torrada cigana). A rabanada chegou aos EUA pelas mãos dos franceses e se chama french toast 

(torrada francesa).

canela é um dos ingredientes indispensáveis da rabanada, pois é o que dá o aroma e sabor característicos desse prato típico do Natal. A canela em pó provém da casca pulverizada da árvore Cinnamomum verum, nativa da Índia, Sri Lanka, Bangladesh e Nepal. O produto é comercializado entre povos há quatro mil anos. Os portugueses detiveram o monopólio da canela entre os séculos XVI e XVII. A principal colônia asiática de Portugal para tal produção era o Sri Lanka, que antes chamava-se Ceilão. Por isso, o nome científico da canela na Europa e América Latina é Cinnamomum zeylanicum.



Os banquetes de fim de ano possuem origens nada cristãs, a exemplo da época do jovem imperador romano Elagabalus ou Heliogabalus (203-222), que em louvor ao Deus Sol Invictus distribuía alimentos ao povo durante as festividades do solstício de inverno.



Exemplos de alimentos de um festim romano e busto de Heliogabalus.

Como podemos constatar, hoje o paganismo deu lugar ao culto dos prazeres puramente materiais plasmados no consumismo desenfreado, na bebedeira, comilança, ostentação e agitação dos festejos de fim de ano. Porém, são poucos os “aptos” a desfrutar de tais deleites natalinos. 

Muitos dos usos e costumes que presenciamos no Natal contemporâneo possuem forte carga de atavismo pagão paradoxalmente longe do comportamento cristão esperado para essa época.



O (NÃO TÃO) BOM VELHINHO


Na Idade Contemporânea (a partir da 1ª Revolução Industrial, no séc. XVIII), sobretudo no Natal do Ocidente, a figura cristã do Menino Jesus foi substituída pela comercial de Papai Noel.

Vejamos como isso aconteceu no início capitalização do Natal.




A personalidade de São Nicolau Taumaturgo (c.270 - c.343) - Bispo da cidade de Mira, no Leste da atual Turquia - há séculos é venerada.


Nasceu provavelmente em Petara, no litoral sudoeste turco. Apesar da boa índole, Nicolau aparentemente foi um homem de personalidade forte. Sob o império de Diocleciano, esteve no cárcere por recursar-se a abjurar a fé ao Cristo. 


Após a subida de Constantino I ao trono (o primeiro imperador cristão), Nicolau voltou a sofrer oposição, desta vez de setores do próprio clero cristão, que repudiavam a (suposta) intensão de Nicolau em doar os bens da Igreja aos pobres. 


Dizem que, durante uma reunião de eclesiásticos, chegou a esbofetear um antagonista. O incidente gorou as chances de Nicolau em ser eleito papa. O santo, porém, continuou a auxiliar os mais necessitados até o fim da vida.


Há inúmeras estórias contando feitos que São Nicolau protagonizou quando vivo e até mesmo depois de morto (o termo “taumaturgo” designa “milagroso”), como resgatar uma criança perdida na floresta, salvar um barco dum naufrágio e distribuir pães aos pobres (por isso ele é santo protetor das crianças, marinheiros, padeiros e demais pessoas). 


Um dos feitos que relacionam ele ao costume de dar presentes é a história que afirma que o santo salvou da prostituição as filhas de um mercador falido: jogou sacos com moedas de ouro na janela delas, que serviram de dote para o casamento.

Em lugares onde o catolicismo predomina (principalmente o da Igreja Ortodoxa do Leste), é o próprio santo que “entrega” os presentes de natal (normalmente no Dia de Reis, em 6 de janeiro). Assim é na Rússia e Grécia, onde ele é santo padroeiro nacional.


A partir da 2ª Guerra Mundial (1939-1945), o Brasil passou a receber forte influência cultural dos EUA, inclusive quanto aos festejos natalinos:



"... Dona Alice conta um pouco de sua infância, vivida muitos anos atrás, por volta de 1900.

Eu não lembro de ter tido nunca um brinquedo. Naquele tempo a gente falava São Nicolau... Papai Noel veio depois, é coisa americana. D. Maricota falava para os filhos: Agora é tempo de São Nicolau, vocês andem direitinho...

E eu acreditava e ficava assim espantada, quando eu via que trazia presentes pra eles e não trazia para mim. "

(Fonte: BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1979, p.103).



Papai Noel é chamado na Inglaterra de Father Christmas. No Brasil, o nome veio de sua denominação francesa: Père Noël. Os portugueses traduziram ambos os termos e chamam-no de Pai Natal. Colonos holandeses e germânicos levaram a figura natalina de São Nicolau para a América do Norte, a partir do séc. XVII. E do nome holandês Sinterklaas e do germânico Nikolaus surgiu o americano Santa Claus.
Nas regiões germânicas ele também é chamado de Weihnachtsmann (Homem Natal) ou Kris Kringle.
  
Com o tempo, a personalidade católica de São Nicolau ficou em segundo plano pela figura de Papai Noel, sobretudo nos países de maioria protestante, a exemplo dos EUA.


Como podemos ver pelos trajes pesados e quentes de Noel, tal figura está mais adaptada ao Natal dos países da Europa e América do Norte (onde nessa época do ano há neve) do que aos países de clima bem mais quente igual ao nosso.




Papai Noel, para várias culturas, não é um "monopólio" quando o assunto é um personagem que entrega presentes no Natal.

Na Rússia, além de São Nicolau, há o folclórico Ded Moróz (Vovô Gelado): um velhinho menos gordo, de barbas longas e vestindo um fato vermelho ou azul. Ele anda em uma troica (carroça tipo trenó puxado por cavalos) junto com sua neta Snegurochka (Donzela da Neve). Eles distribuem presentes às crianças no Ano-Novo do calendário da Igreja Ortodoxa do Leste (que corresponde ao 14 de janeiro em nosso calendário gregoriano).

Também no folclore russo das Festas de fim de ano há boa velhinha chamada Babouschka (Avozinha). A lenda diz que no passado tal senhora não deu guarida aos Três Reis Magos, quando eles estavam de passagem a caminho de Belém. Para se redimir do erro, todo Natal (que é em 7 de janeiro, segundo a Igreja Ortodoxa) ela distribui presentes às crianças do seu país.



Já na Itália a boa velhinha, na verdade uma boa bruxa, que entrega presentes e doces às crianças, pelo mesmo motivo da Babouschka, porém no Dia de Reis (6 de janeiro) chama-se La Befana.







Algumas características de Papai Noel são o resultado do sincretismo religioso entre crenças pagãs e cristãs iniciado séculos atrás. O historiador romano Tácito (c.56 – c.117) documentou em sua obra “Germânia” o culto à deusa da fertilidade Hertha ou Nerthus dos povos teutões (ancestrais dos alemães), a qual aparecia na lareira e trazia boa sorte aos lares. Daí veio a crença de Papai Noel descer pela chaminé das casas para deixar presentes ao pé da árvore de natal ou dentro das meias dependuradas na lareira.



Uma das origens do trenó de Papai Noel puxado por renas voadoras veio da mitologia das nações bárbaras do Norte da Europa (a exemplo dos vikings). Os povos daquela região associavam a chegada do inverno com a vinda da carruagem do deus Thor, que era puxada por duas renas chamadas Cracker e Gnasher.

Thor era filho de Odin, pai dos deuses nórdicos. Aliás, a imagem de Papai Noel (homem branco e velho com longa barba branca) em parte teria sido inspirada nas imagens pagãs de Odin.


O Bom Velhinho do Natal possui certas características mágicas de deuses pagãos nórdicos, como no caso de Odin Andarilho ou Viajante, que, durante o inverno rigoroso, entrava e saia de recintos fechados (como nos lares) sem ser percebido.

Outro folclore pagão que pode ter influenciado o mito das renas voadoras do Papai Noel é a lenda siberiana das Renas Celestes de Seis Patas. Conta-se que no início dos tempos um caçador conseguiu laçar uma delas. Porém, como ele usava esquis, foi arrastado pela rena que levantou vôo. Podemos ver eles no céu do Hemisfério Norte: a Estrela Polar é o caçador, a Constelação de Plêiades é a rena, e a Via Láctea é o rastro dos esquis.


Na Inglaterra há registros de canções de c.1458 sobre Sire Christëmas (Senhor Natal), que depois passou a se chamar Sir ou Lord Christmas e por fim Father Christmas. Durante a Era Tudor (1485-1603) e a Vitoriana (1837-1901) Old Father Christmas era representado vestindo roupas de cor verde.






O Papai Noel que conhecemos foi criado oficialmente nos EUA em 1823 pelo pastor e poeta Clement Clarke Moore (1779-1863), que descreveu suas vestes e trenó em um poema intitulado “A Visit from St. Nicholas” (Uma Visita de São Nicolau) publicado no periódico nova-iorquino “Troy Sentinel”.

O primeiro artista a retratar a figura de Papai Noel foi o cartunista americano Thomas Nast (1840-1902). Em 1866, ele publicou a história do Bom Velhinho em desenho num encarte especial de natal, intitulado “Santa Claus and his Works” (Papai Noel e suas Obras), do jornal semanal, também de Nova Iorque, “Harper’s Weekly”.



A publicidade também ajudou a difundir a imagem do Papai Noel. O Velhinho e suas roupas vermelhas (que possuem grande atração visual) foram utilizados por uma famosa fábrica americana de refrigerantes: em 1930, uma propaganda divulgou pela primeira vez a figura de Noel bebendo o refrigerante na revista nova-iorquina Saturday Evening Post.

Porém, a exemplo dos desenhos de Nast, essa propaganda não lançou a roupa vermelha do Papai Noel. Há um cartão-postal na Alemanha, datado de 18/12/1897, que já mostrava o Bom Velhinho vestido assim. O cartão pertence a colecionadora Christl Hütten, segundo o jornal Thüringer Allgemeinen (Fonte: Jornal do Brasil, 25/12/2007).




E assim Papai Noel se tornou um excelente garoto-propaganda para o capitalismo moderno no Natal. Ele ajuda a atrair, por exemplo, famílias (consumidores) para os shopping centers como se vê nas campanhas publicitárias.

Papai Noel já foi considerado inimigo do cristianismo:

A Igreja protestava contra a paganização do Natal e o crescente protagonismo de Santa Claus.


No Natal de 1951 comemorou-se o último auto de fé na Europa. A fogueira se acendeu em frente a catedral de Dijon, uma bela cidade do norte da França, apesar de a vítima não ser nem um herege nem uma bruxa, mas uma criatura que aos poucos ia se impondo no espírito do continente: Papai Noel. O grande antropólogo francês Claude Levi-Strauss escreveu um texto sobre aquela estranha cerimônia intitulado ‘O suplício de Papai Noel


A ideia de queimar Santa Claus em público em 23 de dezembro de 1951 veio de uma estranha união entre as igrejas católica e luterana como “protesto pela crescente paganização das festas” ...


... o sucesso desse idoso bonachão se deve a que “nas sociedades os ritos de iniciação têm uma função prática”. Nesse caso, a chantagem a que são submetidas as crianças que receberam presentes em troca de seu bom comportamento durante o ano ...


... Não havia cartões de Natal na Inglaterra de 1843 [1ª pub. de A Christmas Carol, de Charles Dickens], não havia árvores de Natal nas residências reais, as empresas não fechavam por uma semana, nem se celebravam tantas missas à meia-noite. Para a igreja anglicana, todo o tema do Natal tinha um gosto distante de paganismo”, ...


... o pagão e o religioso, o sagrado e o profano, estão unidos nessas festas que nunca conseguiram se separar de sua origem mais remota, o sol invencível. Depois de meses de dias cada vez mais curtos e noites intermináveis, o solstício de inverno marca o princípio de um novo tempo. Nenhuma outra festa reflete uma mistura tão profunda e remota de costumes e ritos, aos quais vão se incorporando todo tipo de novos mitos.



Antonio Rodrigues
(Rio de Janeiro - RJ, 1918 - 1990)
O Papai Noel do Maracanâ

Carioca de Vila Isabel, Antonio Rodrigues foi  entregador de marmita, afinador de pianos da Escola Nacional de Música e motorista de ônibus da linha Muda- Copacabana.
E foi ao volante da lotação, que Antonio decidiu a melhor maneira de ajudar as crianças: Se tornando o “bom velhinho”.

Em 1952, encontrou vaga de Papai Noel nas Lojas Americanas de Copacabana, com um salário de 150 cruzeiros. Ao vestir a roupa natalina, não resistiu a emoção e chorou. As lágrimas destruíram a maquiagem e ele começou na função uma hora depois do combinado.

Dez dias depois, sabendo que a Legião Brasileira de Assistência faria uma grande festa no Maracanã, procurou a primeira-dama, Darcy Vargas, e ofereceu-se para ser o Papai Noel.
Assim , em 22 de dezembro de 1952 , Papai Noel descia pela primeira vez de helicóptero no estádio cheio de crianças.

Homenagem:
Em 1958, o prefeito do Distrito Federal, José Joaquim de Sá Freire Alvim, lhe concedeu o título oficial da cidade;
Em 1959, o Presidente Juscelino Kubitschek concedeu-lhe o título de Papai Noel Oficial do Brasil;
Em 1963, ele ganhou a carteira de identidade número 505520 do Instituto Félix Pacheco, com o título incorporado ao nome.

Curiosidade: Foi recebido pelo Papa João XXIII, orou na Igreja de São Nicolau e jurou no túmulo do santo que inspirou a legenda do Papai Noel, que “Todos os anos plantaria a bandeira da inocência, amor e paz na terra”.
Foi casado por 53 anos com Dona Naílda, tendo uma única filha que morreu logo após o nascimento.
Morou por muitos anos na famosa casa amarela na rua Maxwell, 20-B, onde os Correios -  que sabiam de cor esse endereço – entregavam todas as cartas destinadas ao Papai Noel.
Ao longo de 38 anos reuniu milhões de pessoas no Maracanã pra assistir à sua chegada.
Morreu em 20 de novembro de 1990, aos 72 anos, de câncer.


Fonte: Marcello Ferreira (Texto com referência no Blog Nossos Vizinhos Ilustres, de Gilda Boruchovitch e Elizabeth de Mattos Dias) e Revista Veja Edição n° 1158 – 1990  | Foto: Blog Nossos Vizinhos Ilustres, Jornal O Globo e Jornal Correio da Manhã, Edição 23506/1969

E infelizmente, diferente das histórias que nos chegaram sobre o caridoso Nicolau de Mira, Noel só costuma “entregar presentes” a quem pode comprá-los (Já faz tempo que eu pedi/ Mas o meu Papai Noel não vem/ Com certeza já morreu/ Ou então felicidade/ É brinquedo que não tem - trecho da marcha "Boas Festas", de 1932, de Assis Valente). 

Patinete no Morro
(1954)

Papai Noel
Não sobe na favela
O morro também
Tem garotada
Eu botei o meu tamanco
Na janela, e de manhã
Não tinha nada

Patinete lá no morro
É um cabo de vassoura
E tampa de goiabada

E é assim
Que vai crescendo
O cidadão
Vendo morrer
Ilusão sobre ilusão

Você condena
Sem pedir perdão ao céu
É triste um garoto pobre
Crescer sem Papai Noel

Samba de Luís Antônio lançado na voz de Marlene: 
http://www.youtube.com/watch?v=3W1UhUhcGJ0

Famosa charge de Henfil.


É importante que as crianças tenham suas fantasias infantis, mas também lembramos que é fundamental conscientizá-las sobre as verdades da vida, que devem ser reveladas com todo cuidado. E para os pequenos de hoje, o acesso às mídias eletrônicas trazem todo tipo de informação sem o devido preparo.

Aos pais e responsáveis, as informações aqui apresentadas são importantes para a conscientização das crianças sobre o que é o Natal de verdade. Esses conselhos sobretudo são para quem está começando a educar alguém bem pequeno que aos poucos está tendo consciência da vida.



Devemos explicar aos poucos que Papai Noel é apenas uma personagem fantasiosa (como nos desenhos animados), pois quem entrega os presentes de natal são as pessoas que gostam uma das outras (inclusive a própria criança pode participar da entrega). Dizer que o Natal é a celebração dos cristãos (lembrar que existem outras crenças) pelo nascimento de Jesus e não a chegada de Papai Noel.


Se Jesus tivesse nascido hoje, vindo de uma família muito pobre, é provável que novamente passaria desapercebido em uma sociedade que dá mais valor aos bens materiais do que aos espirituais.





Além disso, explicar que o Natal não é APENAS dar e receber presentes comprados no comércio. Pois há outros presentes muito mais importantes como a amizade, solidariedade, caridade, perdão, concórdia, cooperação, carinho, enfim, o amor em várias vertentes que pode ser praticado por pessoas de qualquer religião.


O apelo ao consumismo é tão forte na época natalina, que esquecemos a prática da fraternidade cristã para qual a data foi criada.

É claro que o que mais vale é a intenção do ato. Há pessoas que se vestem de Papai Noel para praticar a solidariedade. Mas também não podemos esquecer que cada um pode sem roupa vermelha e barba postiça doar brinquedos, vestuários, alimentos ou até uma simples palavra carinhosa para crianças e adultos que o Bom Velhinho não costuma visitar.



Devemos falar de presentes que não se encontram nas lojas. Algo que pode ser produzido no interior das pessoas para depois ser materializado nos relacionamentos sociais.

Só assim poderemos vivenciar uma tentativa de retorno ao primeiro Natal que aconteceu numa humilde estrebaria, entre animais e pessoas simples e boas.
Naquele Natal não havia ceia com peru, nem pinheiro com luzes piscantes, nem neve artificial, nem presentes aurifulgentes de shoppings, muito menos Papai Noel gordo e rosado. Apenas calor humano amoroso e sincero.



A palavra “Natal” é originária do latim e significa natividade ou nascimento. Em inglês, Christmas surgiu de Christemasse ou Christ Mass (Missa de Cristo), que é o culto cristão promovido na noite da Véspera de Natal (entre 24 e 25 de dezembro). Em alemão é Weihnachten, "Noite Bendita".

Portanto, quem se diz cristão tem a obrigação de se lembrar do Aniversariante. E como essa data foi quase que convencionalmente criada (como constatamos), maiores razões o cristão tem para ser solidário com seu próximo durante todos os dias ano, já que Jesus Cristo pode ter nascido em qualquer outro dia.





Um verdadeiro Feliz Natal e um Ano-Novo cheio de realizações a vocês e seus entes queridos!



Fonte principal: Wikipedia

Trecho de "Noite Feliz". Grupo André Vivante:

http://www.youtube.com/watch?v=UfGVQq0tK-Y