O CARNAVAL QUE CANTA HISTÓRIA


No animado Carnaval
em breve uma grande festa transbordará.
Pyotr Vyazemsky, poeta russo (1792-1878)


A origem do Carnaval é pagã. Os ancestrais dos festejos carnavalescos são muito mais antigos do que se imagina. Há pelo menos 12 mil anos, homens, mulheres e crianças se reuniam no verão (que no Hemisfério Norte começa em junho) com os rostos mascarados e os corpos pintados para espantar os espíritos das colheitas ruins.

Na Antiguidade, na Babilônia, havia a festa pagã chamada Saceia. Uma festa do "mundo invertido" ou da "inversão dos costumes", característica do carnaval: homens vestem-se de mulheres, plebeus (ou pobres) fantasiam-se de nobres (ou ricos), casados relacionam-se como se fossem solteiros etc. Caía-se na folia: "folie" em francês significa "loucura", foliões = loucos.

Na Saceia condenados à morte podiam viver como reis por cinco dias. Após esse período eram executados de forma cruel, como os animais sacrificados nos altares para os deuses.

No Egito Antigo, mais para o período da influência greco-romana, havia uma festividade dedicada à Isis, deusa da fecundidade. O Navigium, que significa "navegar", pois possuía o desfile de um barco enfeitado: Carrus Navalis.

Alguns afirmam que o termo "carnaval" veio da festa egípcia. No entanto, a origem mais certa seria o nome latino "carnis levale": levantar, suspender ou proibir (de comer) a carne.  Devido ao antigo costume da abstenção do consumo de carne durante a Quaresma pelos cristãos católicos.

Fonte: Vídeo do historiador Eduardo Bueno no canal do Youtube Buenas Ideias =  https://www.youtube.com/watch?v=liBzbHlfK4g


Passatempo no Egito Antigo (1863). Pintura de Lawrence Alma-Tadema.

Detalhe de Primavera (1894). Pintura de Lawrence Alma-Tadema.


Festa da Colheita ou Bacante Dançarina (c.1880). Pintura de Lawrence Alma-Tadema.
Um dos instrumentos mais populares de percussão na Grécia Clássica era o tympanon: tambor-de-mão ou tamborim. Com ele, as sacerdotisas dançavam em honra a Dionisio e outros deuses. Um grande número de tamborins tocados juntos, segundo relatos escritos na época, podiam suscitar frenesi ou histeria em massa (alguma semelhança com o carnaval de hoje?).


No Caminho do Templo de Ceres (1879), de Lawrence Alma-Tadema.
Os romanos imputavam à deusa Ceres (Deméter, para os gregos) a germinação dos grãos, sobretudo do trigo (dela adveio o nome "cereal"). A festa ocorria em abril - início da primavera no Hemisfério Norte - época da semeadura. O principal templo de Ceres situava-se no Monte Aventino, em Roma.

No Egito antigo, havia festas aos deuses Ísis e Osíris e ao touro Apis. Estes eventos antecediam os meses de fevereiro e março, que marcavam a passagem do período da semeadura para a colheita nas terras férteis do Nilo.

Os gregos e romanos comemoravam suas colheitas com as saturnálias (17 de dezembro, ver a página do blog sobre o Natal), lupercais (15 de fevereiro) e bacanálias (sem data definida). Esses festejos estavam relacionados a fenômenos astronômicos e ciclos da natureza, a exemplo das estações do ano.

FEVEREIRO: O MÊS DA PURIFICAÇÃO ROMANA

Lupercália era um antigo festival pastoral anual, possivelmente pré-romano, celebrado em Roma de 13 a 15 de fevereiro para afastar os maus espíritos e purificar a cidade, desejando saúde e fertilidade. Lupercália também era chamada "Dies Februatus" (Dias de Februato, em latim), que deram o nome ao mês fevereiro.

O festival ficou mais tarde conhecido como "Februa" (Purificações). Também era conhecido como "Februatus" ou "Februata" como sua divindade padroeira: um deus chamado Februus. Algumas fontes conectam a palavra latina para febre (febris) com a mesma ideia de purificação ou purgação, devido ao suor comumente visto em associação às febres.

Februus, cujo nome significa "purificador", era o deus da purificação. Ele também foi adorado sob o mesmo nome pelos etruscos. Também era o deus do Submundo, o mundo dos mortos, conhecido pelos gregos como Hades. Para os etruscos, Februus era o deus das riquezas materiais e da morte, ambos ligados ao Submundo da mesma maneira natural que o deus romano Plutão.

Como Februus era o deus pagão do Mundo dos Mortos, como o romano Plutão, o mês dele, fevereiro, estava ligado à morte, porém o fenômeno era visto como purificação por alguns povos antigos. Como a flora que "morria" no frio do inverno para renascer "purificada" (renovada) na primavera. O mês de fevereiro situa-se na passagem dessas estações do ano.

Februus pode ter se tornado a Febris romana, deusa da febre (febris em latim significa febre) e da malária. Possivelmente, estão relacionados ao suor de febres, considerado um processo purgativo, de lavagem e de purificação.

Februus está ligado ao festival da primavera de lavagem e purificação. Eram três dias, como os dias carnavalescos. O dia 15 de fevereiro era o auge do festim, assim como a Terça-feira Gorda que conhecemos. A Igreja adaptou esse costume para definir os dias do carnaval no calendário seguido pelos cristãos, porém nossa festa é móvel. 

Essas atividades de purificação da primavera ocorreram quase ao mesmo tempo que Lupercalia, um festival romano em homenagem a Fauno e também à loba que cuidava de Rômulo e Remo, durante o qual sacrifícios expiatórios e rituais de purificações eram realizados. Por causa dessa coincidência, os dois deuses (Fauno e Februus) eram frequentemente considerados a mesma entidade.

O nome Lupercalia era considerado na antiguidade para evidenciar alguma conexão com o festival grego antigo da "Lykaia arcadiana", um festival do lobo (grego: λύκος, lýkos; latim: lúpus), e a adoração de Licau Pan, considerado um equivalente grego Fauno. Era descrito como alguém que andava seminu, coberto apenas com pele de cabra (o costume de andar com pouca roupa até hoje, como se vê no carnaval brasileiro!). O festim ocorria no Lupercal, a caverna onde segundo a tradição Rômulo e Remo foram amamentados por uma loba. A caverna ficava no sopé do Monte Palatino, onde Rômulo teria fundado Roma.


Nota-se que o Carnaval, festa móvel no calendário, sempre ocorre nos meses de fevereiro ou março: fim do inverno e início da primavera no Hemisfério Norte (épocas significativas para quem vive da agricultura e do pastoreio).


Procissão ao Touro Apis (1879). Pintura de Frederick Bridgeman.


Procissão à deusa Ísis (1902). Pintura de Frederick Bridgeman.


Festa da Vindima (c.1870). Pintura de Lawrence Alma-Tadema.

Bacanália (1871). Pintura de Lawrence Alma-Tadema.

Culto a Baco (1889). Pintura de Lawrence Alma-Tadema.


Sacerdotisa de Baco (1885-89), de John Collier.
As bacantes, seguidoras dos rituais a Baco, também eram chamada de tíades, pois participavam dos tiasoi (cortejos do culto ao deus grego Dioniso, chamado pelos romanos de Baco). Os festins dionisíacos também correspondiam à lupercália romana (festa em homenagem ao fauno Luperco ou Pã), comemorada em fevereiro.

Na época da Roma pré-cristã, os camponeses já embebedavam-se para comemorar a colheita. Até escravos podiam cair na folia bebendo e usando máscaras. Nas bacanálias ou bacanais - festas em homenagem a Baco, deus do vinho - havia também orgias alcoólicas, alimentícias e sexuais. A imagem do obeso Rei Momo atual é muito semelhante a do antigo Baco, pois simboliza a fartura.

Escultura de Baco (séc. XVI) numa fonte do Jardim Boboli, 
no Palácio Pitti, Florença (Itália).

O Reino de Momo

A propósito, Mômos ou Momus (em grego,  Μῶμος) era o nome do deus greco-romano do riso, burla, sarcasmo e sátira (inclusive na literatura) e era personificado usando uma máscara e levando à mão um boneco simbolizando a loucura.

O reinado do antepassado do rei momo atual era breve e trágico: durante os festejos, escolhiam um indivíduo para ser tratado como um rei (geralmente um prisioneiro condenado à pena capital). Ele deveria comer e beber do bom e do melhor por três dias, para depois ser sacrificado em homenagem a Momus ou Saturno (divindade da agricultura). O costume foi provavelmente herdado dos festins de final de ano dos antigos povos mesopotâmios (ver página sobre o ano novo neste blog).


Orgia nos tempos de Tibério (1881), de Henryk Siemiradzki.
Crônicas da época da Roma Antiga afirmavam que o Imperador Tibério César mandava empurrar inimigos e demais vítimas suas do alto do precipício de seu palácio de veraneio na Ilha de Capri, Itália.


Rei Momo é um personagem da mitologia grega que se tornou um símbolo do Carnaval.

Momo (personificação da zombaria) era um dos vários filhos que a deusa Nix (a noite) teve com Érebo (as trevas) ou sozinha (segundo algumas versões da lenda).

Foi escolhido para julgar qual deus, dentre Zeus, Poseidon e Atena, poderia fazer algo realmente bom. Zeus fez o melhor dos animais, o Homem, Atena fez uma casa para as pessoas morarem, e Poseidon fez o touro.

Momo, então, que ainda vivia entre os deuses e tinha o hábito de não gostar de nada, criticou o touro porque não tinha olhos embaixo dos chifres que o permitissem mirar melhor os seus alvos quando ele fosse dar uma chifrada, o homem por não ter uma janela no seu coração para que o semelhante pudesse ver o que ele estava planejando, e a casa porque ela não tinha rodas de ferro na sua base para que fosse movida (curiosamente Momo previu a invenção dos trailers).

Momo acabou expulso do Olimpo – morada dos deuses gregos – porque tinha como diversão ridicularizar as outras divindades.

Reynaldo Carvalho, o Bola, foi talvez o mais popular Momo carioca. Reinou de 1987 a 1995, ano em faleceu (foto dos anos de 1980). Fonte da foto: http://megaarquivo.com/tag/rei-momo/

Em 1862, o artista germano-brasileiro Henrique Fleiuss estampou na revista Semana Ilustrada talvez o primeiro desenho do rei Momo no país. Entretanto, durante muito tempo Momo fez parte do Carnaval carioca, como também de outros carnavais, sem no entanto incorporar uma figura específica.

Em 1910 o palhaço negro Benjamim Oliveira personificou o Rei Momo, pela primeira vez no Rio de Janeiro, numa atuação do Circo Spineli.

A figura atual do Rei Momo carioca surgiu em 1933, quando Edgard Pilar Drumond, também conhecido por Plamenta, cronista carnavalesco, juntamente com o jornalista Vasco Lima e outros do jornal A Noite, criaram um boneco de papelão a que chamaram Rei Momo I e Único, esculpido pelo artista Hipólito Colomb.

Além disso, o jornalista Moraes Cardoso, responsável pela coluna de turfe de A Noite, foi escolhido pela presidência do mencionado jornal para personificar Momo, durante um concurso, por ser excessivamente obeso. Cardoso reinou o carnaval do Rio até 1948, quando faleceu. Desde 1950, há um concurso oficial para a escolha do Momo carioca.

A importância do Rei Momo para a cidade do Rio de Janeiro pode ser atestada pelo fato de vários prefeitos, nos primeiros dias do carnaval, entregarem as chaves da cidade a ele, como se, a partir deste momento, quem governasse não fosse mais o prefeito, mas o Rei Momo.

Fonte principal: site do Mega Arquivo.

O Jovem Baco (1884). Pintura de Adolphe Bouguereau.

Bacanal em honra a Pã (c.1716), de Sebastiano Ricci.

Bacanália (1907), de Grob Conrad.
Em tais festividades, provavelmente também havia práticas de zoofilia.

Baco com Duas Ninfas e Cupido (Séc. XVII), de Caesar van Everdingen.


Inocência da Primavera (1937), de Norman Lindsay.
Entre os festivais das tribos celtas (diversas tribos da Antiguidade que habitaram territórios da Turquia à Grã-Bretanha), havia o Imbolc ou Oimelc, que era celebrado na época do nascimento dos cordeiros, e destinava ao fato das ovelhas estarem produzindo leite (importante fonte de alimento às tribos). A festa acontecia por volta de 1º de fevereiro e antecipava o início da primavera, que simbolizava a infância física do homem (período da amamentação, semelhante aos cordeiros recém-nascidos). O festim exaltava a inocência infantil, quando ainda não há pudor. O carnaval, levado às antigas regiões célticas pelos cristãos, comungava com essa característica do extinto festival pagão.

Fonte: MONTEIRO, Eduardo C. Allan Kardec: o druida reencarnado. São Paulo: Eldorado, out. 1996, 2ª ed., p. 17, com adição.


A mitologia esclareceu a origem de Baco (filho ilegítimo de Júpiter ou Zeus) e a natureza oriental, selvagem e popular de suas festividades, as quais são as raízes do carnaval atual.


Escultura de Dionísio ou Baco (séc. II d.C.), 
cópia romana da original grega.
Museu do Louvre (Paris).

... Baco descobriu a cultura da vinha e o meio de extrair da fruta o precioso suco; Juno [esposa de Júpiter ou Zeus], porém, tornou-o louco e fez com que ele vagasse por várias partes da Terra. Na Frígia, a deusa Réia curou-o e instruiu-o em seus ritos religiosos, e ele atravessou a Ásia, ensinando os povos a cultivar a vinha. O episódio mais famoso de suas viagens foi a expedição à Índia, onde ficou durante vários anos. Voltando triunfalmente, tratou de introduzir seu próprio culto na Grécia, mas contou com a oposição de alguns príncipes, receosos da desordem e loucura que o mesmo provocava.

Ao aproximar-se de sua terra natal, Tebas, o Rei Penteu, que não respeitava o novo culto, proibiu a execução de seus rituais. Quando se soube, porém, que Baco se aproximava, homens e mulheres, principalmente as últimas, velhos e jovens, correram a recebê-lo e participar da marcha triunfal.

[BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da mitologia. Trad. David Jardim Júnior. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, 26ª ed., cap. XXI, p. 197, com adição]

A Decadência dos Romanos (1847), de Thomas Couture.


Noite de orgia romana nos tempos dos césares (1872), de Henryk Siemiradzki.



O Avanço da Primavera (1905). Pintura de Charles Daniel Ward.


A IGREJA CRISTÃ LIMITOU O CARNAVAL

O Papa Gregório I ou Gregório Magno (c.540-604) proibiu os fiéis cristãos de consumir carne durante os 40 dias da Quaresma. Quem podia, pois, fartava-se dela nos três dias que antecediam o período quaresmal (repletos de jejuns, preces e reclusão). Atualmente, apenas na Sexta-Feira da Paixão os católicos praticantes comem peixe no lugar de carne vermelha.

Por isso o carnaval é conhecido por "festa da carne", "festa dos dias gordos" ou "festa carnal" (muitos fartavam-se e ainda fartam-se também de bebidas alcoólicas, drogas ilícitas e ato sexual).

Muitos séculos depois, a celebração acabou tornando-se uma brincadeira típica das cidades. A Igreja Católica tentou proibir tais festejos (lembrando o mitológico rei tebano Penteu) pagãos e pecaminosos , mas fracassou. A saída foi limitar a folia, iniciando-a na Epifania (Dia de Reis) e findando-a na Quarta-feira de Cinzas*, o início da Quaresma**: os quarenta dias anteriores à Semana Santa.

Os fiéis extravasavam tudo no Carnaval, já que após o mesmo advinha um longo período de recolhimento, preces e jejuns. Eis o motivo do nome "Terça-feira Gorda", para designar a Terça-feira de Carnaval, pois sendo o último dia antes da Quaresma, os fiéis (que podiam) fartavam-se com carne.

*A Quarta-feira de Cinzas representa o primeiro dia da Quaresma no calendário gregoriano, podendo também ser designada por Dia das Cinzas e é uma data com especial significado para a comunidade cristã. A data é um símbolo do dever da conversão e da mudança de vida, para recordar a passageira fragilidade da vida humana, sujeita à morte. Coincide com o dia seguinte à terça-feira de Carnaval e é o primeiro dos 40 dias (Quaresma) entre essa terça-feira e a sexta-feira (Santa) anterior ao domingo de Páscoa.
A origem deste nome é puramente religiosa. Neste dia, é celebrada a tradicional missa das cinzas. As cinzas utilizadas neste ritual provêm da queima dos ramos abençoados no Domingo de Ramos do ano anterior. A estas cinzas mistura-se água benta. De acordo com a tradição, o celebrante desta cerimônia utiliza essas cinzas úmidas para sinalizar uma cruz na fronte de cada fiel, proferindo a frase “Lembra-te que és pó e que ao pó voltarás” ou a frase “Convertei-vos e crede no Evangelho”.
Na Quarta-feira de Cinzas (e na Sexta-feira Santa) a Igreja Católica aconselha os fiéis a fazerem jejum e a não comerem carne. Esta tradição já existe há muitos anos e tem como propósito fazer com que os fiéis tomem parte do sacrifício de Jesus. Assim como Jesus se sacrificou na cruz, aquele que crê também pode fazer um sacrifício, abstendo-se de uma coisa que gosta, neste caso, a carne.


**A palavra “Quaresma” vem do latim “quadragésima [dies]”, isto é, “quarenta” [dias], e está ligada a acontecimentos bíblicos que dizem respeito à história da salvação: jejum de Moisés no Monte Sinai, caminhada de Elias para o Monte Horeb, caminhada do povo de Israel pelo deserto, jejum de Cristo no deserto. Como outrora o povo de Deus caminhou 40 anos no deserto, rumo à Terra Prometida (Terra de Canaã), e Jesus se retirou 40 dias no deserto, preparando sua paixão, morte e ressurreição, assim, os cristãos [católicos], hoje, acompanham os passos do Divino salvador, preparando devotamente a santa Páscoa.

A Quaresma é um tempo de Preparação Penitencial para a Páscoa, e tem dois momentos distintos: o primeiro vai da Quarta-feira de Cinzas até o Domingo de Ramos, e o segundo, como preparação imediata, vai do Domingo de Ramos à tarde de Quinta-feira Santa, quando se encerra então o tempo quaresmal. Aí começamos a celebrar o Solene Tríduo Pascal.

O tempo da Quaresma é um tempo privilegiado na vida da Igreja. É o chamado tempo forte, de conversão e de mudança de vida. Sua palavra-chave é: “metanóia”, ou seja, conversão. Nesse tempo se registram os grandes exercícios quaresmais: a prática da caridade e as obras de misericórdia. O jejum, a esmola e a oração são exercícios bíblicos até hoje recomendáveis na imitação da espiritualidade judaica.

[Trecho do artigo do Cardeal Dom Orani João Tempesta no site do Conselho Nacional dos Bispos do Brasil, fevereiro de 2014, com modificação].

Conselhos para a Quaresma :
O MELHOR JEJUM
• Jejum de palavras negativas e dizer palavras bondosas.
• Jejum de descontentamento e encher-se de gratidão.
• Jejum de raiva e encher-se com mansidão e paciência.
• Jejum de pessimismo e encher-se de esperança e otimismo.
• Jejum de preocupações e encher-se de confiança em Deus.
• Jejum de queixas e encher-se com as coisas simples da vida.
• Jejum de tensões e encher-se com orações.
• Jejum de amargura e tristeza e encher o coração de alegria.
• Jejum de egoísmo e encher-se com compaixão pelos outros.
• Jejum de falta de perdão e encher-se de reconciliação.
• Jejum de palavras e encher-se de silêncio para ouvir os outros.

Papa Francisco

No dialeto milanês, carnevale quer dizer “o tempo em que se tira o uso da carne” (do latim carnis levale: retirar a carne), já que o Carnaval é propriamente a noite anterior à Quarta-Feira de Cinzas, quando se inicia a Quaresma e a abstenção do consumo de carne vermelha em respeito ao Corpo de Cristo (segundo a tradição católica), além do jejum e domínio sobre os prazeres carnais.


 Procissão de Carnaval (século XIX), pintura de Adrien Moreau.
A Quaresma recomenda a abstinência ao sexo e às diversões, como o circo, teatro, banquetes, bailes etc.

O SACRO X O PROFANO:
A Igreja e o Carnaval

Do século IV ao VI, a Igreja Latina foi contra as festividades carnavalescas. Alguns dos maiores opositores foram Tertuliano, São Cipriano, São Clemente de Alexandria e o Papa Inocêncio II. Por isso a Quaresma foi estabelecida em 325, a fim de delimitar os festins pagãos, sobretudo a saturnália.

Porém, em 590, a Igreja permitiu que se fizessem desfiles e espetáculos cômicos nesse período. Foi então que houve a imposição de cerimônias oficiais sérias para conter a libertinagem. Mas esse tipo de festa batia de frente com a principal característica do carnaval: o riso, a brincadeira, paródia, sátira, irreverência, ousadia, crítica aos poderosos, transgressão dos costumes etc. E os populares sempre desobedeciam tais regras cristãs para brincar o carnaval libertário e libertino de antes.

O Papa Paulo II, no século XV, instituiu o baile de máscaras e permitiu em frente ao palácio papal, em Roma, desfile de carros alegóricos, a corrida de cavalos e até a "guerra" de ovos, água e farinha entre os populares.

Em 1545, através do Concílio de Trento, o carnaval foi reconhecido oficialmente como uma manifestação popular de rua.

Em 1582, o Papa Gregório XIII transformou o calendário juliano no gregoriano e estabeleceu as datas carnavalescas. O motivo da mobilidade da data é não coincidir com a Páscoa católica, que não pode ter data fixa para não coincidir com a Páscoa dos judeus.

O cálculo é um pouco complexo. Determina-se o equinócio da primavera, que ocorre entre os dias 21 e 22 de março no hemisfério norte. Observando a lua nova que antecede o equinócio, o primeiro domingo após o 14º dia de lua nova é o domingo de Páscoa. Como o primeiro dia da lua nova, antes de 21 de março, é entre 08 de março e 05 de abril, a Páscoa só pode ser entre 22 de março e 25 de abril. O domingo de carnaval é sempre no sétimo domingo que antecede ao domingo de Páscoa.

Fontes:


Na Europa do final da Idade Média, o Carnaval era conhecido como Festa dos Tolos ou Loucos. Em tais “mascaradas” (nome usado até hoje para os bailes de máscara) as pessoas se fantasiavam e brincavam nas ruas.


Os mais famosos carnavais estavam (ou ainda estão) nas cidades de Paris (a exemplo do Boeuf Gras: Boi Gordo), Veneza, Munique, Roma, Nápoles, Florença e Nice. Nos EUA, em Nova Orleans (trazido séculos depois pelos colonos franceses, onde é chamado de Mardi Gras: Terça-feira Gorda). Na Itália e na França, salões elegantes abrigam os foliões que se fantasiam e brincam a noite inteira. Muitas vezes, a farra chega às ruas, com bailes a céu aberto.


Mardi Gras em Nova Orleans, no Estado de Luisiana (EUA). O carnaval estadunidense é caracterizado por desfiles de carros alegóricos, pessoas fantasiadas e disputas por colares de contas coloridas.

O carnaval veneziano ainda apresenta o costume das fantasias de estilo clássico





O famoso Carnaval de Veneza é uma festa que antes tinha a duração de seis semanas. No final do séc. XVIII, foi abolido por Napoleão e só retornou em 1979. Atualmente tem a duração de 12 dias e atrai muitos turistas.







Festa na Taverna (c.1880), de Luis Ricardo Falero.

O ENTERRO DA SARDINHA (Entierro de la sardina) é uma festa popular espanhola e hispano-americana, que reúne pessoas fantasiadas e desfile de carros alegóricos, surgida em meados do século XVIII, quando um grupo de estudantes de Madri decidiu formar um cortejo liderado pela imagem de uma sardinha, representando o jejum e a abstinência durante na Quaresma - período no qual a fé católica recomenda não consumir carne (eis a presença da sardinha em substituição). A festa marca o final do Carnaval e a entrada da Quaresma, que ocorre em vários lugares da Espanha. O atrativo principal é o simbólico enterro de uma sardinha de papelão. O rosto do estandarte da pintura de Goya (à esquerda) parece representar a loucura.

Por volta do Renascimento (séculos XV e XVI), as pessoas começaram a se fantasiar de personagens da Commedia dell´Arte (o popular teatro burlesco italiano); surgiram os personagens Colombina, Arlequim, Pierrô, Polichinelo, Pantaleão, Mezzetino e outros.

Elenco da montagem de Don Pasquale (2015) do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Os figurinos são nitidamente inspirados na Commedia dell'Arte.

Incontável é a participação ou inspiração desses personagens em diversas obras ao longo do tempo, a exemplo da ópera. Desde, por exemplo, a ópera bufa italiana Don Pasquale, de 1843, de Gaetano Donizetti (Pasquale é ingênuo e explosivo como Pantaleone; Ernesto é o apaixonado, cândido e lírico Pierrot; Malatesta - note o engraçado significado literal em italiano: mala testa = cabeça ruim, maluco - fomenta intrigas como Scapino ou Arlecchino; e Norina é astuta e dissimulada como a bela Columbina) até a ópera séria ou trágica Pagliacci, de 1892, de Ruggero Leoncavallo.

A foto acima mostra o grande tenor espanhol Plácido Domingo interpretando, em Pagliacci, o triste palhaço Canio (típico Pierrô), chefe da trupe de comediantes, que é traído pela esposa, a jovem e bela Nedda (que interpreta a Colombina na companhia). Apesar de haver um ator que faz o Arlequim (Beppe), Nedda trai Canio com Silvio, jovem e sedutor aldeão calabrês (o verdadeiro Arlequim da história).

Na tradição do Carnaval de salão brasileiro, tais fantasias foram muito usadas até a década de 1960, e ainda persistem na folia.

Epítome Carnavalesca

O carnaval é uma festa que se originou na Grécia em meados dos anos 600 a 520 a.C.. Através dessa festa os gregos realizavam seus cultos em agradecimento aos deuses pela fertilidade do solo e pela produção. Posteriormente, os gregos e romanos inseriram bebidas e práticas sexuais na festa, tornando-a intolerável aos olhos da Igreja. Com o passar do tempo, o carnaval passou a ser uma comemoração adotada pela Igreja Católica, o que ocorreu de fato em 590 d.C. Até então, o carnaval era uma festa condenada pela Igreja por suas realizações em canto e dança, que aos olhos cristãos eram atos pecaminosos. A partir da adoção do carnaval por parte da Igreja, a festa passou a ser comemorada através de cultos oficiais, o que bania os “atos pecaminosos”. Tal modificação foi fortemente espantosa aos olhos do povo, já que fugia das reais origens da festa, como o festejo pela alegria e pelas conquistas. Em 1545, durante o Concílio de Trento, o carnaval voltou a ser uma festa popular.

(Gabriela Cabral - Equipe Brasil Escola)


Noite dos Mascarados 
Chico Buarque/1966
Para o musical Meu Refrão 

   Ele:   Quem é você?
   Ela:   Adivinhe, se gosta de mim
   Os dois: Hoje os dois mascarados
                    Procuram os seus namorados
                    Perguntando assim:
   Ele:   Quem é você, diga logo
   Ela:   Que eu quero saber o seu jogo
   Ele:   Que eu quero morrer no seu bloco
   Ela:   Que eu quero me arder no seu fogo
   Ele:   Eu sou seresteiro
              Poeta e cantor
   Ela:   O meu tempo inteiro
              Só zombo do amor
   Ele:   Eu tenho um pandeiro
   Ela:   Só quero um violão
   Ele:   Eu nado em dinheiro
   Ela:   Não tenho um tostão
             Fui porta-estandarte
             Não sei mais dançar
   Ele:   Eu, modéstia à parte
             Nasci pra sambar
   Ela:  Eu sou tão menina
   Ele:   Meu tempo passou
   Ela:   Eu sou Colombina
   Ele:   Eu sou Pierrot
   Os dois: Mas é carnaval
                    Não me diga mais quem é você
                    Amanhã, tudo volta ao normal
                    Deixe a festa acabar
                    Deixe o barco correr
                    Deixe o dia raiar
                    Que hoje eu sou
                    Da maneira que você me quer
                    O que você pedir
                    Eu lhe dou
                    Seja você quem for
                    Seja o que Deus quiser
                    Seja você quem for
                    Seja o que Deus quiser.


O Teatro Italiano (1717). Pintura de Jean-Antonie Watteau.

Fantasia de Mezzetino (1720-21). Pintura de Jean-Antonie Watteau.

Pierrô, Colombina e Arlequim (c.1883). Pintura de Léon Comerre.


Pierrô e Arlequim (Mardi Gras) (1888), de Paul Cézanne.

Abraço de Pierrot (c.1890), de Guillaume Seignac.

O MAIS ANTIGO TRIÂNGULO AMOROSO DO CARNAVAL:
Pierrô, Colombina e Arlequim

Pierrot e Colombina são conhecidas e tradicionais personagens do Carnaval. Sua origem remonta ao século XVI, quando na Itália eram comuns grupos de teatro populares, realizando apresentações pelas ruas, tendo como repertório peças de teatro improvisadas. São personagens de um estilo teatral conhecido como Commedia dell’Arte. Integrantes de uma trama cheia de sátira social, três papéis representam serviçais envolvidos em um triângulo amoroso: Pierrô ama Colombina, que ama Arlequim, que, por sua vez, também deseja Colombina. O estilo surgiu como alternativa à chamada Commedia Erudita, de inspiração literária, que apresentava atores falando em latim, naquela época uma língua já inacessível à maioria das pessoas. 

Assim, a história do trio enamorado sempre foi um autêntico entretenimento popular, de origem influenciada pelas brincadeiras de Carnaval. Apresentadas nas ruas e praças das cidades italianas, as histórias encenadas ironizavam a vida e os costumes dos poderosos de então. Para isso, entravam em cena muitos outros personagens, além dos três mais famosos.


Ainda hoje existem trupes de teatro desse estilo, aqueles famosos grupos que andavam em uma charrete, e improvisavam espetáculos pelas cidades que passavam, fazendo de seu veículo o próprio palco, e de suas vidas a própria arte.


Pierrot era o mais pobre dos personagens, vestia roupas feitas de sacos de farinha, tinha o rosto pintado de branco e não usava máscara. Vivia sofrendo o de amor pela Colombina. Por isso, era a vítima preferida das piadas em cena. Não foi à toa que sua atitude, sua vestimenta e sua maquiagem influenciaram todos os palhaços de circo


Já o Arlequim surgiu primeiramente com a função de divertir as pessoas durante os intervalos do espetáculo, porém foi ganhando expressão, chegando a fazer parte das estórias. No Brasil, a estória disseminada é a de que Pierrot, um sonhador, está perdidamente apaixonado por Colombina, uma moça simples, empregada de uma dama, e apaixonada por Arlequim. Arlequim era um espertalhão preguiçoso e insolente, que tentava convencer a todos da sua ingenuidade e estupidez. Depois de entrar em cena saltitando, deslocava-se pelo palco com passos de dança e um grande repertório de movimentos acrobáticos. Debochado, adorava pregar peças nos outros personagens e depois usava sua agilidade para escapar das confusões criadas. Outra de suas marcas-registradas era a roupa de losangos


Ambos disputam o amor de Colombina, uma serviçal tão bela e refinada quanto uma dama, sendo o pivô de um triângulo amoroso que ficaria famoso no mundo todo - de um lado, o apaixonado Pierrô; do outro, o malandro Arlequim. Para despertar o amor desse último, a romântica serviçal cantava e dançava graciosamente nos espetáculos.


Apesar de obedecerem a um enredo predefinido, as peças tinham a improvisação como ingrediente principal, exigindo grande disciplina e talento cômico dos atores, que precisavam responder rapidamente às novas piadas e situações criadas pelo colegas. As histórias tecidas ao redor dessas personagens influenciaram os festejos do nosso Carnaval, porém o sentido da arte e do romantismo se perdeu durante os anos.


Autor: Diego Vieira, Prof. da Universidade Federal do Ceará




Há registros escritos do Entrudo em Portugal desde de 1252, reinado de D. Afonso III.

Os portugueses trouxeram ao Brasil, já desde o século XVI, a prática dos foliões de rua jogar uns nos outros flores, farelos, polvilho, água misturada a polvilho etc. As principais cidades brasileiras carnavalescas sempre foram Rio de Janeiro, Salvador e Recife.

No Brasil esse "mundo invertido" do Entrudo era visto nas pessoas negras escravizadas e libertas mascaradas que podiam sujar e molhar pessoas brancas. Estas, em maioria, não saíam à rua nos dias do Entrudo, preferiam ficar em casa jogando limões-de-cheiro nos vizinhos.

No Brasil, o Carnaval foi introduzido pelos portugueses, sobretudo da Ilha da Madeira, Açores e Cabo Verde, provavelmente em 1723. Seu nome era Entrudo, palavra originária do latim, introitus, e que significa o período de introdução ou antecedência das solenidades litúrgicas da Quaresma.

Antes, porém, em 1641, o governador da capitania do Rio de Janeiro, Salvador Correia de Sá e Benevides, promoveu festividades dessa natureza em homenagem ao rei D. João IV: restaurador do trono de Portugal (que ficou por muitos anos sob o domínio espanhol).

Por volta de 1785, grandes festividades populares ocorreram na mesma cidade pela ocasião do casamento entre o futuro rei D. João VI e a infanta espanhola D. Carlota Joaquina.

Em 1641, o holandês Albert Eckhout imortalizou em imagem essa dança dos índios tapuias brasileiros no Nordeste. Os ritmos nativos são umas das raízes histórico-culturais do nosso carnaval.

O "CARNAVAL" KARIÓKA ANTES DO CARNAVAL CARIOCA
Índio não quer só apito, quer cauim!

... As cerimônias festivas, danças e cantos eram muito frequentes na cultura tupinambá. Eles conheciam diversos instrumentos musicais, como “marakás”, chocalhos feitos de cabaças, sementes ou pedras, além de flautas, tambores, pífanos, apitos. Usavam uma espécie de tornozeleira com guizos, ritmando os passos das danças com as músicas. Um dos mais importantes cronistas portugueses do século XVI, um senhor de engenho da Bahia chamado Gabriel Soares de Sousa, autor da obra “Tratado descritivo do Brasil” de 1587 ressaltou a fama que os tupinambás do Rio de Janeiro construíram notabilizando-se, segundo a avaliação deste, como os melhores dançarinos e músicos, entre todas as tribos tupis da costa brasileira.

Nessas ocasiões todos se apresentavam da melhor maneira, pintados e adornados de penas e chocalhos nos pés.

VIVA A BEBEDEIRA NOS DIAS DE CARNAVAL...

Os primeiros nativos cariocas, como os tupinambás, celebravam em grandes festejos eventos como vitórias em guerras contra outras tribos e bons resultados em caçadas e pescas:

“Os tupinambás dessas terras eram geralmente beberrões respeitados. Ao observar os tupinambás da Guanabara, Jean de Léry [chamado pelos tupinambás de Leríguaçu, Ostra Grande, pois era o termo tupi mais parecido sonoramente com o sobrenome desse francês: “lerí” - ostra + “guaçu” – grande] afirma que “nem o alemão, nem o flamengo, nem os soldados, nem o suíço; quer dizer, nenhum desses povos da França, que se dedicam tanto ao beber, vencerá os americanos nesta arte”. [Porém, existiam profundas diferenças no consumo do álcool na sociedade tupinambá em comparação com a nossa:] O cauim [kaûi: bebida fermentada, através de micro-organismos presentes na saliva humana, que poderia ser feita com diversos vegetais mascados, como milho nativo, caju, aipim ou mandioca, abacaxi ou ananás, buriti ou meriti, mangaba, banana, jabuticaba, batata nativa, jenipapo, pitanga, cajá, bacupari, araçá, cambuí, grumixama, pitomba, cambucá, maracujá e goiaba] era consumido morno e antes de tudo era uma bebida sagrada, destinada somente aos adultos pelas regras tribais. Crianças e rapazes eram terminantemente proibidos de sorver sequer uma gota do líquido. Mesmo os homens só passavam a consumir oficialmente o cauim após o casamento, o que acontecia regularmente depois dos 25 anos de idade.

[...]

[A participação de mulheres atraentes nas festas desde aquela época era fundamental] [...] as moças mais bonitas da tribo eram particularmente incentivadas a participarem da fabricação do cauim em detrimento das feias.

[...]

[As festas tupinambás antecederam o nosso carnaval de rua e de salão, que costumam durar três dias ou mais:] Na véspera do dia marcado para a festa, os convidados de outras tabas entravam na aldeia ornados de penas dançando e cantando. Com “marakás” em punho, rodeavam as malocas entoando seus cânticos toda noite sem cessar. No dia seguinte a festa começava para valer. Os anfitriões da maloca onde estava o cauim percorriam o resto da aldeia, passando pelas casas, convidando os vizinhos a beber com eles.

[...] As mulheres procuravam bebericar o que sobrava, para não deixar nem uma gota de cauim na tigela.

A felicidade aumentava à medida que mais cuias eram esvaziadas e, se o sabor daquela safra era aprovado, a empolgação aumentava. Improvisavam canções enquanto rodeavam a maloca remexendo com seus “marakás”, batendo com os pés no chão: “Ó vinho, ó, bom vinho! Jamais existiu outro igual! [...] Vamos beber dele à vontade. [...] Ó bebida que não dá preguiça! [canção registrada pelo religioso francês Yves d’Évreux, que visitou os tupinambás da Ilha do Maranhão, hoje São Luís (MA), em 1612].

Uma festa dessas podia durar vários dias, com música, dança, assovios e gritos durante o tempo todo da euforia [...].

Os festejos do cauim possuíram excessos que lembravam os bacanais greco-romanos e, é claro, o nosso carnaval popular:

[...] Durante esses dias ninguém se alimentava, sendo o tempo todo reservado apenas ao consumo da bebida. Às vezes, os homens chegavam a vomitar para logo depois continuarem a beber. Jean de Léry presenciou uma festa durante três dias e três noites e, mesmo depois de saciados e bêbados até mais não poder, “vomitavam (tudo) quanto tinham bebido e recomeçavam mais bem dispostos do que antes”. Diz o testemunho que os homens entravam como uma disputa em que “deixar a função” de beber era “em verdade expor-se a ser considerado efeminado”.

[...]

Como o teor alcoólico subia rapidamente entre homens e mulheres nessas ocasiões, a libido consequentemente também se elevava, momento em que muitas vezes reinava uma intensa sensualidade entre os convidados. Mesmo nessa época tão diferente e remota, os bêbados também costumam ser chatos. Com os ânimos inflamados, aconteciam rixas com frequência [...].

Fonte: SILVA, Rafael Freitas da. O Rio antes do Rio. Rio de Janeiro: Babilonia Cultural Editorial, 2015, 2ª ed., pp.27-33, com adições.

Gravura europeia do século XVI retratando uma dança ritual dos tupinambás.

JUREMA, A "BACANÁLIA CASTA" DOS NATIVOS BRASILEIROS

A Jurema é um antigo ritual de vários povos indígenas do Nordeste que ocorre entre janeiro e FEVEREIRO, e pode ter influenciado de alguma forma o nosso carnaval no seio do povo brasileiro mestiço. Podemos ver certa semelhança na parte do êxtase espiritual através do "vinho", e nos dias festivos com danças e músicas em transe, como os tíasos ou antigas bacanálias, porém, no caso dos nativos brasileiros, as finalidades do ritual são, dentre outras coisas, terapêuticas. O ritual é secreto para quem não é membro das tribos envolvidas, outra semelhança com os extintos "mistérios de Dionísio".

A palavra jurema vem da língua tupi Yu-r-ema (planta com espinhos). Segundo Câmara Cascudo é uma árvore espinhenta do sertão, da qual o gentio extraía um suco capaz de dar sono e êxtase a quem o ingeria. São plantas da família das leguminosas mimosáceas, que florescem no agreste e na caatinga do Nordeste brasileiro e cujas cascas, raízes e sementes são utilizadas em bebidas, banhos, remédios e defumadores para a cura de todos os males, tanto físicos como espirituais, sendo considerada, portanto, uma árvore sagrada. 

Existem várias espécies de jurema, sendo prática comum a utilização da jurema-preta (Mimosa hostilis benth) e da jurema-branca (Vitex agmus castus). A planta é chamada por uma série de outros “sobrenomes” como jurema-mirim, jurema de caboclo, jurema roxa. É uma planta amuleto repleta de poder e tradições de encantamento para os caboclos indígenas, assim como para mestres catimbozeiros e afro-descendentes.

Além do contexto botânico, o termo jurema tem pelo menos mais três significados: bebidas de uso medicinal ou místico, o “vinho da jurema”; uma cerimônia mágico-religiosa e uma entidade espiritual, a “cabocla”, divindade evocada em rituais indígenas e cultos afro-brasileiros, como o Catimbó e a Umbanda.

A bebida ou o vinho da jurema, feita com a casca do tronco da árvore, é bastante utilizada nos rituais religiosos do toré entre índios do Nordeste. Mesmos os grupos indígenas que não usam a bebida, referem-se à jurema como uma planta dotada de forças mágicas ou cósmicas.

Desde o século XVI, há registros feitos por viajantes e missionários, de manifestações mágico-religiosas entre os povos indígenas do sertão nordestino chamadas de adjunto da jurema. Eram reuniões secretas, onde se praticava uma dança coletiva tupi, com fins religiosos e terapêuticos, utilizando-se a bebida preparada com a jurema, o fumo e o cachimbo. No século XVII, há também relatos de holandeses em viagens pelo sertão nordestino sobre a cerimônia.

Ainda do século XVII e XVIII, registros disponíveis mostram que o vinho alucinógeno da jurema também era usado na região amazônica. Apesar dos registros existentes no início da colonização, não foi possível o conhecimento dos usos e significados da jurema, enquanto árvore sagrada, devido à resistência indígena no Nordeste.

De origem indígena, o ritual da jurema tem um caráter essencialmente mágico-curativo. É um culto de possessão, cuja ingestão da bebida permite um contato com os Mestres – entidades do “outro-mundo” que se manifestam como espíritos de antigos e importantes chefes do culto – que após a morte se encantam e podem incorporar nos juremeiros.

[...]

Atualmente, o culto da jurema é encontrado tanto no litoral como no interior do Nordeste, como prática mágica e religiosa. Sofreu diversas influências do universo afro-brasileiro, tornando-se um ritual praticado nos terreiros de candomblé, xangô e, principalmente, de umbanda.

Para os remanescentes indígenas, no entanto, apesar de sua difusão ritual ou simbólica em contextos não-indígenas, a jurema continua sendo segredo, bandeira ou símbolo.

Fonte: GASPAR, Lúcia. Jurema. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: 11 nov. 2015.

Batuque (século XIX), gravura de Rugendas documentando as danças e músicas dos escravos africanos que ajudaram a moldar o carnaval brasileiro.

Dia de Entrudo (Carnaval) (1823), de Jean-Baptiste Debret.

Os únicos preparativos do carnaval brasileiro consistem na fabricação dos limões de cheiro, atividade que ocupa toda a família do pequeno capitalista, da viúva pobre, da negra livre que se reúne a duas ou três amigas, e finalmente das negras das casas ricas que todas, com dois meses de antecedência e à força de economias, procuram constituir sua provisão de cera.

O limão de cheiro é um simulacro de laranja, frágil invólucro de cera de um quarto de linha de espessura e cuja transparência permite ver-se o volume de água que contém. A cor varia do branco ao vermelho e do amarelo ao verde; o tamanho é de uma laranja comum.

Quanto ao episódio aqui desenhado, eis a explicação: a cena se passa à porta de uma venda, instalada como de costume numa esquina.

A negra sacrifica tudo ao equilíbrio de seu cesto, já repleto de provisões que traz para seus senhores, enquanto o moleque, de seringa de lata na mão, joga um jato de água que inunda e provoca um último acidente nessa catástrofe carnavalesca.

Sentada à porta da venda, uma negra mais velha ainda, vendedora de limões e de polvilho, já enlambuzada, com seu tabuleiro nos joelhos, segura o dinheiro dos limões pagos adiantado, que um negrinho, tatuado voluntariamente com barro amarelo, escolhe, como campeão entusiasta das lutas em perspectiva.

Perto deste e da porta pequena da venda, outro negro, orgulhoso da vermelha traçada na testa, adquire um pacote de polvilho a um pequeno vendedor de nove a dez anos; em cima, uma negra dispõe-se a vingar com um limão o punhado de polvilho que lhe recobre a face e parte do olho; ao lado da mesma porta, outro negro, grotescamente tatuado, está de tocaia.

O vendeiro, tendo tirado precipitadamente todos os comestíveis que de costume expõe à sua porta, deixou tão somente garrafas cobertas de palha trançada, abanadores e vassouras.

No fundo do quadro podem-se a observar famílias tomadas da loucura do momento, uma vendedora ambulante de limões, negros lutando e um pacífico cidadão escondido atrás de seu guarda-chuva aberto e que circula por entre restos de limões de cera.

[Tradução do francês para o português do texto de Debret sobre a aquarela acima em "Voyage Pitoresque et Historique au Brésil ou Séjour d'un Artiste Français au Brésil" (Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil ou Estadia dum Artista Francês no Brasil), 1834-39]

Festa de Nossa Senhora do Rosário, 1831, de Rugendas.

Ao lado da direção da irmandade existe o “reino” ou “império”, com seu rei ou imperador, seus duques, seus marqueses e condes, escolhidos por ocasião das comemorações conhecidas pelo nome de “folia”. No Brasil, os “reis” e “imperadores” tem a missão de organizar os aspectos profanos das festas da irmandade. É, sobretudo, durante a festa anual da irmandade, no dia em que a igreja celebra o padroeiro, que a folia exibe com máximo orgulho os estandartes, as coroas, os cetros e outros ornamentos da realeza. Ao redor da igreja, onde ocorre a festa religiosa aparece barracas dos feirantes, músicos tocando, desocupados dançam e, ao som dos tambores e dos tantãs, se fazem reuniões das “nações” africanas do Rio de Janeiro. Esses batuques, considerados ruidosos e lascivos, não agradam e são mais ou menos disciplinados pela direção das irmandades. Com o desaparecimento das folias na segunda metade do século XIX pelo efeito das restrições da municipalidade, os costumes religiosos e profanos herdados da escravidão prosseguem numa semiclandestinidade ou transferem-se para outras datas do calendário litúrgico. Aquilo que, no início do século XX virá a ser o carnaval carioca mergulha parte de suas raízes nessas tradições.


Do século XVIII até a metade do século XIX, o Entrudo era uma festa de muita sujeira e “molhação”. Daí adveio o nome “bloco sujo” para os blocos de carnaval de rua atuais. Os populares (trabalhadores livres e até escravos) festejavam sujando-se uns aos outros com polvilho e farinha de trigo (era o famigerado “mela-mela”, termo ainda corrente em Recife), espirrando água pelas ruas - por vezes com suco ou sumo de limão e vinagre para fazer arder os olhos das vítimas - com o auxílio de uma enorme bisnaga de lata, ou atiravam qualquer outra coisa que tivessem à mão.

Jogos durante o Entrudo no Rio de Janeiro (1822), aquarela de Augustus Earle (inglês que visitou o Brasil junto com outros artistas e cientistas estrangeiros, a exemplo de Charles Darwin).

As famílias "brancas" (aristocracia e alta e média burguesia), refugiadas em suas casas ou estabelecimentos comerciais, brincavam o Carnaval fazendo guerras de limão-de-cheiro ou laranjinhas — pequenas bolas de cera que se quebravam espalhando água perfumada — ou, então, jogando de suas janelas águas “bem menos cheirosas” na cabeça dos passantes. Por isso muitas pessoas evitavam sair às ruas durante os dias do Entrudo.


Gravura retratando o Entrudo carioca do séc. XIX.

Isso fez com que os bailes de máscara (com batalhas apenas de flores e papel) realizados apenas para a aristocracia durante o Primeiro Império, fizessem muito sucesso. Por volta de 1840, a “classe média” (termo que só surgiu no século XX) também passou a participar de tais bailes.

Cena de Carnaval, O Minueto (séc. XVIII), pintura de Giovanni Domenico Tiepolo.

Um Baile de Carnaval (séc. XVII-XVIII), pintura de Pierre Bergaigne.


Gravura: Mascarada no Panteão em Oxford Street, Londres (1809).

Gravura retratando um baile de carnaval no Ópera de Paris (século XIX).


O Baile no Ópera de Paris (séc. XIX), pintura de Eugène-Charles-François Guérard.


Iniciaram os bailes pagos e feitos em teatros e hotéis no Rio de Janeiro, onde se dançava os schottisches, as mazurcas, polcas e valsas.

O Carnaval na Música Clássica, 
exemplos (compositor e obra):

Niccolò Paganini:

- O Carnaval de Veneza, Op. 10 - peça para violino e orquestra (1829):
(para ouvir) http://www.youtube.com/watch?v=u6S_1oXnWS4

Robert Schumann:

- Carnaval, Op. 9 - peças para piano solo (1834-35):
http://www.youtube.com/watch?v=HC_OGwx9KgI

- Faschingsschwank aus Wien (Brincadeira carnavalesca em Viena), Op. 26 - peças para piano solo (1839):
http://www.youtube.com/watch?v=o-zwJPY6hOg


Hector Berlioz:

- O Carnaval Romano, Op. 9 - abertura para orquestra (1843):
http://www.youtube.com/watch?v=4Xuntt5sEpM


Franz Liszt:

- Rapsódia Húngara nº 9, S. 244/9 em Mi Bemol Maior, "Carnaval na cidade de Peste" - peça para piano solo (1847): 

Em Veneza, e em outras cidades, ainda há bailes de carnaval (em palácios, casas de ópera, hotéis, teatros etc.), nos quais dançam músicas clássicas, como as valsas. 

Johann Strauss II:

Carnevalsbilder (Fotografias do carnaval), Op. 357 - valsa para orquestra baseada em melodias da opereta Carnaval em Roma (1873):
http://www.youtube.com/watch?v=hp8xzAFz7fg

Pyotr Ilyich Tchaikovsky:

- Fevereiro: Carnaval (em Dó Maior) - 2a peça da Suíte para Piano As Estações, Op. 37a ou 37b (1875), arranjo para orquestra de Aleksandr Gauk (1942): https://www.youtube.com/watch?v=onxe4g3PV-w

Camille Saint-Saëns:

- O Carnaval dos Animais (1886) - peças para dois pianos e outros instrumentos:
http://www.youtube.com/watch?v=5LOFhsksAYw

Antonín Dvořák:

- Carnaval, abertura de concerto, Op. 92, B. 169 - obra para orquestra (1891): http://www.youtube.com/watch?v=qYMpt5Lg3cw


Os escravos e seus descendentes entoavam e dançavam ritmos afro-brasileiros como o lundu, jongo, batuque e cateretê, os quais, junto com a modinha, o maxixe e o choro, geraram no início do século XX o samba e seus vários estilos (samba-canção, samba-enredo, samba-de-breque, partido-alto etc.).

O carnaval de rua, entretanto, quase não existia na 1ª metade do século XIX. Tudo à custa da violência que tinha o Entrudo.


Charge de jornal do séc. XIX.

Abaixo segue uma descrição da vida e costumes do Rio de Janeiro à época do nascimento do grande escritor Machado de Assis, em 1839, na qual ressalta-se a importância do antepassado do carnaval atual.

[...] Decorre a vida nos cafés da [rua] Ouvidor, então o ponto máximo da cidade e centro do comércio elegante, local de encontros ao cair da tarde, de exibições da moda - como o resto, vinda da Europa. A vida das sinhazinhas divide-se entre bailes e namoricos, feitos nos vaivéns das cartas de amor, levadas e trazidas por mucamas. Os acontecimentos máximos são ainda o entrudo, então festa grosseira e semibárbara e, para uns poucos, o teatro Lírico, com suas prima-donas importadas da França e da Itália. 

[ASSIS, Machado. Dados biográficos. In: Contos Fluminenses. São Paulo: Martin Claret, 2006, p. 204, com adição e modificação.]

Costuma-se dizer que o nascimento do carnaval moderno está ligado ao português José Nogueira, um sapateiro do Rio de Janeiro, estabelecido no Brasil na segunda metade do século XIX, que juntou os amigos na segunda-feira de carnaval e formou um barulhento bloco na rua São José (Centro). Na ocasião, os foliões trocaram o nome dele por Zé Pereira.

Outra fonte sobre a origem do "Zé Pereira", publicada pela extinta revista carioca Kosmos, em 1907: 

Chamava-se José Nóbrega de Azevedo Paredes, tinha a profissão de sapateiro e era de origem portuguesa. Foi o José Nóbrega quem, por uma tarde de nostalgias, numa segunda-feira de carnaval na Corte do império do Brasil, sob o reinado do sr. D. Pedro II, o formidável Zé P´reira [no lugar de "Paredes"] das folias minhotas. E teve êxito completo, foi um sucesso!

Toda a suja cidadezinha, esconsa e fedorenta, estremeceu ao ruído ritmado da estrondosa pandorga; e se o Nóbrega tinha pulso capaz de vencer um touro, melhor teve-o para zabumbar galhardamente no couro curtido dum boi. O sapateiro da rua São José, sem calcular o resultado da sua pândega nem prever a celebridade que o esperava, fez mais rápida escola com alegre barulhada dos bombos do que com a perícia da sua sovela.

De então em diante os Zé Pereiras surgiram às dúzias, aos centos. As sociedades agarraram-se-lhe com fervor e toda a doidice do Carnaval e animou-se com esse retumbante bater de tambores e bombos.


Fonte (com adição): https://peregrinacultural.wordpress.com/2011/02/21/o-carnaval-no-rio-de-americo-fluminense-texto-integral-revista-kosmos-1907/

Porém, tal denominação surgiu antes e foi trazida por imigrantes portugueses, pois se refere a grupos de festas populares e romarias do Norte de Portugal. Esses grupos desfilam pelas ruas tocando instrumentos de percussão - caixas de rufo, timbalões e bombos; assim como aerofones melódicos: pífaros e gaitas-de-foles. Em Ouro Preto (MG) ainda nos carnavais atuais desfilam pelas ruas zé-pereiras semelhantes à tradição portuguesa. Recife e Olinda (PE) são algumas das localidades brasileiras, onde bonecos parecidos são sempre vistos no carnaval




Para o Carnaval de 1869, o ator Correia Vasques adaptou uma peça teatral francesa - Les pompiers de Nanterre, ou seja, Os bombeiros de Nanterre - a uma encenação de sua autoria (burleta carnavalesca) dando a ela o nome, já popular na época, Pereira carnavalesco. A canção-tema caiu em domínio público e hoje possui duas versões:

E viva o Zé Pereira/Pois a ninguém faz mal/ E viva a bebedeira/Nos dias de Carnaval
OU
Viva o Zé Pereira/Que a ninguém faz mal/Viva o Zé Pereira/No dia do carnaval!

Alguns ainda cantam no último verso que é o rei do carnaval!

Assim, surgiu o protótipo da marcha-rancho ou marchinha de carnaval. Apareceu também o cordão ou rancho (bloco de rua organizado). Até então, todas as músicas eram instrumentais ou em outro idioma.

Arlequim (1918). Pintura de Clarence Kerr Chatterton.

A Intriga Noturna (c.1890), de Gaston de Latouche.



Carnaval em Roma (1852), pintura de Wilhelm Wider.


Carnaval em Roma (séc. XIX), pintura de Jose Benlliure y Gil.

La Mi-Carême: Terceira Quinta-feira da Quaresma (séc. XIX). Pintura de  Zuber Fritz Buhler. 


Obs: Mi-Carême (em meio à Quaresma) é uma festa popular pertencente ao carnaval parisiense, da qual adveio o nome da Micareta brasileira (carnaval fora de época, logo após a Páscoa, comum na Bahia e demais locais). A Mi-Carême original era uma espécie de "folga" na metade da casta Quaresma.


Foto de desfile dum carro alegórico do Boeuf Gras (Boi Gordo) na França. A festa é ouvida no ato final da famosa ópera La Traviata, de Verdi, contrastando, assim, a alegria do carnaval parisiense com a morte da personagem Violetta Valéry.

Ainda na segunda metade do século XIX, alguns jornalistas começaram a estimular a criação de carnavais que imitassem a sofisticação de Roma e Veneza, onde as pessoas saíam às ruas fantasiadas para tomar parte no corso (hoje desaparecido), que se consistia num desfile de carros ou carruagens com capota arriada e com foliões fantasiados atirando confetes e serpentinas no público.

Registro, inclusive fotográfico, da batalha de conferes em corso pela revista Kósmos, em 1907, no Rio de Janeiro: http://peregrinacultural.wordpress.com/2011/03/08/a-batalha-de-confete-de-1907-fotos-da-revista-kosmos/







Fotos acima do Carnaval em Veneza.

Le Bal masqué à l'opéra (1874). Pintura de Édouard Manet.

Le Bal de l'Opera (1886). Pintura de Henri Gervex.

"Barcarola" ("barcarole" em francês) é o nome comum dado às canções entoadas pelos gondoleiros de Veneza (Itália). Frederic Chopin compôs sua famosa Barcarola em Fá Sustenido Maior, Op 60, para piano solo, em 1845-46, após sua estada na inesquecível e eternamente alagada Cidade dos Amantes, durante o Carnaval.

Um dos jornalistas que defendeu ardorosamente essa forma civilizada de Carnaval foi José de Alencar. Ele expressou tal ideia em sua coluna do Jornal Mercantil do Rio às vésperas do Carnaval de 1855. Outros exemplos de letrados "anti-Entrudo": o poeta Gonçalves Dias e o dramaturgo Martins Pena. Foi assim, após a campanha jornalística aliada a constante ação repressora da polícia contra o violento Entrudo, que os desfiles de rua começaram a acontecer, além dos bailes restritos em hotéis, teatros, clubes, circos, palacetes e demais locais.

Na primeira metade do século XIX, surgiu o primeiro baile de máscaras, oficialmente falando, do Brasil. Aconteceu em frente ao extinto Hotel Itália, no Largo do Roccio, atual Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro-RJ.

AS PESTES E DOIS CARNAVAIS NO MESMO ANO

A partir do Carnaval 1851 tornou-se impossível proibir o carnaval. No ano anterior houve no Rio de Janeiro um grande surto de febre amarela no qual milhares de pessoas morreram. Os "Festejos a Momo" mais do que nunca representaram a celebração à vida.

Em 1892 o carnaval foi transferido, pela primeira vez, para junho, dito "carnaval de inverno". As autoridades acreditavam que o frio não permitia que doenças tropicais se disseminassem como faziam no calor do verão (em verdade, o que resolve é saneamento básico, campanhas de vacinação, limpeza urbana etc.).

Em 1912, houve a segunda transferência dos festejos para o meio do ano. Desta vez por causa do luto ao falecimento do chanceler Barão do Rio Branco, ocorrido 10 dias antes da Terça-Feira de Carnaval daquele ano. O povo jocoso não poupou o Presidente e Marechal Hermes da Fonseca nessa marchinha "Com a morte do barão/Tivemos dois carnavá/Ai que bom, ai que gostoso/Se morresse o marechá!" 

Em ambos os casos isso não funcionou como o planejado, os populares não respeitaram as determinações do governo e pularam o carnaval duas vezes nos anos mencionados.

A Festa de Nossa Senhora da Penha de antigamente, em outubro, poderia ser considerada um pré-carnaval carioca. A aglomeração ajudou a grassar a Gripe Espanhola em 1918. Foto dos anos 1950.

O carnaval de 1919 talvez tenha sido o mais retumbante e, infelizmente, mais repleto de abusos da história recente. Pois em 1918 o Brasil foi tomado pela Gripe Espanhola que matou c.15 mil pessoas. No ano seguinte, o povo extravasou: pessoas eram tiradas de casa à força para dançar nos cordões ou blocos de rua, somente na delegacia do bairro carioca Catete foram registrados dois mil defloramentos. Em novembro, nove meses depois, nasceram milhares de bebês apelidados de "os filhos da gripe". 

Notamos nessa modinha popular de duplo sentido o clima de "tolerância" que grassou no carnaval após a Gripe Espanhola:


Clubes carnavalescos como os Democráticos, Fenianos e Espanholados desfilavam em carros alegóricos enfeitados com alegorias de caveiras junto a arlequins e colombinas: referência à vitória da vida e alegria contra a morte trazida pela peste.



Em 1899, a compositora e maestrina Chiquinha Gonzaga criou a primeira música feita especialmente para o desfile de carnaval, Ô Abre Alas!. Esta havia sido composta para o cordão Rosas de Ouro. Era o início da tradição anual das marchinhas e dos concursos de música, fantasias, desfiles etc.

O jornalista e escritor carioca João do Rio registrou análises sobre os cordões carnavalescos, do início do século XX, e o próprio carnaval em uma de suas crônicas:

... O cordão é o carnaval, o cordão é vida delirante, o cordão é o último elo das religiões pagãs. Cada um desses pretos ululantes tem por sob a belbutina [tecido de algodão] e o reflexo discrômico das lantejoulas, tradições milenares; cada preta bêbada, desconjuntando nas tarlatanas [tecido encorpado e transparente, utilizado para forros] amarfanhadas os quadris largos, recorda o delírio das procissões em Biblos [hoje Jubayl ou Gebal (em árabe) cidade do Líbano às margens do Mediterrâneo] pela época da primavera e a fúria rábida das bacantes. Eu tenho vontade, quando os vejo passar zabumbando, chocalhando, berrando, arrastando a apoteose incomensurável do rumor, de os respeitar, entoando em seu louvor a “prosódia” clássica com as frases de Píndaro [poeta lírico grego de Tebas (c.522 a.C. - c.443 a.C.)] — salve grupos floridos, ramos floridos da vida...
[...]
Os cordões são os núcleos irredutíveis da folia carioca, brotam como um fulgor mais vivo e são antes de tudo bem do povo, bem da terra, bem da alma encantadora e bárbara do Rio.
[...]

Carnaval de rua carioca de 1962
No Rio de Janeiro, os blocos de carnaval de rua mais antigos ainda existentes são o Cordão do Bola Preta (que desfila no Centro) que surgiu em 1919 e atualmente atrai um milhão de foliões, e Fala meu Louro (que desfila em Santo Cristo) de 1938.

[...] Os cordões saíram dos templos! Ignoras a origem dos cordões? Pois eles vêm da festa de N. Senhora do Rosário, ainda nos tempos coloniais. Não sei por que os pretos gostam da N. Senhora do Rosário... Já naquele tempo gostavam e saíam pelas ruas vestidos de reis, de bichos, pajens, de guardas, tocando instrumentos africanos, e paravam em frente à casa do vice-rei a dançar e cantar. De uma feita, pediram ao vice-rei um dos escravos para fazer de rei. O homem recusou a lisonja que dignificava o servo, mas permitiu os folguedos. E estes folguedos ainda subsistem com simulacros de batalha, e quase transformados, nas cidades do interior.
[...]
[...] a origem dos cordões é o Afoxé africano [cortejo festivo dos negros iorubás], em que se debocha a religião.
[...]
[...] O cordão é o carnaval, é o último elo das religiões pagãs, é bem o conservador do sagrado dia do deboche ritual; o cordão é a nossa alma ardente, luxuriosa, triste, meio escrava e revoltosa, babando lascívia pelas mulheres e querendo maravilhar, fanfarrona, meiga, bárbara, lamentável.

[RIO, João do. Cordões. In: A alma encantadora das ruas: crônicas. São Paulo: Martin Claret, 2007, pp. 126, 127, 128, 130 e 134, com adições]

SOBRE MAIS INFORMAÇÕES HISTÓRICAS, HÁ UM ARTIGO DE ÉPOCA DA REVISTA KÓSMOS, ED. 1907, DE AMÉRICO FLUMINENSE:

http://peregrinacultural.wordpress.com/2011/02/21/o-carnaval-no-rio-de-americo-fluminense-texto-integral-revista-kosmos-1907/

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Ó ABRE ALAS
NÃO VENHAS!..., DOBRADO CARNAVALESCO


A pioneira marchinha de carnaval não conheceu publicação, como tal, em vida da compositora. Criada durante ensaio do cordão Rosa de Ouro no Andaraí, bairro na Zona Norte do Rio de Janeiro, onde residia a maestrina na ocasião, a despretensiosa marchinha foi inspirada no andamento do cordão, que sabemos utilizar a procissão religiosa como matriz.


Nascia ali, em fevereiro de 1899, a marchinha, um gênero novo que ainda prestaria grandes serviços ao carnaval carioca. Até então, a festa que viria a representar a nacionalidade brasileira não tinha música própria. Nos bailes mascarados dos salões, a elite dançava ao som de polcas, habaneras, quadrilhas, valsas e mazurcas, enfim, dos gêneros de dança de salão da época. Nas ruas, o povo se divertia com a percussão do zé-pereira, o som de baterias cadenciadas e canções reaproveitadas: cantigas de roda, hinos patrióticos, chulas, trechos de óperas, árias de operetas, fados lirós, quadrinhas musicadas na hora e até marcha fúnebre.


É certo que ranchos e cordões, na virada do século XIX para o XX, já se utilizavam de certas canções, inclusive um tipo de marcha apropriada no andamento, e bradavam também a palavra de ordem para abrir passagem na multidão.


Mas uma música especialmente concebida para a festa não ocorrera a nenhum compositor. Chiquinha Gonzaga fixou definitivamente o gênero ao criar a canção carnavalesca. Com isso ela se antecipou em 18 anos, pois só a partir de 1917 o carnaval passaria a ter música regularmente.


Carnaval de rua em São Paulo-SP, 1964

Incapaz de prever o que a posteridade reservava à sua singela marchinha, Chiquinha a incluiu na peça de costumes cariocas Não venhas!…, representada no Teatro Apolo em janeiro de 1904. Logo publicada por seu editor como ‘dobrado carnavalesco’, servia ao enredo da peça como o maxixe do cordão Terror dos Inocentes.


Só em 1939, quando a jornalista Mariza Lira preparava a primeira biografia da compositora, Ó abre alas foi publicada na sua integralidade, já reconhecida como pioneira.


Por décadas, a marchinha foi gravada, ora arranjada ora enxertada. Dos registros fonográficos mais curiosos estão a de Mário Pinheiro, Cordão carnavalesco (Flor do Enxofre Vermelho), para a Odeon Record, em 1905, e a da Banda da Casa Edison, arranjada pelo maestro regente Santos Bocot, em disco Odeon de 1911.


A primeira gravação da canção na íntegra foi feita pelas cantoras Linda e Dircinha Batista, em 1971, quando a memória coletiva já a consagrara como um clássico do cancioneiro brasileiro, como um pedido de passagem do “povo da lira” para a vitória – no carnaval e na vida.


A maestrina escreveu a marchinha também para pequena orquestra: piano e canto, 1º violino, 2º violino, contrabaixo, violoncelo, trombone, 1º e 2º trompetes, clarineta (si b).


A versão mais conhecida recebeu do público os versos "eu sou da Lira, não posso negar" e "Rosa de Ouro é que vai ganhar". Porém, a letra original, de 1899, é:


O abre alas
Eu quero passar
O abre alas
Eu quero passar


Rosa de Ouro
Não pode negar
Rosa de Ouro
Não pode negar

Fonte: http://www.chiquinhagonzaga.com/acervo/?musica=o-abre-alas&1595


Curiosidade: Para o carnaval de 1940, os compositores J. Piedade e Jorge Fáraj criaram a marcha-rancho Abre Alas utilizando, brevemente, o mesmo tema musical de Chiquinha Gonzaga, mas com letra distinta (paródia). A gravação teve a voz de Jaime Brito, na Odeon, em 25 de setembro de 1939, com lançamento em dezembro do mesmo ano. 


Para ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=4CTVXdcGyUU

Por volta de 1908, João do Rio registrou, em suas crônicas, outra paródia da marcha no "grito de guerra" de um dos cordões carnavalescos cariocas:

Oh! Abre alas!
Que eu quero passá
Estrela d'Alva
Do Carnavá!


Desfile de carnaval na rua, Rio 1951.
Fonte: http://especiais.ig.com.br/zoom/carnavais-de-antigamente/

Nazareth carnavalesco

(um exemplo de música feita para os ranchos de rua do início do século XX)

Ameno Resedá foi um conhecido rancho carnavalesco fundado em 1907. Resedá é uma flor ornamental nativa da Ásia (e também nome dum perfume) e comum na ilha de Paquetá, ilha-bairro carioca, onde o cordão foi idealizado. O nome "Ameno" talvez faça referência à marcha quase lenta em que desfilavam:

Ameno Resedá, polca publicada em 1913 pela Casa Arthur Napoleão (Sampaio, Araújo & Cia.), dedicada ao rancho carnavalesco de mesmo nome. Trata-se de uma das peças mais conhecidas de Nazareth. Foi gravada pela primeira vez pelo Grupo do Louro, em 1914.

Segundo o biógrafo Luiz Antonio de Almeida, o ex-carteiro Napoleão de Oliveira, em depoimento prestado ao Museu da Imagem e do Som-RJ, declarou o seguinte:

"Eu era carteiro na Rua do Ouvidor e o [Ernesto] Nazareth tocava na frente do Odeon. E eu saía do meu trabalho e sempre ficava ali escutando. Gostava daquelas músicas. Ele tocava muito bem piano. Ele era surdo (!). E eu cheguei perto dele e disse: - Maestro, eu faço parte de um grêmio, uma coisa pobre, de operário, gente de cor. E eu tinha vontade que o maestro fizesse uma musiquinha dedicada ao meu clube, uma recordação. Cheguei com humildade. Ele perguntou:

- Qual é o nome do clube?

Pegou um papel e escreveu (o nome do clube), e não disse mais nada. Então (eu disse) muito obrigado e ele continuou no piano.
Todo dia de tarde eu ia pra lá espiar... Ficar lá com ele... Ele me via lá de longe e continuava tocando... Um belo dia, eu cheguei e ele me chamou:
- Vem cá!

Abriu uma gaveta que tinha lá (perto do piano).

- Está aqui a música do seu clube, pode levar!...


Eu cheguei e entreguei ao Bonfiglio (de Oliveira). E foi nestas condições que ele escreveu. Ele era um grande pianista."


Para ouvir:

- Gravação original de 1914 pelo Grupo do Louro, Disco Casa Edison 120828: http://www.youtube.com/watch?v=7Q5hZZPHvaA

- Interpretação ao piano por Arthur Moreira Lima: http://www.youtube.com/watch?v=FWd95iDJdMk

***
Eis um autêntico samba carnavalesco para um cordão ou rancho de Ernesto Nazareth:

Comigo é na madeira, samba brasileiro mantido inédito durante a vida do compositor, e publicado em 2008 pelo portal Musica Brasilis. Durante algum tempo pensou-se que seu manuscrito estava incompleto, porém ele de fato está completo, com introdução, parte A e parte B. Provavelmente foi composto no final da década de 1920 [c.1929], sendo uma das últimas obras do compositor.

O título faz referência a uma expressão da época. Em entrevista ao biógrafo Luiz Antonio de Almeida, a atriz Henriqueta Brieba explicou-lhe ":

- Quando uma pessoa perguntava à outra: ' - Como vão as coisas?...' E se as coisas com esta não estivessem nada bem, respondia: ' - Ah... comigo é na madeira!...' Ou seja: está tudo ruim e eu só tenho é levado paulada.... ".





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O surgimento da indústria fonográfica, do cinema e do rádio contribuiu significativamente para a promoção da cultura carnavalesca (a exemplo dos filmes da Atlântida, e de Hollywood com Carmen Miranda, e dos concursos de marchinhas da Rádio Nacional).



Obs: A história da Música Popular Brasileira foi marcada pela presença de inúmeros festivais, promovidos por emissoras de rádio, redes de televisão, teatros e movimentos estudantis. Esses festivais cumpriram (e ainda o fazem na atualidade) a função de revelar intérpretes, compositores e instrumentistas ao grande público. 


Os mais antigos festivais foram os de música para o carnaval nos anos 1930, patrocinados pela Prefeitura do Rio de Janeiro ou por empresas comerciais, jornais e revistas.


Fonte: site do Dicionário Cravo Albin.

A MARCHINHA CARNAVALESCA

A marchinha carnavalesca é gênero musical caracterizado pelo compasso binário e raramente quaternário e com o primeiro tempo fortemente acentuado. Segundo o Dicionário Musical Brasileiro, "No Brasil a marcha popularizou-se nos blocos carnavalescos como marcha-rancho e marcha de salão e segue a fórmula introdução instrumental e estrofe-refrão." Já o musicólogo Renato Almeida saliente que apenas no Brasil a marcha passou de acompanhamento de passos militares a dança. Já no século XIX as marchas trazidas ao Rio de Janeiro por companhias teatrais portuguesas faziam sucesso.

"O abre alas" (de Chiquinha Gonzaga) deu a vitória ao cordão Rosa de Ouro no concurso de 1899. Essa marcha seria sucesso carnavalesco até 1910, e permaneceria nos anos seguintes como um hino de abertura do carnaval carioca. Em 1915, a marcha "A baratinha" de uma revista musical portuguesa obteve grande sucesso e foi lançada como canção carnavalesca três anos depois em gravação do cantor Baiano. A marcha carnavalesca começaria a se afirmar definitivamente a partir da década de 1920.

No início, grande parte das canções de carnaval, sobretudo dos anos 1900 aos 1930 (quando começaram a ser gravadas e depois difundidas nas rádios), carregavam um clima nostálgico, quase triste, pois muitas falavam da saudade do amor passageiro entre um casal num baile de carnaval (geralmente mascarados e fantasiados de pierrô e colombina, um sem conhecer a verdadeira identidade do outro), a exemplo da marcha "Confete", de David Nasser e Jota Júnior, na voz de Francisco Alves, que apesar de ser de 1951, representa o saudosismo das primeiras músicas carnavalescas. Para ouvir: https://www.youtube.com/watch?v=KMAk2OuX6FU

Desenvolveu-se como gênero característico da classe média carioca e sofreu em seu ritmo influências externas que vão desde o one-step ao charleston norte americano passando pela marcha portuguesa, além de incorporar boa parte do lirismo e do sentimentalismo de nossa modinha. Jocosas e espirituosas (vai com jeito vai / senão um dia / a casa cai, menina... "Vai com Jeito"), com sátiras políticas e sociais (Rio de Janeiro, cidade que me seduz / de dia falta água / de noite falta luz... "Vagalume") as marchinhas foram se popularizando mais e mais.

Baile no Teatro Municipal de São Paulo (1970).

Mesmo sem ter conseguido ainda um retorno ao seu tempo áureo, as marchinhas permanecem fazendo parte ativa no carnaval carioca, uma vez que não há bloco, novo ou antigo, que não desfile embalado pelos versos e pela melodia de uma antiga marchinha carnavalesca, cujos clássicos vão sendo repetidos ano após ano pelos foliões. E não custa lembrar que o hino oficial da cidade do Rio de Janeiro, "Cidade Maravilhosa", de André Filho, é na verdade uma marcha carnavalesca de exaltação.


Concursos dessas composições carnavalescas ainda são realizados todos os anos, e qualquer um, concorrendo ou não a um prêmio, pode escrever versos sob essa forma: em geral é produzir letras curtas, com rimas simples e refrão marcante (para que todos possam se lembrar da letra com facilidade) e abordar temas "do momento" ou comuns a qualquer um.


Este que vos escreve neste blog fez uma marchinha inspirado em pessoas próximas (tema jocoso). Marchinha essa que por coincidência leva o mesmo título de uma canção de Vinicius de Moraes e Toquinho:


MARIA-VAI-COM-AS-OUTRAS
(de Jenner Soares, fevereiro de 2010)


(refrão):
Ela é louca, ela é louca,
essa menina é maria-vai-com-as-outras...


Essa menina sai e não me diz aonde vai,
Aonde os outros vão, ela sempre vai atrás;
Eu sei que ela... vai pra boemia,
Ai, ai, meu Deus, toma conta da minha filha!


(refrão)


Você menina ainda tem muito que aprender,
Senão um dia pode se arrepender;
Tome cuidado com essa brincadeira,
Menina saideira é maria trepadeira!


(refrão)


Uma enquete feita pelo Segundo Caderno do jornal O Globo, com pessoas ligadas á cultura, elegeu a marcha Máscara negra (1966), de Zé Kéti e Pereira Matos, como a mais marcante de todos os tempos. Considerando que os anos de 1960 foram os últimos da "fase romântica ou áurea" do carnaval carioca, podemos dizer que é o "canto do cisne das marchinhas".

Comparáveis a ela, em beleza melódica, talvez só As Pastorinhas (1938), de João de Barro e Noel Rosa; Bandeira Branca (1970), de Max Nunes e Laércio Alves; e Rancho da Praça Onze (1965), de Roberto Kelly e Chico Anísio. As últimas duas na voz insuperável de Dalva de Oliveira (para ouvir Bandeira Branca: http://www.youtube.com/watch?v=1pJT6o4-B7o). Para ouvir As Pastorinhas, gravação original com Sílvio Caldas: http://www.youtube.com/watch?v=CKHDmNlHfs8).


Máscara Negra

Quanto riso! Oh! quanta alegria!
Mais de mil palhaços no salão.
Arlequim está chorando
Pelo amor da Colombina
No meio da multidão.


Foi bom te ver outra vez,
Está fazendo um ano,
Foi no carnaval que passou.
Eu sou aquele Pierrô
Que te abraçou e te beijou meu amor.


Na mesma máscara negra
Que esconde o teu rosto
Eu quero matar a saudade.


Vou beijar-te agora,
Não me leve a mal:
Hoje é carnaval.


Para ouvir na voz de Dalva de Oliveira: 



Ressaltam-se intérpretes como Carmen Miranda, Colé, Almirante, Mário Reis, Dalva de Oliveira, Silvio Caldas, Jorge Veiga, Joel e Gaúcho, Blecaute, Emilinha Borba, Linda e Dircinha Batista, Marlene, Alvarenga e Ranchinho, Anjos do Inferno, Demônios do Céu, Aracy de Almeida, Carmen Costa, Castro Barbosa, Cyro Monteiro, Francisco Alves, Jorge Goulart, Nuno Roland, Orlando Silva, Quatro Ases e Um Coringa, Vocalistas Tropicais, Trio de Ouro e outros que interpretavam, ao longo do século XX, as composições de João de Barro (Braguinha), Blecaute, Zé Kéti, Alberto Ribeiro, Noel Rosa, Mirabeau Pinheiro, Haroldo Lobo, Nássara, Klécius Caldas, Herivelto Martins, Armando Cavalcanti, Ary Barroso, Lamartine Babo e muitos outros. O último dos grandes compositores de marchinhas foi João Roberto Kelly.


Grandes intérpretes, o Trio de Ouro (formação de 1938 a 1950): 
Nilo Chagas (valete), Herivelto Martins (rei) e Dalva de Oliveira (dama).

Fontes: Wikipedia e site do Dicionário Cravo Albin

LISTA DE MARCHINHAS HISTÓRICAS, seus autores e ano de lançamento:

- Cantoras do Rádio (João de Barro, Alberto Ribeiro e Lamartine Babo_1936)
- GRAU DEZ (lamartine Babo e ary barroso, 1935)
- Dá nela (Ary Barroso_1930)
- Eu Dei (Ary Barroso, 1937)
- Seu Condutor (Alvarenga, Ranchinho e Herivelto Martins_1938)
- A-E-I-O-U (Lamartine Babo e Noel Rosa_1932)
- Marchinha Do Grande Galo (Lamartine Babo E Paulo Barbosa, 1936)
- História do Brasil (Lamartine Babo_1933)
- Lero-lero (Benedito Lacerda_Frazão_1941)
- Allah La Oh (Haroldo Lobo_Nássara_1940)
- MARCHA DA CUECA (Carlos Mendes / Livardo Alves / Sardinho, 1972)
- Mal-Me-Quer (Newton Teixeira e Cristovao de Alencar_1940)
- MARIA ESCANDALOSA (Klecius Caldas / Armando Cavalcanti, 1954)
- DAQUI NÃO SAIO (Paquito / Romeu Gentil , 1950)
- CORDÃO DOS PUXA-SACOS (Roberto Martins / Frazão, 1946)
- Vagalume (Vitor Simon e Fernando Martins, 1954)
- Vai Ver Que É (Carvalhinho_1958)
- UPA UPA (Meu Trolinho) (Ary Barroso, 1940)
- Marcha do Gago (Klecius Caldas e A. Cavalcanti_1950)
- MARIA SAPATÃO (Roberto Kelly / Don Carlos / Leleco, 1981)
- A Lua é Dos Namorados (Klécius Caldas_Armando Cavalcanti_1961)
- MÁSCARA NEGRA (Zé Keti-Pereira Mattos, 1966)
- Quem Sabe Sabe (Carvalhino e Joel de Almeida_1956)
- NÓS, OS CARECAS (Arlindo Marques Júnior e Roberto Roberti, 1942)
- Piada de Salão (Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, 1954)
- Cadê Zazá (Ari Monteiro e Roberto Martins 1948)
- TEM NEGO "BEBO" AÍ (Mirabeau Pinheiro e Ayrton Amorim, 1955)
- Tomara Que Chova (Paquito/Romeu Gentil, 1951)
- General da Banda (Blecaute_1950)
- TURMA DO FUNIL (Mirabeau, Milton de Oliveira e Urgel de Castro, 1956)
- YES, NÓS TEMOS BANANAS (Braguinha ou João de Barro / Alberto Ribeiro, 1937)
- VAI COM JEITO (Braguinha, 1956)
- Tem gato na tuba (João de Barro_Alberto Ribeiro_1948)
Touradas em Madrid (Braguinha_1937) 
- PRA VOCE GOSTAR DE MIM (TAÍ)! (Joubert de Carvalho, 1930)
- SASSARICANDO (Luiz Antônio, Zé Mário e Oldemar Magalhães, 1951)
- SACA-ROLHA (Zé da Zilda-Zilda do Zé-Waldir Machado, 1953)
- PIRATA DA PERNA DE PAU (Braguinha_Alberto Ribeiro_1947)
- PIERROT APAIXONADO (Noel Rosa-Heitor dos Prazeres, 1935)
- Marcha do Pintinho (Hilton Simões_1960)
- AS PASTORINHAS (Noel Rosa-Braguinha, 1938)
- O TEU CABELO NÃO NEGA (Lamartine Babo-Irmãos Valença, 1931)
- MULATA IÊ IÊ IÊ (João Roberto Kelly, 1964)
- ME DÁ UM DINHEIRO AÍ (Ivan, Homero e Glauco Ferreira, 1959)
- Confete (David Nasser_Jota Júnior_1950)
- MARCHA DO CORDÃO DO BOLA PRETA (Nelson Barbosa e Vicente Paiva, 1962)
- MARCHA DO REMADOR (Oldemar Magalhães_Antônio Almeida_1962)
- MAMÃE EU QUERO (Jararaca-Vicente Paiva, 1936)
- LINDA MORENA (Lamartine Babo, 1933)
- Coração de jacaré (J. Nunes e Dom Jorge_1967)
- A JARDINEIRA (Benedito Lacerda-Humberto Porto, 1938)
- ÍNDIO QUER APITO (Haroldo Lobo-Milton de Oliveira, 1960)
- Até Quarta Feira (Geraldo Pereira_Jorge de Castro_Roberto Paiva_1942)
- Bonde São Januário (Ataulfo Alves_Wilson Batista_1940)
- Zum-Zum (Paulo Soledade_Fernando Lobo_1951)
- Pó de Mico (Haroldo Lobo_Milton de Oliveira, 1962)
- Retrato do velho (Haroldo Lobo_Marino Pinto_1951)
- Serpentina (David Nasser_Haroldo Lobo_1950)
- COLOMBINA IÊ IÊ IÊ (João Roberto Kelly/David Nasser_1966)
- CHIQUITA BACANA (Braguinha-Alberto Ribeiro, 1949)
- CACHAÇA (Mirabeau Pinheiro-Lúcio de Castro-Heber Lobato, 1953)
- CABELEIRA DO ZEZÉ (João Roberto Kelly-Roberto Faissal, 1963)
- BANDEIRA BRANCA (Max Nunes-Laércio Alves, 1969)
- BALANCÊ (Braguinha-Alberto Ribeiro, 1936)
- Marcha do Caracol (Peterpan e Afonso Teixeira_1950)
- AURORA (Mário Lago-Roberto Roberti, 1940)
- Rancho da Praça Onze (José Roberto Kelly e Chico Anysio, 1965)
- Bota Camisinha (Chacrinha, c.1988)
- CIDADE MARAVILHOSA (André Filho, 1934)
- Maria Escandalosa (Klecius Caldas_Armando Cavalcanti_1954)
- Marcha da Quarta Feira de Cinzas (Carlos Lyra_Vinicius de Moraes_1963)
- A pipa do vovô (Ruth Amaral, 1989)

A época de ouro das marchinhas engloba os anos de 1930 aos de 1960.





 UMA SANTINHA NO CARNAVAL CARIOCA:
Odete Vidal de Oliveira, dita Odetinha (1930-39). A pequena carioca, filha de portugueses, era conhecida pela bondade e grande fé. Faleceu de doença infecciosa, aos 9 anos, e, desde então, diversos milagres são atribuídos à ela, que está em processo de beatificação pela Igreja Católica.

A foto prova que a "santinha" - fantasiada de marinheiro - gostava de brincar o carnaval do Rio de Janeiro, que em sua época, anos de 1930, era bem diferente dos tempos atuais.

Corsos, cordões e ranchos dos anos de 1910 aos de 1940:


 

 




 













anos de 1940 (fotos coloridas tiradas com câmera americana).

anos de 1940.

 anos de 1940.

anos de 1940.

Bloco de rua no centro do Rio (na calçada do Theatro Municipal, anos de 1940).

Bonde enfeitado feito carro alegórico no Bloco Unidos da Cidade, década de 1950 (fonte: http://raizdosamba.com.br/blog/index.php/tag/historia-do-carnaval/)

Seu Condutor, Dim-Dim!

O bonde também desempenhou um papel de destaque no reinado de Sua Majestade, o Rei Momo. Deslizando suave e lentamente sobre os trilhos, o bonde conduzia os carnavalescos entoando marchinhas e sambas, brincando nos assentos e estribos e dependurados nos balaustres, em meio às batalhas de confetes, serpentinas e lança-perfumes.

Segundo a cronista Eneida, a origem deste costume remonta a meados da década de [19]20, entre os moradores da Ponta do Caju. A partir daí essa prática se difundiu... O bonde do Leme, alugado pelos foliões de beira-mar, ia até o Centro, distribuindo prêmios aos mascarados mais originais. Já os da Zona Norte eram tomados de assalto pelos súditos de sua majestade... O bonde de São Januário e o bonde Alegria - temas de sucessos musicais - arrastavam em seu trajeto os cariocas, animavam os blocos e o carnaval ia circulando pela cidade.

Letras de música carnavalescas [a exemplo da marchinha, de 1938, "Seu Condutor", de Alvarenga, Ranchinho e Herivelto Martins] tratavam com carinho e malícia as linhas de carris, seus funcionários e passageiros, aproveitando como tema o anedotário popular.

[tercho do panfleto Bonde de Santa Teresa: um percurso do coração à memória. Secretaria de Transportes do Estado do Rio de Janeiro, 2012, com adições]

Bondes durante o carnaval no Centro do Rio, 1951 (fonte: http://raizdosamba.com.br/blog/index.php/tag/historia-do-carnaval/).

ORFEU CONDUZINDO O BONDE NO CARNAVAL

Trechos do filme Orfeu Negro ou Orfeu do Carnaval, filme ítalo-franco-brasileiro de 1959, dirigido por Marcel Camus e com roteiro adaptado por Camus e Jacques Viot a partir da peça teatral Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes. Música composta por Antônio Carlos Jobim, Luiz Bonfá, João Gilberto.

Ambientado e filmado no Rio de Janeiro, tema baseado na lenda grega da divindade musical Orfeu, adaptada a um ambiente brasileiro de meados do Século XX. No filme, Orfeu é o sambista Orfeu da Conceição (Breno Mello) e Eurídice (Marpessa Dawn) é uma jovem recém chegada do interior. O sambista Orfeu é, por profissão, um motorneiro. A profissão dada ao protagonista e a viva presença dos bondes no filme denota o intenso significado cultural desses veículos no Rio de Janeiro.

Dentre os bondes que vemos no decorrer do vídeo, o primeiro é um dos modelos que trafegavam em diversas regiões da Cidade (a vista do alto do Morro da Babilônia indica um trajeto fictício, mas o bonde é de verdade), depois vemos bondes do Bairro de Santa Teresa (único circuito que sobreviveu à extinção e funciona atualmente) passando sobre os Arcos e, em seguida, estacionados no antigo Dépot do extinto Morro de Santo Antônio.

http://www.youtube.com/watch?v=ZtDNtvAJOC0

A INVENÇÃO DO SAMBA

Estudando os ancestrais (fins do século XIX):
das senzalas às salas de concerto.

Muito provavelmente o nome SAMBA proveio de SEMBA, que é uma música típica dos nativos de Angola. Os escravos negros angolanos trouxeram o ritmo e a dança, esta é a "umbigada" (os parceiros devem encostar os ventres um no outro enquanto dançam).


Em 1886, o jovem maestro e compositor paulistano Alexandre Levy (1864-1892) foi à região de Rio Claro (SP) assistir uma dança de escravos de uma fazenda de café conhecida como "samba" ou "batuque de umbigada", em verdade um estilo de jongo. O músico gostou tanto do ritmo e melodia que inspirado neles compôs o quarto (e último) movimento de sua Suíte Brasileira (1890), obra de muito sucesso na época em que foi lançada. Graças a essa peça, temos uma noção de onde surgiu o termo e o estilo de dança e música popular que hoje conhecemos como samba.

Para ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=nZ7P5zgY820

Breve estudo sobre o jongo: http://www.afroasia.ufba.br/pdf/AA_40_SCMSouza.pdf


***
Um dos primeiros sambas gravados foi Pelo telefone, de 1917, criado por Donga e outros compositores*. Em 1929, surgiu a primeira escola de samba do Brasil, Deixa Falar, no bairro carioca do Estácio.

*O suposto primeiro samba da história carrega várias polêmicas. Uma delas, logo no início da letra há uma denúncia jocosa à corrupção nas autoridades policiais, as mesmas que reprimiam o samba e as comunidades carentes: em 1913, repórteres do jornal A Noite colocaram uma roleta no Largo da Carioca, para com isso mostrar que o chefe de polícia fazia vista grossa à jogatina. Outra polêmica questiona se "Pelo Telefone" foi o primeiro samba a ser gravado, e se Donga foi realmente o único autor da obra. Fonte: http://www.renatovivacqua.com/um-telefone-que-deu-o-que-falar.html

CARNAVAL E SAMBA:
Resistência e Reconhecimento da Cultura Afro-brasileira

Em 1929, a Deixa Falar se transformou na primeira escola de samba de que se tem notícia. O nome era uma brincadeira com o local onde os sambistas se reuniam: em frente a ele, havia uma escola de normalistas. Ismael Silva disse que, se lá era uma escola de professoras, ali onde estavam seria uma escola de samba [além disso, o fato de chamar-se "escola" e "grêmio recreativo" eram formas de arrefecer a repressão policial, que coibia as manifestações culturais nas favelas, consideradas malandragem, vagabundagem ou coisas de arruaceiros]. 

A partir daí, eles passaram a escolher todo ano um tema que definiria as fantasias e a música, como acontece hoje em dia. Assim, o Carnaval dos pobres foi ganhando a simpatia do resto da sociedade, de intelectuais e artistas, que nessa época começavam a se interessar pela cultura popular e passaram a frequentar essas reuniões de sambistas.


Mais tarde, até o próprio presidente da República, então Getúlio Vargas, preocupado em demonstrar interesse pelos pobres, resolveu reconhecer o evento e dar-lhe condições para se estruturar melhor. Desde então, a festa foi evoluindo até se tornar o Carnaval típico do Rio de Janeiro, hoje internacionalmente reconhecido.

Fonte: http://educacao.uol.com.br/folclore/carnaval---historia-igreja-reconheceu-a-festa-em-590-dc.jhtm


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Há também nesse período, segundo alguns pesquisadores como o professor e musicólogo Carlos Sandroni, uma transformação do samba fazendo com que este se "livrasse" de suas raízes ligadas ao maxixe e se tornasse o que veio a se tornar posteriormente. Ele atribuiu essa transformação a um grupo de sambistas cariocas do bairro do Estácio, dentre eles Ismael Silva. A professora Walnice Nogueira Galvão [...] conta que Donga, representante da primeira geração de sambistas, teria dito que Ismael não compunha sambas e sim marchas, e em resposta Ismael teria dito que Donga não fazia sambas e sim maxixes. Curioso assinalar que tanto as elaborações da primeira geração, que se deu predominantemente nas casas das famosas tias baianas na Praça Onze, quanto à da segunda geração, no início da década de 1930 no bairro do Estácio, se deram num espaço geográfico batizado por Heitor dos Prazeres como "pequena África do Rio de Janeiro".

[Trecho do artigo de Ricardo Moreno, professor de educação musical, ao jornal Pôr do Sol, dez. 2011, p. 13]

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A influência dos inventores do samba foi tão forte, que o pesquisador e professor da USP, Enrique Menezes, defende a tese que diz que até mesmo a bossa nova foi forjada, direta ou indiretamente, nos humildes morros cariocas e não em Ipanema (bairro de classe média alta). Afirma o Prof. Menezes:

Uma das coisas mais impressionantes e pouco lembrada nessa história toda é que o morro tem muitos, mas muitos “grandes sambistas”. Aonde você vai, encontra vários. Trabalhando em processo colaborativo e de certa forma anônimo, o samba já constitui uma tradição sólida que vem desde o final do século XIX, na qual um grande número de instrumentistas, cantores e compositores reconhecem e desenvolvem mutuamente seus trabalhos.

Inicialmente, são os ex-escravos recém libertos que tiveram que se virar sem a atenção do governo. Por isso, poderia escrever muitas páginas citando nomes e nomes de sambistas, tanto cantores quanto instrumentistas. Vou me contentar em lembrar apenas de mais alguns, conhecidos mas pouco ouvidos: entre os cantores, Ciro Monteiro, Geraldo Pereira e Araci de Almeida; entre os instrumentistas, o conjunto “gente do morro”, o “regional do canhoto” e os ritmistas do Estácio de Sá nos anos 1920.

Fonte: http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI339677-17770,00-A+ORIGEM+DA+BOSSA+NOVA+E+NO+MORRO+E+NAO+EM+IPANEMA+DEFENDE+PESQUISADOR.html

Componentes da escola de samba carioca Portela, em forma de bloco de rua, no dia 1º de março de 1970 (fonte: http://raizdosamba.com.br/blog/index.php/tag/historia-do-carnaval/)

PRAÇA ONZE, O BERÇO DO SAMBA

A Praça Onze é uma sub-região da Zona Central da cidade do Rio de Janeiro, cujo nome foi herdado de um antigo logradouro, hoje extinto.


A Praça Onze original e o antigo chafariz (c.1920).
A original Praça 11 de Junho (data da Batalha de Riachuelo, em 1865, na Guerra do Paraguai) existiu por mais de 150 anos até a década de 1940 e era delimitada pelas ruas de Santana (a leste), Marquês de Pombal (a oeste), Senador Euzébio (ao norte) e Visconde de Itaúna (ao sul). A princípio denominada de "Largo do Rocio Pequeno", tornou-se nas primeiras décadas do século XX, um dos locais mais cosmopolitas da então Capital Federal, ao abrigar famílias de imigrantes recém desembarcados. As etnias mais populares no entorno da Praça Onze eram os negros (na maioria oriundos da Bahia), seguidos pelos judeus de várias procedências. Portugueses, espanhóis e italianos também eram numerosos.


c.1920
Em 1810 D.João VI criou a "Cidade Nova", que ia do campo de Santana até São Cristóvão. Com ruas retilíneas e extensos lotes, muito se diferenciava da área central, congestionada de casas em lotes estreitos. Na mesma ocasião, o Rei criou uma praça onde começava o extenso mangal de São Diogo: o Largo do Rocio Pequeno, berço da Praça Onze de Junho.
Apesar de ser a única praça de comércio da Cidade Nova, continuou quase deserta por bom tempo, devido ao chão a sua volta ser muito pantanoso. Somente no começo do segundo Império, em 1842, o local recebeu algumas melhorias, sendo cordeada e ganhando um grande chafariz neoclássico em pedra, inaugurado em 1848, projeto do arquiteto da Missão Artística Francesa Auguste Henry Victor Grandjean de Montigny.


c.1928
O Barão de Mauá foi quem mais fez pelo progresso da área. Já em 1851 iniciou a construção de uma grande "Fábrica de Gás", num prédio neoclássico projetado nas proximidades da praça e que em sua maior parte ainda subsiste, sendo a atual sede da Companhia Estadual de Gás. Inaugurado em 1854, no mesmo ano era iniciada a obra do canal do mangue, pensada por Mauá como sendo a forma mais barata e inteligente de sanear aqueles chãos, bem como estabelecer no mesmo canal um sistema de hidrovias ligando o subúrbio ao Centro. Mal sabia Mauá que setenta anos antes, um alferes mineiro, ou melhor, Tiradentes, propusera coisa parecida ao então Vice-Rei Luís de Vasconsellos, sem ter tido sucesso. Em 1858, os trilhos da estrada de ferro da estação D. Pedro II cortava a Cidade Nova, ligando-a a vários subúrbios, tornando o projeto de hidrovias de Mauá obsoleto.


Escola pública (derrubada c.1938) que existia e fechava parte da Praça no sentido Zona Norte, ao fundo Canal do Mangue (c.1920).
Com a vitória das forças navais brasileiras contra a esquadra paraguaia em Riachuelo, a 11 de junho de 1865, a Câmara Municipal ordenou a mudança do nome do Largo do Rocio Pequeno para Praça Onze de Junho, em lembrança a nossa maior batalha em águas inimigas. Seis anos depois, a praça ganhou sua primeira escola pública. Por essa época várias fábricas e manufaturas haviam se estabelecido nas redondezas, atraídos pelas fáceis comunicações e pelo grande número de terrenos baratos, já que eram em áreas alagadiças. Logo em 1859 circulava a primeira linha de bondes pela Cidade Nova. Em 1872 outra linha de bondes torna o bairro a área mais bem servida de transportes coletivos. Em 1869, o mangue foi embelezado com palmeiras.


c.1928
Com a abolição da escravatura em 1888 e a Proclamação da República em 1889, os moradores de melhor nível social mudaram-se para os novos bairros da Zona Sul, deixando para a Cidade Nova enormes casarões desertos, logo ocupados por fábricas, casas-de-cômodos, cortiços e barracos. Pela proximidade das áreas portuária e central, pelos bons transportes coletivos e pela existência de muitas fábricas e manufaturas, o local foi escolhido para moradia de ex-escravos saídos das senzalas das fazendas do Vale do Paraíba.
Essa comunidade aglomerou-se em volta da Praça Onze, transformando-a em o primeiro gueto negro do Rio de Janeiro. Para lá, levaram sua cultura e arte, surgindo desse amálgama social o samba, canção e dança negra de cunho nitidamente urbano, feito nas senzalas e aprimorado na Praça Onze. Curiosamente, ainda em 1888 chegavam à Praça Onze grande leva de judeus imigrantes, sendo que um deles, Joseph Villiger, fundaria no mesmo local a primeira grande fábrica de cervejas do Rio: a Brahma.
Surgiu, portanto, da união de dois povos tão distintos, um casamento perfeito: samba com cerveja.

Morro de São Carlos: situado na região do Estácio e Cidade Nova, e relativamente próximo à Praça Onze, é considerado também um dos berços do samba e do carnaval moderno, pois foi onde surgiu a primeira escola de samba (Deixa Falar). A foto foi tirada em 1933, durante a vista do Prefeito Pedro Ernesto, político que sempre favoreceu a cultura popular carioca.
Na casa de uma negra baiana e respeitada macumbeira foram forjados muitos ritmos africanos. Tia Ciata, ou Assiata, como era conhecida, foi, talvez, a maior conhecedora de músicas e ritmos africanos daquela comunidade, de onde saíram sambas históricos e compositores de talento. Em 1926, depois de longa perseguição policial, alguns compositores locais fundaram uma "escola de samba", nome eufêmico de uma associação recreativa sem ser, na verdade, de fins educacionais. A primeira foi a "Deixa Falar", cuja divisão, anos depois resultaria em várias escolas "filhotes", como a Estácio de Sá, Mangueira e Portela.


Anos de 1930

Em 1933, o prefeito Pedro Ernesto Batista organizou o primeiro desfile oficial de Escolas de Samba da Praça Onze, de onde a Mangueira saiu vencedora. Os desfiles passaram a ser anuais, com grande afluência do público. Entretanto, em 1942, com a abertura da Avenida Presidente Vargas, a Praça Onze foi arrasada pelas obras, incluindo a transferência do belo chafariz de Grandjean para a Praça Afonso Vizeu, no Alto da Boa Vista.


1939
Da "morte" da praça original nasceu um samba inesquecível, campeão do carnaval de 1942:

Vão acabar com a Praça Onze,
Não vai haver mais escolas de samba (não vai)
Chora o tamborim!
Chora o morro inteiro!
Favela, salgueiro,
Mangueira, estação primeira,
Guardai os vossos pandeiros, guardai,
Porque a escola de samba não sai.

Adeus, minha Praça Onze, adeus,
Já sabemos, que vais desaparecer,
Leva contigo a nossa recordação,
Mas ficarás eternamente em nosso coração,
E algum dia, nova praça nós teremos,
E o teu passado cantaremos!

[Praça Onze, de Herivelto Martins. Para ouvir nas vozes do Trio de Ouro - formado inicialmente pelo próprio Herivelto, Dalva de Oliveira e Nilo Chagas - : https://www.youtube.com/watch?v=IwhhXeGzNec ]


Largo da praça às vésperas da demolição c.1940.

A Praça Onze de antigamente permaneceu viva na memória daqueles que a frequentaram, como prova a bela marchinha de Roberto Kelly e Chico Anísio, Rancho da Praça Onze (1965):

Esta é a Praça Onze tão querida
Do carnaval a própria vida
Tudo é sempre carnaval
Vamos ver desta Praça a poesia
E sempre em tom de alegria
Fazê-la internacional.

A Praça existe alegre ou triste
Em nossa imaginação
A Praça é nossa e como é nossa
No Rio quatrocentão.

Este é o meu Rio boa praça
Simbolizando nesta Praça
Tantas praças que ele tem
Vamos da Zona Norte a Zona Sul
Deixar a vida toda azul
Mostrar da vida o que faz bem
Praça Onze, Praça Onze.

[para ouvir na insuperável voz de Dalva de Oliveira: http://www.youtube.com/watch?v=tFNDqYTxeyc ].


Av. Pres. Vargas, inaugurada há poucos anos, na altura da Praça Onze, já sem o largo (anos de 1950).



Fotos da construção do caminho subterrâneo e da estação do metrô da Praça Onze (anos de 1970).
Apesar da destruição do local, a resistência cultural falou mais alto e a Cidade Nova nunca deixou de sediar os desfiles de samba, a não ser por curtos períodos. Por um bom tempo os desfile foram realizados na Avenida Presidente Vargas.


Desfile na av. Pres. Vargas, Rio, 1964 (fonte: http://raizdosamba.com.br/blog/index.php/tag/historia-do-carnaval/)

Depois de alguns anos, passaram para a Avenida Marquês de Sapucaí, no Catumbi. Foi nela que em 1983 se construiu a avenida dos desfiles, mais conhecida por Sambódromo, projetada por Oscar Niemeyer e inaugurada em março de 1984, com um desfile histórico, onde a Mangueira ganhou mais uma vez.

No local da velha Praça Onze de Junho, foi levantado em 1986 o monumento em bronze e cimento em homenagem à Zumbi dos Palmares, como lembrança da resistência cultural da comunidade negra que ali habitou e sobreviveu a todas as intervenções.




Monumento a Zumbi dos Palmares na Praça Onze atual.
Engolida pela Avenida Presidente Vargas, a Praça 11 de Junho diminuiu de tamanho, passando a ser um local de apresentações regulares de espetáculos de circo. Na década de 1970, foi inaugurada, na região, a estação Praça Onze do metrô. Entre 1983 e 1986, houve uma tentativa do governo estadual de Leonel Brizola de transformar o local em um espaço regularizado para vendedores ambulantes (camelódromo), mas o projeto não deu certo devido à distância do local em relação ao centro da cidade. O atual monumento a Zumbi dos Palmares situa-se em terreno que fazia parte da antiga Praça 11 de Junho.

Atualmente, a praça abriga um espaço para shows de música popular, o Terreirão do Samba.

A presença judia, síria e libanesa permanece próxima à praça, na tradicional região comercial da SAARA.
Com o tempo, sobretudo nos grandes centros urbanos, as marchinhas foram substituídas pelos sambas-enredo, e os cordões, ranchos, corsos e blocos de rua pelos desfiles das escolas de samba. Só recentemente houve o retorno à tradição das marchinhas e blocos de rua de iniciativa popular.

Fotos minhas do atual carnaval de rua carioca:

Álbum do Facebook:

Vídeos:
Marchinhas:
http://www.youtube.com/watch?v=NMeB9AVm89w


 OS IMORTAIS DA CULTURA CARNAVALESCA CARIOCA

Clóvis Bornay (1916-2005).
Era natural de Nova Friburgo (RJ), mas foi no Rio de Janeiro que se imortalizou como carnavalesco, estilista e modelo-manequim de fantasias de carnaval. Por ter ganho muitos concursos oficiais de fantasia, era hors concours (convidado de honra, não mais competia). Bornay, que também foi museólogo, ajudou a idealizar o 1º baile de gala carnavalesco do Theatro Municipal do Rio, em 1932 (tinha apenas 16 anos). Dedicou sua vida a mais de 70 carnavais.

João Clemente Jorge Trinta, 
dito Joãosinho Trinta (1933-2011).
Nasceu em São Luís (MA), mas foi na Cidade Maravilhosa que formou sua carreira de carnavalesco, quando mudou-se em 1951. No início, montou óperas no Theatro Municipal carioca, como "Aida" e "O Guarani". Ganhou desfiles nas escolas de samba (grupo especial) Salgueiro e Beija-Flor, nos anos de 1970 a 1980, e Viradouro, em 1997. Foi considerado "o gênio do carnaval".

José Bispo Clementino dos Santos,
dito Jamelão (1913-2008).
Esse carioca, nascido no bairro de São Cristóvão, foi considerado o maior cantor ou intérprete, dos desfiles de escola de samba, de todos os tempos (não gostava de ser chamado de "puxador", que para ele era quem puxa o carro alegórico). Ganhou o apelido do fruto, de casca escura e sabor doce (como era sua pele e voz). Seu nome está vinculado eternamente à escola Estação Primeira de Mangueira, a qual dedicou boa parte da existência (desde 1928, quando tinha 15 anos e tocava tamborim). Além de sambas-enredo, que também compunha, gravou canções, sobretudo românticas, de Ary Barroso, Lupicínio Rodrigues, Zé Keti, Cartola e tantos outros.

OS REIS DAS MARCHINHAS

Carlos Alberto Ferreira Braga, 
dito João de Barro ou Braguinha (1907-2006)

Nasceu na zona sul carioca, mas passou parte da vida no bairro de Vila Isabel, um dos berços do samba (onde o pai era dono de uma fábrica de tecidos). Na "terra de Noel Rosa", começou a ouvir, gostar e aprender a tocar e compor a "música do povo". Aos 22 anos, integrou o famoso Bando dos Tangarás - cantando, tocando e compondo - formado também por Almirante e Noel.

Durante os estudos de arquitetura, adotou o pseudônimo "João de Barro" (nome dum passarinho que constrói seu ninho com argila), já que os parentes não queriam ver o nome da família ligado ao mundo artístico (ainda discriminado na época).

Produziu e compôs para programas de rádio, TV e cinema; musicais teatrais e obras fonográficas, como as músicas infantis do Lobo Mau, D. Baratinha, Chapeuzinho Vermelho, Três Porquinhos etc. Compôs também Carinhoso (com Pixinguinha), Copacabana (com Alberto Ribeiro), Noites de Junho (com Alberto Ribeiro), Valsa da Despedida (versão de Auld Lang Syne), Sorri (versão de Smile, de Chaplin) e outros sucessos.

A partir da "Era de Ouro do Rádio" (dos anos de 1930 a 1960), a fama de compositor de marchinhas de carnaval despontou. É coautor e autor de sucessos inesquecíveis, como Touradas em Madrid (com Alberto Ribeiro), Pastorinhas (com Noel Rosa), Yes, nós temos bananas (com Alberto Ribeiro), Tem gato na tuba, Chiquita bacana, Pirata da perna de pau, Cantores do rádio (com Lamartine Babo e Alberto Ribeiro), Balancê (com Alberto Ribeiro) e Vai com jeito.

João Roberto Esteves Kelly (1938)

Nasceu no bairro carioca da Gamboa, que fica próximo ao Valongo (histórica zona portuária que recebeu os escravos africanos, sem os quais não haveria o samba). Estudou piano no Conservatório Brasileiro de Música, mas apesar da formação erudita, preferiu a música popular. Graduou-se em Direito, porém sempre dedicou-se à composição musical, inclusive para musicais no teatro, cinema e TV.

Logo aos 23 anos, teve sambas gravados por Elza Soares e Elizete Cardoso. Em 1963, lançou sua primeira marchinha de "sucesso eterno", Cabeleira do Zezé (em parceria com Roberto Faissal). Surgiram outras, como Joga a chave, meu amor, Mulata iê-iê-iê, Rancho da Praça Onze (com Chico Anísio), Colombina iê-iê-iê (com David Nasser), Maria Sapatão e Bota a camisinha (as duas gravadas por Chacrinha). Seu samba mais famoso provavelmente é Dança do bole-bole. Todos os anos, durante o período do carnaval, é relembrado e homenageado pelos fãs.

A partir do séc. XX, o uso do lança-perfume foi comum no calorento carnaval brasileiro. A intenção era esguichar o produto nos outros foliões causando uma sensação fria, agradável e perfumada (era a laranjinha em spray). Essa brincadeira foi, entretanto, dando lugar ao uso do lança-perfume como droga inalante, pois continha éter e clorofórmio, que causavam euforia e entorpecimento. Após vários casos de morte por parada cardíaca, o produto foi proibido no Brasil em 1937 (no entanto continuou largamente usado por algumas décadas). Fato parecido ocorreu antes com a cocaína, medicamento vendido nas farmácias. Como mostra o site: http://www.macacovelho.com.br/10-inacreditaveis-propagandas-de-cocaina-e-outras-drogas/
Clique na foto acima para ver os detalhes

"Baianas" na Central do Brasil (Rio) após o desfile de 1965.


Av. Rio Branco enfeitada para o carnaval dos anos de 1970.


Desfile na av. Pres. Antônio Carlos, Rio, 1974 (fonte: http://raizdosamba.com.br/blog/index.php/tag/historia-do-carnaval/)

Flagrante de baile em São Paulo, 1961 (fonte: http://raizdosamba.com.br/blog/index.php/tag/historia-do-carnaval/)

Desfile de escolas de samba na av. Pres. Antônio Carlos, Rio (c.1970).

Corrigindo: o último baile foi em 1974.

Desfile de fantasias no Theatro Municipal do Rio em 1971.

Baile do Theatro Municipal do Rio em 16 de fevereiro de 1971 (fonte: http://raizdosamba.com.br/blog/index.php/tag/historia-do-carnaval/)

O último baile no Municipal do Rio, 1974.

O Carnaval pode ser dividido em dois tipos distintos de manifestação: Feita pelas classes mais ricas nos bailes de salão, nas batalhas de confetes, nos corsos e desfiles de carros alegóricos; e feita pelas classes mais pobres nos maracatus, cordões, blocos, ranchos, frevos, troças, afoxés e escolas de samba.

O FREVO



A palavra Frevo nasceu da linguagem simples do povo e vem de "ferver", que as pessoas pronunciavam "frever". Significava fervura, efervescência, agitação. Frevo é uma música genuinamente pernambucana do fim do século XIX - acredita-se que sua origem vem das bandas de música, dobrados e polcas. Segundo alguns é a única composição popular no mundo onde a música nasce com a orquestração. Os passos da dança simbolizam uma mistura de danças de salão da Europa, incluindo passos de balé e dos cossacos.

A dança originou-se dos antigos desfiles quando era preciso que alguns capoeiristas fossem à frente, para defender os músicos das multidões, dançando ao ritmo dos dobrados. Assim nascia o Passo. Os dobrados das bandas geraram o Frevo, que foi assim chamado pela primeira vez em 12/02/1908, no Jornal Pequeno.


Pode-se dizer que o frevo é uma criação de compositores de música ligeira, especialmente para o Carnaval. No decorrer do tempo a música ganhou um gingado inconfundível de passos soltos e acrobáticos. A década de trinta foi um marco para dividir o ritmo em Frevo-de-Rua, Frevo-Canção e Frevo-de-Bloco.


Nos anos de 1930, com a popularização do ritmo pelas gravações em disco e sua transmissão pelos programas do rádio, convencionou-se dividir o frevo em FREVO-DE-RUA (quando puramente instrumental), FREVO-CANÇÃO, (este derivado da ária, tem uma introdução orquestral e andamento melódico, típico dos frevos de rua) e o FREVO-DE-BLOCO. Este último, executado por orquestra de madeiras e cordas (pau e cordas, como são popularmente conhecidas), é chamado pelos compositores mais tradicionais de marcha-de-bloco (Edgard Moraes, falecido em 1974), sendo característica dos "Blocos Carnavalescos Mistos" do Recife.


Vassourinhas é um frevo composto por Matias da Rocha e Joana Batista Ramos, para o Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas. O frevo foi composto pela dupla em 6 de janeiro de 1909 e vendido ao Clube Vassourinhas por três mil réis em 18 de novembro de 1910. É um frevo representativo do carnaval de Pernambuco. Pode ser considerada a música mais tocada nos carnavais das duas cidades irmãs (Recife e Olinda).

Fonte: http://www.arteducacao.pro.br/Cultura/frevo.htm


O MARACATU


Existem dois tipos de maracatu, o de Baque Virado, também conhecido como Maracatu Nação, e o de Baque Solto, também chamado de Maracatu Rural

O registro mais antigo que se tem sobre o Maracatu de Baque Virado data de 1711, mas sua origem é incerta. O que se sabe é que ele surgiu em Pernambuco e vem se transformando desde então.

A manifestação tem relação com o candomblé (religião de matriz africana) e com a coroação de escravos negros, antiga estratégia de dominação desse povo pelos colonizadores. O ritmo é marcado por instrumentos de percussão (tarol, zabumba e ganzas) e a dança se desenvolve num cortejo que conta com rei, rainha e toda uma corte simbólica. Já o Maracatu Rural não tem vínculo religioso e se associa ao folclore pernambucano

 As personagens principais dessa manifestação são os caboclos de lança, representados por trabalhadores rurais que com as mesmas mãos que cortam cana, lavram a terra e carregam peso, bordam suas fantasias e tocam o ritmo acelerado da música.

Texto modificado de http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-2/maracatu-676336.shtml

O maracatu é um ritmo tradicional do Nordeste do Brasil. Nas cidades Recife e Olinda, no coração do Estado de Pernambuco, o maracatu desenvolveu-se há mais de 400 anos da música e tradição dos escravos proveniente da África.

De saída do Porto Novo, os português exportavam do reino Dahomey com a capital Abomey (hoje Benin) membros das tribos das Fon, Nagô, Yoruba, Adja, Ewes e Minas. Com os escravos vem também os cultos do vudu (Orixá na língua Yoruba) para América do Sul.

A palavra "maracatu" denominava uma reunião barulhenta de homens negros ou mulatos e tinha uma denotação negativa. No tempo de carnaval, davam permissão aos escravos para expor ao público suas tradições e religião. Então eles celebravam a coroação de um rei e de uma rainha.

Vestidas com as roupas descartadas dos senhores e demais pessoas livres as integrantes do desfile formavam a corte: príncipe e princesa, duque e duquesa, barão e baronesa, embaixador, porta estandarte, porta sombrinha, batuqueiros, damas da corte e damas de passo, a primeira dama da corte, que, durante o desfiles, leva a boneca chamada Calunga, que simboliza as rainhas mortas.

Desde o século XVII, o maracatu é tocado mais ou menos como hoje: o gongue faz o ritmo; as caixas e tambores de guerra formam o tapete de ritmo com os ganzas, shekere e alfaias; os tambores de madeira fazem toques diferentes. Eis as variações do ritmo.

Texto modificado de http://www.maracatucolonia.de/PT/?historia_Maracatu

Apesar de existirem muitas visões, histórias e hipóteses diferentes, a explicação mais difundida entre os estudiosos a cerca da origem do Maracatu Nação é a de que ele teria surgido a partir das coroações e autos do Rei do Congo, prática implantada no Brasil supostamente pelos colonizadores portugueses e por consequência permitida e difundida pelos senhores de escravos.

Os eleitos como Rainhas e Reis do Congo eram lideranças políticas negras, intermediários entre o poder do Estado Colonial e as mulheres e homens de origem africana. Destas organizações teriam surgido muitas manifestações culturais populares que passaram a realizar encontros e rituais em torno dessas representações sociais, dando origem ao Maracatu de Baque Virado, que também estabeleceu ao longo dos anos em diversos “agrupamentos” uma forte ligação com a religiosidade do Candomblé ou Xangô Pernambucano.

Com a abolição da escravatura no Brasil, no fim do século XIX, o maracatu passou gradualmente a ser caracterizado como um fenômeno típico dos carnavais recifenses, como ocorreu com o frevo e outras manifestações folclóricas brasileiras.

Após um intenso processo de decadência dos maracatus de Recife durante quase todo o século XX, ocorreu nos anos 1990 o que podemos chamar de “Boom do Maracatu”. A prática adquiriu uma notoriedade que nunca havia conquistado antes, provavelmente resultado, entre outras coisas, da ação do Movimento Negro Unificado (MNU) junto à Nação Leão Coroado (uma das nações mais tradicionais de Recife), do movimento Mangue Beat (que teve como principais expoentes Chico Science e o grupo Nação Zumbi, a Banda Mestre Ambrósio, entre outros), e do grupo Nação Pernambuco (uma de suas principais marcas foi ter separado a dimensão da música e da dança da dimensão religiosa).

Nesse contexto o Maracatu de Baque Virado saiu de seu palco principal que é a cidade de Recife e chegou a diversos lugares do país e do mundo. Atualmente existem grupos percussivos que trabalham com elementos da Cultura do Maracatu Nação em quase todos os Estados brasileiros e em diversos países como Canadá, Inglaterra, França, Estados Unidos, Japão, Escócia, Alemanha, Espanha, entre outros.

Texto modificado de http://maracatu.org.br/o-maracatu/breve-historia/

MARACATU DO CHICO REI, 
DE FRANCISCO MIGNONE



Dança, música, religião e festa em prol da resistência da cultura popular afro-brasileira

É um balé com coro, “Maracatu de Chico Rei”, de 1933. De linguagem razoavelmente próxima a Falla e Respighi, com um bom tempero stravinskiano (“Petrushka” nunca está muito distante), o balé conta a história de um rei africano que, escravizado no Brasil, consegue alforriar sua tribo, integrante por integrante. A conquista é celebrada numa festa – o “Maracatu” – no qual há boa mistura de ritmos/ritos africanos e europeus (até dançam o minueto!).

A parte mais famosa da obra é a “Dança de Chico Rei e da Rainha N’Ginga”, centroavante do trio de ataque do time dos cavalos-de-batalha orquestrais brasileiros. Atente à formação: esta “Dança” de Mignone, o “Mourão” de Guerra-Peixe e o “Batuque” de Lorenzo Fernandez.

http://ilhaquadrada.com/mignone/maracatu-de-chico-rei/ (com modificação)

... uma tribo africana aprisionada em sua terra e mandada num navio negreiro para o Brasil. Aqui, os componentes da tribo foram vendidos como escravos em Minas. Mas o rei da tribo, que aqui recebera o nome de Chico, conseguiu com o seu trabalho, alforriar-se. Continuou trabalhando e alforriou sua mulher e juntos, continuaram libertando todos os membros restantes da tribo.

Foram esses libertos, a tribo de Chico-Rei, que formaram em Ouro Preto, a Confraria do Rosário, com seu trabalho e com seu dinheiro.Nos dias de festas, festas sempre misturadíssimas de catolicismo e fetichismo africano, os negros vinham em cortejo, dançando (Maracatu se chama no Nordeste, a esses cortejos coreográficos) até a igreja. Na frente desta havia uma pia, aí deixando o ouro que servia as despesas da construção.

O bailado, baseado nessa tradição histórica, apenas modifica esse final da tradição, fazendo o ouro deixado nesse dia, servir para alforriar seis membros da tribo, que ainda aparecem como escravos. Isso permite ainda o aparecimento de dois personagens brancos (com o seu séquito) o que trará mais diversidade e permite o emprego episódico e descansante de música de caráter Europeu.

Mário Morais de Andrade.

Movimentos do balé:

1. Bailado
2. Chegada do Maracatu
3. Dança das Macumbas
4. O Príncipe Dança
5. Dança dos três Macotas
6. Dança de Chico-Rei e da Rainha N'ginga
7. Dança do Príncipe Samba
8. Dança dos seis escravos
9. Dança dos Príncipes Brancos: Minueto-Gavota
10. Dança Final

http://esbuzz.net/trends/watch/vid88gzwLZf3MyRo

Para ouvir a peça "Dança de Chico-Rei e da Rainha N'ginga" (Orquesta Sinfônica de Campinas, regência de Victor Hugo Toro, Coro Contemporâneo de Campinas e Collegium Vocale Campinas): https://www.youtube.com/watch?v=XKEVvIGHWCE

O TRIO ELÉTRICO

Antigo trio elétrico

Assim é chamado o caminhão adaptado com aparelhos de sonorização para a apresentação de música ao vivo, através de alto-falantes, em que são executados samba, frevos e outros ritmos.

No começo de 1950 o Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas do Recife partiu à uma apresentação no Rio de Janeiro. Como a embarcação em que viajavam faria uma escala na capital baiana, a prefeitura convidou-os para realizarem uma apresentação enquanto esta durasse. 

Assim, no dia 31 de janeiro daquele ano realizam um desfile pelas ruas de Salvador, tudo ao som de uma fanfarra de 65 músicos. Porém, um incidente no qual um dos músicos pernambucanos se feriu fez com que o grupo interrompesse a apresentação. 

Vendo a animação com que o público reagira ao frevo pernambucano, e para suprir a frustração provocada pela interrupção do desfile, Antonio Adolfo Nascimento - Dodô - e seu amigo Osmar Álvares Macêdo adaptam uma "forbica" (calhambeque) ligando à bateria do automóvel um violão plugado a um alto-falante (um protótipo de guitarra elétrica). Estava, assim, instituída a dupla elétrica Dodô e Osmar.

Em 1951, com o apoio da fábrica de refrigerantes Fratelli Vita, incorporam mais um músico, Temistoles Aragão, que tocava um baixo (pau elétrico) fabricado por Dodô. Assim, Osmar mudou o nome de Dupla Elétrica para Trio Elétrico. Inaugurou-se, então, o nome com que foi imortalizado. 

Os trios se ampliaram, a partir da década de 1960, com o uso de caminhões cada vez maiores. Ligados a blocos identificados por camisões coloridos - as mortalhas - os grupos passam a se isolar dos demais foliões por meio de cordas de separação.

Fonte: Wikipedia.

O CLÓVIS OU BATE-BOLA


Embora tenha se tornado uma marca registrada dos Carnavais nos subúrbios, a tradição dos bate-bolas mascarados tem sua origem bem longe das zonas norte e oeste do Rio de Janeiro, trazida em parte pelos colonizadores portugueses e influenciada por outras festas, como a Folia de Reis.

"Eu trabalho com a hipótese de a nossa fantasia do Rio de Janeiro ser uma espécie de variação de fantasias europeias com origem em mitos celtas", diz Aline Gualda Pereira, pesquisadora do Instituto de Artes da Uerj e que há sete anos se dedica a estudar os bate-bolas.


"Até hoje essas fantasias existem em localidades mais ermas, por exemplo em Bragança, Portugal, e nas Astúrias (Espanha). Elas são derivadas dessas máscaras mais antigas, que teriam origem na mitologia celta" diz.


O outro nome pelo qual os bate-bolas são conhecidos, clóvis, também tem origem estrangeira, segunda a pesquisadora. A palavra seria uma corruptela de clown (palhaço, em inglês) e seria uma interpretação popular ao modo como técnicos estrangeiros teriam chamado os foliões no início do século XX [o falecido carnavalesco Fernando Pamplona afirmava que um locutor da Rádio Nacional, nos anos 1930, havia trocado a palavra inglesa "clown" por "clóvis" e assim o nome pegou].

"O bate-bola é produto de grupos de rapazes que se organizam para disputar o espaço das ruas. Esse tipo de diversão está mais ligado a uma atividade mais rural. Nós vemos personagens similares ao bate-bola em outros Carnavais, sempre ligados a um Carnaval menos urbano e mais rural", explica Luiz Felipe Ferreira, professor do Instituto de Artes da Uerj e coordenador do Centro de Referência do Carnaval.

Segundo Ferreira, a tradição encontrou terreno fértil no subúrbio do Rio, onde no início do século XX matadouros forneciam as bexigas de bois e porcos para produzir as primeiras bolas para a brincadeira.


Nos primórdios, a fantasia de clóvis se assemelhava muito com a roupa dos palhaços, mas usavam máscaras aterrorizantes. Batendo suas bexigas de boi, bastante fedorentas, os bate-bolas eram o terror da criançada.

Com o tempo, a indumentária foi incorporando novas características e, atualmente, os grupos de clóvis podem ser classificadas em diversos tipos, tais como "bola e bandeira", "leque e sombrinha", "sombrinha e boneco" entre outros.


Fonte (com adição): 



As formas dos festivos carnavalescos no Brasil variam muito de acordo com a localidade. Seguindo o desenvolvimento da sociedade de consumo, essa festa folclórica, como outras, foi sendo capitalizada. Caótico desde seu princípio, o Carnaval Brasileiro é também marcado pela divisão das classes sociais.





Atualmente, tanto nos desfiles das escolas de samba do Rio e de São Paulo, como nos festejos do Nordeste, tal divisão ficou um pouco mais sutil, o que tornou o Carnaval mais democrático. Mas ainda há lugares em que ela persiste. Na Bahia, por exemplo, só se pode desfilar em alguns blocos, quem tem dinheiro para pagar o abadá*. Os desfiles de escolas de samba do Rio passaram por um processo de “embranquecimento” e de comercialização. Os camarotes dos sambódromos do Rio e São Paulo são uma demonstração clara de tal divisão**.

*Abadá é um tipo de bata ou camisolão branco usado pelos muçulmanos que aqui aportaram como escravos. É uma palavra de origem africana, do yorubá, trazida pelos negros malês para a Bahia. Assim também é chamada, até hoje, a indumentária dos capoeiristas. É provável que essa bata que servia as orações também vestisse os jogadores da capoeira durante suas rodas. Existe a lenda de que capoeiristas usavam branco como forma de demonstrar suas habilidades: os melhores mestres da capoeira mantinham seus abadás impecáveis depois da luta. No Carnaval de 1993, o designer Pedrinho Da Rocha, o músico Durval Lelys, da Banda Asa de Águia, e o Bloco Carnavalesco Eva lançaram um novo tipo de fantasia para substituir as antigas mortalhas. Em homenagem ao Mestre Sena, antigo capoeirista e amigo, o designer batizou a nova fantasia de abadá que logo virou sucesso em todo o Brasil e terminou por popularizar essa palavra (Fonte: Wikipedia).

**Desde o início do carnaval no Rio de Janeiro (e no resto do Brasil), a divisão de classes sociais sempre foi evidente. No período colonial e parte do imperial, o anárquico Entrudo de rua era frequentado basicamente por escravos e pessoas livres pobres. As classes mais privilegiadas desfrutavam o período carnavalesco nas residências ou em espaços públicos restritos, como hotéis, teatros, clubes etc. No início do século XX, com a abertura da Avenida Central, no Centro do Rio de Janeiro, diversos cortiços e demais casas simples foram derrubados com o Morro do Castelo. A maior parte da população mais humilde, sobretudo os ex-escravos e seus descendentes, foram empurrados para as cercanias da Praça Onze, onde aconteciam os cordões, blocos e demais desfiles populares. A Avenida Central, hoje Rio Branco, foi destinada aos corsos e outros desfiles das classes privilegiadas. Nos anos 1930, o prefeito carioca Pedro Ernesto foi o principal responsável pela "desmarginalização" do carnaval dos populares, e a consequente aproximação entre os segmentos sociais no festejo, ao oficializar e organizar os primeiros desfiles das escolas de samba.  


O Carnaval Brasileiro se tornou um produto cultural de exportação produzido “para inglês e outros gringos verem”. Ele não apenas atrai turistas, mas também é encenado no estrangeiro tornando-se algo quase similar às franquias de fast-food (no lugar de lanchonetes estão baterias de escolas de samba e mulatas passistas). Vemos exemplos disso nos verões (a partir de julho) de Lisboa, Miami, Nova Iorque, Berlim, Madri, Tóquio e outras cidades; seja nas ruas ou em casas de espetáculo no estilo maide in Brazil.


O MARQUÊS MINEIRO QUE (dizem) NÃO GOSTAVA DO CARNAVAL CARIOCA E HOJE É SINÔNIMO DE SAMBÓDROMO

Araújo Viana, o Marquês de Sapucaí (do Tupi-Guarani sapucaia-i = rio do galo ou rio que grita. Afluente do Capivari no município de Campos do Jordão-SP. Fonte: Dicionário de Palavras Brasileiras de Origem Indígena – Clóvis Chiaradia), foi aristocrata, político e magistrado do final do Período Joanino ao Segundo Império.

Entre os cargos que ocupou estão o de ministro da fazenda e ministro da justiça, conselheiro de estado, deputado geral, presidente de província e senador de 1840 a 1875, eleito pela província de Minas Gerais. Ocupou a presidência do senado de 1851 a 1853. Foi designado mestre de literatura e ciências positivas do príncipe D. Pedro II, em 1839, e também cuidou da educação da Princesa Isabel. Foi ele também quem referendou a lei que dava aos senadores o solene tratamento de "Sua Excelência". Recebeu do imperador o título de visconde em 1854 e de marquês em 1872.

Seu nome, atualmente, é bastante conhecido por conta da avenida Marquês de Sapucaí, quando a antiga rua Bom Jardim, no bairro carioca Cidade Nova, trocou de nome. Hoje nela está a passarela Professor Darcy Ribeiro, o Sambódromo do Carnaval do Rio de Janeiro. A partir de então, por acolher todos os desfiles oficiais de escolas de samba no carnaval, o Marquês tem sido citado em inúmeros sambas de enredo.

Não sabemos se realmente Araújo Viana repudiava o carnaval. Provavelmente sim, porém lembramos que o carnaval popular de sua época, século XIX, era o Entrudo. O Marquês, homem de alta e severa educação e ordeiro (ligado à Justiça, um desembargador) dificilmente coadunaria com o caos, sujeira e baderna dos Dias de Momo. Talvez tenha simpatizado apenas com o carnaval europeu, na época de estudante de Leis em Portugal, e com os bailes carnavalescos organizados pela aristocracia brasileira.

MAIS DETALHES:

CÂNDIDO JOSÉ DE ARAÚJO VIANA, filho legítimo do Capitão-Mor Manoel de Araujo da Cunha e de D. Mariana Clara da Cunha, nasceu em Congonhas de Sabará, a 15 de setembro de 1793.

Foi provido pelo Conde de Palma, Governador e Capitão-General da capitania de Minas Gerais, no posto de 2º Ajudante das Ordenanças do termo da vila de Sabará. O Príncipe Regente D. João (futuro rei D. João VI) confirmou esse ato, assinando a respectiva patente, em 9 de fevereiro de 1815.
           
Estudou preparatórios em sua terra natal e, seguindo para Portugal, matriculou-se, a 15 de outubro de 1815, na Faculdade de Leis da Universidade de Coimbra, recebendo o grau de Bacharel, a 9 de junho de 1821.
           
Regressando ao Brasil, foi nomeado Juiz de Fora da cidade de Mariana, em decreto de 19 de dezembro de 1821, e Provedor da Fazenda dos Defuntos e Ausentes, Resíduos e Capelas da mesma cidade, em alvará de 23 de março do ano seguinte.

Em 11 de janeiro de 1839, foi nomeado mestre de literatura e de ciências positivas de D. Pedro II e de suas irmãs. Mais tarde, foi escolhido pelo Imperador para mestre de suas filhas, as Princesas Leopoldina e Isabel.

Em decreto de 14 de setembro de 1850, foi nomeado Conselheiro de Estado extraordinário, passando a ordinário, em decreto de 20 de agosto de 1859.

Araujo Viana foi Deputado pela província de Minas Gerais à Constituinte em 1823, 1ª legislatura (1826-1829), 2ª legislatura (1830-1833), 3ª legislatura (1834-1837), e 4ª legislatura (1838-1839). Exerceu o cargo de Senador pela mesma província de 1840 a 1875, havendo presidido o Senado de 4 de janeiro de 1851 a 7 de maio de 1854.

A 12 de dezembro de 1864, foi nomeado para servir de testemunha, por parte do Imperador, no casamento da Princesa Leopoldina, irmã mais nova da Princesa Isabel, com o Duque de Saxe.

Agraciado com o grau de Cavaleiro da Ordem de Cristo, em decreto de 12 de outubro de 1826, de Oficial da Ordem do Cruzeiro, em decreto de 23 de outubro de 1829, título do Conselho, em 29 de janeiro de 1833, Dignitário da Ordem do Cruzeiro, em 14 de março de 1860, os títulos de Visconde com grandeza, por decreto de 2 de dezembro de 1854, e Marquês, por decreto de 15 de outubro de 1872.

Foi igualmente agraciado com a Grã-Cruz da Ordem da Torre e Espada, de Portugal, e das Ordens de S. Januário, de Nápoles, e Ernestina, da Casa Ducal da Saxônia.
           
Araujo Viana foi um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tendo sido seu Presidente por mais de trinta anos.
           
Faleceu na cidade do Rio de Janeiro, no dia 23 de janeiro de 1875, e foi sepultado no Cemitério da Ordem de São Francisco de Paula, em Catumbi, curiosamente bem próximo à avenida que leva o nome dele e sedia o sambódromo carioca.

Impossível não ficar impressionado com a multiplicidade de funções desempenhadas pelo Marquês de Sapucahy. De acordo com o livro Nova Lima, ontem e hoje, de 2013, o mineiro ilustre “foi nomeado, em 1839, professor de literatura e ciências positivas de Dom Pedro II e suas irmãs e, mais tarde, para mestre das princesas suas filhas”. E mais: “Sua participação na vida política melhorou a instrução pública e o aprimoramento da direção científica do Museu Nacional (…) Era profundo latinista, versado em grego, hebraico e várias línguas europeias”.

O escritor Walter Taveira lembra que os feitos do marquês são infinitos, de grande influência no Império, em especial na economia, no período em que foi ministro das finanças, entre 1831 e 1834. No período da Regência, empreendeu uma grande reforma, propiciando a estabilização financeira ao Estado. O dedo do marquês esteve presente na decisão que permitiu a entrada no capital estrangeiro na mineração, reforma do correio e instituição do Selo Nacional.

Taveira explica que a ideia de escrever o livro partiu das poucas informações existentes sobre o Marquês de Sapucahy. “É fundamental lembrar que ele também foi poeta”. Autor do soneto “Saudades de minha filha”, considerado um dos mais belos da língua portuguesa.

Se estivesse vivo, talvez dissesse: "o povo carioca elevou-me na hierarquia nobiliária, de marquês coroaram-me rei... Momo".

Fontes de consulta: 

SAMBÓDROMO: 
O Caminho do Carnaval

A Passarela Professor Darcy Ribeiro, popularmente conhecida como Sambódromo -um neologismo brasileiro: samba + dromo ("caminho", em grego) - localiza-se na avenida Marquês de Sapucaí, na cidade do Rio de Janeiro. Foi construída propositalmente próxima aos berços do samba e carnaval atuais: a Praça Onze, os bairros do Estácio e Cidade Nova, e o Morro de São Carlos.

Antes os foliões se reuniam em grandes blocos que se espalhavam pela capital carioca, sendo que o primeiro desfile oficial só aconteceu em 1935, na Praça Onze, e lá permaneceu por 30 anos, até que foi transferido para a Avenida Presidente Vargas e depois para a Av. Marquês de Sapucaí, onde permanece lá até hoje.

O seu projeto, de autoria do arquiteto Oscar Niemeyer, foi implantado durante o primeiro governo de Leonel Brizola (1983-87), visando a dotar a cidade de um equipamento urbano permanente para a exibição do tradicional espetáculo do desfile das escolas de samba. Inaugurada em 1984, marcou o início do sistema de desfiles das escolas de samba em duas noites, tendo as escolas Mangueira e Portela arrebatado o público presente, sagrando-se, respectivamente, supercampeã e campeã naquele ano. sua estrutura, em peças pré-moldadas de concreto, possui 700 metros de comprimento e capacidade para c.75 mil pessoas.

Outros sambódromos surgiram em São Paulo, Manaus, Porto Alegre, Vitória, Florianópolis etc.


E antes que a "quarta-feira" chegue...
Epítome carnavalesca (com adições):

O DESFILE HISTÓRICO DO CARNAVAL CARIOCA:
CORTEJOS, CORDÕES, RANCHOS, CORSOS E ESCOLAS DE SAMBA

Os cortejos carnavalescos cariocas surgiram através das "sociedades", agremiações ou clubes que competiam em desfiles de alegorias, que geralmente satirizavam o governo. A primeira organização desse tipo surgiu em 1855 e chamava-se Congresso das Sumidades Carnavalescas. O autor José de Alencar foi um dos fundadores. Depois vieram a União Veneziana, Democráticos e outras que fizeram muito sucesso nos carnavais do Segundo Reinado, e ficavam à parte das brincadeiras de rua entre a população menos privilegiada. 

Em 1885, surgiram os Cordões, inspiradores dos blocos e escolas de samba. Eram formados por negros, mulatos e pessoas humildes em geral que tocavam instrumentos de percussão com músicas próprias. Cada Cordão era identificado por um estandarte e divulgavam, indiretamente, a cultura afro-brasileira (inclusive quanto a religião).

As associações católicas, formadas inclusive por famílias portuguesas e seus descendentes, criaram os Ranchos, que inicialmente desfilavam às ruas no Dia de Reis (6 de janeiro), como em Portugal, quando pessoas se fantasiavam de pastores e pastoras (lembram-se da velha marchinha "As pastorinhas"?) e saíam em procissão simulando ir a Belém para visitar o Menino Jesus. Esses ranchos possuem outras versões na festa folclórica da Folia ou Terno de Reis.

No início do século XX, com a inauguração da Avenida Central (atual Rio Branco), surgiram os Corsos: carruagens, carroças, automóveis (de capota aberta) ou caminhões, decorados ou não, que conduziam famílias ou outros grupos de foliões fantasiados pelas ruas do Centro. Os transportes eram acompanhados também por pedestres que faziam com os passageiros batalhas de confetes e serpentinas. Os corsos desapareceram com o aumento do trânsito nas grandes cidades.

Bailes nas casas de famílias mais abastadas eram muito mais comuns do que hoje. Em 1907, surgiu o primeiro baile infantil feito para matinês carnavalescas. Em 1909, organizou-se o primeiro concurso de fantasia num baile de carnaval. Somente os homens votavam e os vencedores ganhavam valiosas joias. Além da melhor fantasia, premiavam a mais bela mulher e a mais criativa dança.

O samba nasceu praticamente junto com as "escolas" no bairro (e favela) do Estácio, destino de muitos despejados do Castelo e outros morros arrasados pelo "progresso urbano". As notas eram mais longas e o andamento mais rápido do que os ritmos "amaxixados" anteriores. O samba (nesse caso, o "pai" dos sambas-enredo) foi criado para arrebanhar os foliões durante os desfiles do ainda bloco de carnaval Deixa Falar, fundado em agosto de 1927. A novidade estava na evidente marcação do surdo, criado por um ilustre morador do Estácio: Alcebíades Barcelos, o Bide.

Os compositores do bairro inventaram canções para esse novo movimento carnavalesco. Ismael Silva foi o primeiro a denominar o bloco de "escola de samba", devido ao prestígio dos sambistas serem chamados de "professores". Outra versão da origem do termo foi a existência de uma escola de normalistas no Largo do Estácio que servia de ponto de referência para os encontros dos "professores do samba".

Em 1929, a Deixa Falar foi a primeira escola a desfilar (ainda sem competir); mesmo ano em que surgiu a Estação Primeira (Mangueira). Em 1932, na Praça Onze, as escolas começaram a competir entre si em concurso promovido pelo jornal Mundo Sportivo, do jornalista Mário Filho. Devido a grande repercussão, o jornal O Globo assumiu o concurso no ano seguinte. Desde 1935, com Pedro Ernesto, a Prefeitura do Rio tomou a frente dos desfiles anuais.

A partir do início dos anos 1960, surgiu a hegemonia do "samba enredo" como música mais difundida pelos meio de comunicação de massa durante o carnaval (pela maior rentabilidade fonográfica e maior audiência no rádio e TV). As tradicionais marchinhas e demais canções populares carnavalescas ficaram de fora da "indústria cultural". Coube aos populares do carnaval de rua mantê-las na "memória coletiva".

Fonte com adições: Jornal A Relíquia. Rio de Janeiro: fev. 2015, pp.22-3.

Ordem Cronológica sobre acontecimentos relevantes sobre o Carnaval:

1723 – Imigrantes portugueses das ilhas da Madeira e dos Açores, introduzem o Entrudo no Brasil.

1767 – Construída a Casa da Ópera, primeiro teatro do Rio de Janeiro.

1840 – Primeiro baile carnavalesco aberto ao público, no Hotel Itália, Rio de Janeiro.

1848/1852 – José Paredes, imigrante português, sai às ruas tocando um bumbo, criando o Zé Pereira.

1855 – Fundado o Congresso das Sumidades Carnavalescas, surgindo a primeira sociedade carnavalesca, os Zuavos Carnavalescos, futuros Tenentes do Diabo, no Rio de Janeiro.

1862 – Henrique Fleiuss estampa na Semana Ilustrada desenho do rei Momo.

1878 – Surge a Sociedade Carnavalesca Boêmia, que introduz no carnaval carioca a fantasia chicard (qualidade do chic).

1888 – A princesa Isabel promove em Petrópolis, no carnaval, uma batalha de flores, assumindo publicamente posição contrária à escravidão. Acompanhada pelo marido e filhos, percorre a cidade em um carro aberto promovendo a arrecadação de donativos para a libertação de cativos.

1889 – Surge a Sociedade Carnavalesca Triunfo das Concubinas, primeiro cordão organizado do Rio de Janeiro.

1892 – Carnaval é transferido para junho por ordem do governo, que considera um mês mais saudável. Neste ano o carnaval foi comemorado duas vezes.

1897 – Trazidos da Europa, são introduzidos no carnaval brasileiro os confetes e as serpentinas (que logo depois passaram a ser confeccionados no país).

1899 – Ó Abre-Alas, composta por Chiquinha Gonzaga, é considerada a primeira música de carnaval.

1906 – Os desfiles de carnaval são transferidos da Rua do Ouvidor para a recém-aberta Avenida Central. Chega ao Brasil o lança-perfume.

1907 – Primeiro corso promovido na Avenida Central reúne 30 mil pessoas.

1908 – Primeiros filmes sobre o carnaval.

1912 – Transferido o carnaval para junho, por causa da morte do Barão do Rio Branco. Novamente dois carnavais no mesmo ano.

1917 – Pelo Telefone, de Mauro de Almeida e Donga, é o primeiro samba gravado.

1925 – Primeiro concurso de sambas e marchinhas, no Teatro de São Pedro, Rio de Janeiro.

1927 – A Gazeta de Notícias realiza a última batalha de confete.

1929 – Cartola, Carlos Cachaça e outros sambistas rebatizam o Bloco dos Arengueiros, chamando-o de Estação Primeira de Mangueira. Realizado no Engenho de Dentro, Rio de Janeiro, primeiro concurso informal de escolas de samba.

1932 – Getúlio Vargas comparece ao primeiro baile de carnaval do Teatro Municipal, no Rio de Janeiro.

1933 – Criada a Associação dos Ranchos Carnavalescos.

1935 – Primeiro concurso oficial de escolas de samba.

1937 – Proibido pelo governo o uso de lança-perfume.

1942 – Orson Welles filma o carnaval carioca.

1946 – Desfile das escolas de samba é organizado pela União Geral das Escolas de Samba, após o Departamento de Turismo da prefeitura negar a fazê-lo.

1949 – Primeira transmissão do carnaval carioca, pela Rádio Continental.

1950 – Dodô e Osmar inventam na Bahia, o duo elétrico, no carnaval seguinte, trio elétrico.

1958 – A ala dos Impossíveis, da Portela, lança os passos marcados.

1961 – Portela e Mangueira passam a cobrar ingressos para o público assistir aos ensaios de quadras.

1962 – Instituído o Dia Nacional do Samba.

1970 – Escolas de samba são obrigadas a enviar croquis de alegorias e fantasias aos censores do governo militar.

1971 – Instituído o tempo dos desfiles das escolas de samba.

1972 – Lei nº 2.079 cria a Riotur, empresa de turismo do Estado da Guanabara.

1981 – A Riotur institui concurso Zé Pereira, para estimular o carnaval de rua.

1984 – Inaugurado o Sambódromo do Rio de Janeiro.

1986 – Instalados relógios eletrônicos no Sambódromo para marcar o tempo do desfile.

1994 – Sambódromo do Rio de Janeiro é tombado como Patrimônio Cultural do Estado.


Recentemente, como foi dito antes, o carnaval de rua ou de iniciativa popular, em diversas localidades do Brasil, vive uma espécie de renascimento, talvez devido à nostalgia dos "antigos carnavais", que Lamartine Babo (1904-1963) bem definiu em uma de suas últimas marchas-rancho, Ressurreição dos Velhos Carnavais (gravação original na voz de Roberto Silva, de 1961):


Os clarins estão 
relembrando os nossos velhos carnavais;
arlequins sensuais 
amam colombinas dos pompons grenais;
passam na visão dos meus sonhos
os pierrôs tão tristonhos
a tocar bandolins entre "ais!",
implorando em vão
a ressurreição desses carnavais.


Vem, vem, vem Colombina sonhar;
Vem, vem que Pierrô vive a chorar
com ansiedade triste Pierrô
se transformou em saudade!


Vem, vem, vem Arlequim
que a tua sina
era adorar a Colombina
dos carnavais que não voltam mais!

https://www.youtube.com/watch?v=rAF1FY697d0

O Beijo (1886), de Auguste Toulmouche.


Fontes da Internet.

13 comentários:

  1. Esse blog é ótimo!
    gostei muuito!

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  2. obrigado Paulo,
    são pessoas como vc q me incentivam a continuar...
    conto com sua colaboração p divulgar o blog, é só postar o link onde quiser.

    grato eternamente.

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  3. Uma belissima aula de História do carnaval.Parabêns.

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  4. Gostei muito! Obrigada pelo link. Gosto da maneira como você usa a arte para ilustrar. Parabéns!

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  5. grato peregrinacultural conto com sua divulgação, volte sempre!

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  6. Aula da História do Carnaval mais completa que já vi!!Parabéns!!!

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    1. obrigado Zingara, continue conosco e se quiser divulgue o blog.

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  7. Olá jensoares! Encantada com seu blog! Sou pesquisadora sobre o Carnaval e necessito de contato com você para uma possivel entrevista. Você tem a Referência desse material? Grata!!!

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    1. Obrigado, Cris, as referências estão no próprio texto.

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